terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

PRAÇA TOMÉ DE SOUZA – 2

Na postagem anterior, tivemos oportunidade de acompanhar a evolução arquitetônica de um imóvel desde quando era uma simples casa de taipa de pilão até hoje, quando se transformou num verdadeiro palácio na acepção da palavra. Estamos nos referindo ao Palácio Rio Branco na Praça Tomé de Souza.
Do lado contrário dessa mesma praça, aconteceu o contrário. Isto é, tivemos uma involução arquitetônica, isto é, um movimento regressivo. Tínhamos desse lado o prédio da Biblioteca Pública de linhas harmoniosas e distintas que “enfrentava” de frente a imponência do grande palácio do outro lado, sem nenhuma vergonha de existir, isto é, sem nenhum desdouro.


Biblioteca Pública


Posteriormente, ao seu lado esquerdo, foi construído um prédio onde funcionava a Imprensa Oficial do Estado। Aí começou a “bagaceira no caminho da feira” como se diz popularmente। (Não encontramos melhor termo para expressar a situação) Algo parecido aconteceu na Praça Castro Alves. Lá foi uma substituição. O Teatro São João havia sido destruído por um incêndio e, no local, construíram o prédio onde hoje funciona o chamado “Palácio dos Esportes” que de palácio não tem nada. Aqui foi um acréscimo. Do lado esquerdo da biblioteca, construíram um prédio onde funcionava a Imprensa Oficial do Estado.

Se não temos uma foto do mesmo é bastante olhar para o “palácio dos esportes” para configurar sua presença na Praça Tomé de Souza. Simplesmente horrível, como dizíamos de relação ao da praça do poeta.
Mas, para não passar batido, em brancas nuvens, vamos nos valer de uma foto panorâmica da Cidade de Salvador, onde o referido edifício aparece por acaso. Ei-la:

Palácio dos Esportes

A praça ficou assim. Tão feia que o povo começou a chamá-la de Cemitério de Sucupira. Do lado direito, já não mais havia a Pastelaria Triunfo. No local foi instalada a agencia de um banco, como é até hoje:


Haja insensibilidade! Arquitetônica, é claro!


Este caso tem as mesmas feições e características de relação a construção de um prédio por uma emissora de rádio na Praça da Sé. Parece que agora, estão tentando corrigir.
Acho que o Bradesco, uma empresa extraordinária, também poderia fazer o mesmo. Mandaria eclodir esse caixão (após tirar todo o dinheiro de dentro) e construir um prédio a altura do local, parecido com aquele onde funcionou a Pastelaria Triunfo.
E para completar a festa, em 1986, a Prefeitura resolveu se mudar do Engenho Velho de Brotas para o Cemitério de Sucupira. Encomendou um caixão de vidro e metal a um famoso arquiteto, afirmando ser apenas por seis meses, enquanto alugava um imóvel no centro da cidade. Está lá até hoje, após decorridos 25 anos.
Sobre o assunto, tínhamos feito a seguinte postagem em outra oportunidade:

A SEDE DA PREFEITURA DE SALVADOR – UM CASO POLÊMICO

Na abertura desse blog, em suas justificativas de instalação, tivemos a ocasião de nos referir ao imóvel onde hoje está instalada a Prefeitura de Salvador. Uma obra futurista, isto é, ela quebra toda uma concepção do antigo e do tradicional.
Ela substituiu a antiga Biblioteca Pública que existia no local. O imóvel, juntamente com o da Imprensa Oficial, foram demolidos na década de 1970.


Antiga Biblioteca Pública



Prefeitura de Salvador


O que pouca gente sabe é que o projeto da nova Prefeitura de Salvador foi providenciado em caráter provisório para atender a uma emergência. Depois, seria substituido. Decorria o ano de 1986. O prefeito era o senhor Mario Kertz. O projetista o arquiteto João Filgueira Lima.

Era desejo da prefeitura transferir a sede do poder municipal do Engenho Velho de Brotas para um prédio próximo aos prédios que sediavam os demais poderes públicos. Enquanto não se encontrasse um imóvel adequado, seria construido, provisoriamente, um prédio na praça Municipal onde havia funcionado a Biblioteca Pública e a Imprensa Oficial. A empreitada foi entregue ao arquiteto João Filgueiras Lima que projetou um edifício de caráter provisório. E tão provisório era que o mesmo foi erguido em apenas 12 dias, menos de duas semanas. Foi inaugurado em 16 de maio de 1986. Este edificio provisório deveria permanecer no local, até o municipio decidir em qual casarão instalaria a Prefeitura em termos definitivos.

Neste contexto, o arquiteto propunha um prédio de volumetria simples, pós-moderno, de gabarito baixo, mas que permita que o passante admirasse tanto sua obra quanto continuasse admirando a paisagem da Baía de Todos os Santos. Seria apenas por seis meses, tempo suficiente para que a Prefeitura escolhesse o casarão para a sua instalação definitiva. Por causa de seu carater temporário, toda a sua estrutura é metálica e quase toda aparafusada, o que permitiria a sua montagem em qualquer outro lugar com a mesma finalidade pela qual foi encomendada ou para qualquer outra, uma escola, por exemplo.

Feita a mudança o imóvel continuou no local até o fim do seu mandato, bem como nos demais prefeitos que o sucederam. A promessa já dura 24 anos e deve se eternizar, apesar dos protestos de vários segmentos da sociedade.
Virou uma celeuma. Vale a pena registrar a defesa do arquiteto de sua obra em entrevista concedida a um dos jornais da cidade:
“Minha intenção era a de respeitar a volumetria e que de certa forma estabelecesse um diálogo com o Palácio do Rio Branco e valorizasse a Câmara. […] Apesar de ser um prédio transitório, ele respeita todas as questões urbanísticas que ainda defendo hoje. […] Hoje acho que o prédio não tem nada de errado. E se chegar a uma conclusão que está completamente errado, prejudicando todo o Centro da Cidade aí tem que tirar. Mas essa não pode ser uma avaliação feita por um juiz. Ou você acha que agora é um juiz que avalia toda a questão de urbanismo?”

As palavras acima merecem uma reflexão, principalmente quando o grande arquiteto diz que a sua obra “estabelece um diálogo com o Palácio Rio Branco”. Em nosso entendimento não respeita; já numa visão “futurista” isto pode ser verdadeiro.

De relação a citação de um que um determinado juiz fez uma intenvenção jurídica sobre a obra, vejamos um comentário sobre a entrevista concedida pelo juiz João Batista de Castro ao jornal A Tarde:

“Nesta mesma matéria, o jornal A Tarde (3) entrevistou o juiz João Batista de Castro autor de uma sentença que determina a retirada do prédio de Lelé da praça Municipal num prazo máximo de 6 meses, prazo este que venceria em março de 2005. Nesta entrevista, o juiz substituto da 7ª vara Federal da Bahia, explica os motivos de sua sentença, que foi baseada no Artigo 216 da Constituição Federal (Lei de proteção ao patrimônio histórico nacional) e no parecer de uma perícia realizada por profissionais das áreas de desenho industrial, arquitetura de interiores, arquitetura e programação visual, que atesta o carater provisório da obra e detecta que a volumetria do prédio é conflitante e concorrente com seu entorno”.

Briga de cachorro grande...

Nenhum comentário:

Postar um comentário