Recentemente
li uma publicação numa revista, dessas de bairro, no caso o da Graça, sobre a
figura de Caramuru ou Diogo Álvares Correia. Sua autora logo no principio
de seu escrito, usa uma frase da autoria do escritor Machado de Assis de que “a
lenda é melhor que a história autêntica”.
Claro, a lenda é sempre fantasiosa e a história é muitas vezes
cruel.
Com
base neste dito, dissemina-se a ideia de que Carumuru realmente existiu da
forma como se conta nas escolas, nos jornais e revistas. Não é verdade e
enfatizamos essa negativa numa postagem que publicamos em 8 de abril de 2011. O
seu teor mostras muitas verdades.
CARAMURU
Entre 1509 a 1511 uma expedição destinava-se as Índias e de passagem
pela Bahia uma nau, possivelmente francesa, naufraga na altura do Rio Vermelho,
precisamente no lugar hoje conhecido como Praia da Mariquita que em
tupi-guarani significa "naufrágio dos franceses"
Comenta-se que apenas sobreviveu um tripulante, Diogo Álvares Correia,
cidadão português nascido em Viana do Castelo, Portugal, em 1475। Faleceu em 1557 na
Bahia। Viveu, portanto 82 anos. Por aí já se conclui que, fisicamente, não era
um homem comum, desde que a expectativa de vida, àquela época, não passava dos
40 anos. O homem viveu o dobro. Sabe-se também que casou com a filha do cacique
Taparica, chefe dos índios Tupinambás por volta de 1528, casamento este
ocorrido na França. Antes ela foi batizada com nome de Catarina Álvares
Paraguaçu em homenagem à Catharina de Médici. (há quem diga que a homenagem foi
a Catarine des Ganches, mulher do capitão do navio que levou Diogo e Cataharina
à França). Após casados Diogo não teve pejo em apresentar sua esposa às cortes
da França e Portugal. Certíssimo, mas imaginem o furor que causou. Catharina
também não foi fácil. Deve ter enfrentado tudo e a todos com muita altivez.
Afinal de contas era uma princesa natural e devia ter total consciência de sua
importância. Deve ter também tido muita parcimônia com Diogo. O homem passou
uma “geral” em toda a tribo. Teve filhos com muitas nativas. Namorou até a irmã
de Catharina, a linda Moema que nem ela própria. Além de bonita, determinada,
tornou-se uma católica fervorosa. A construção da igreja foi uma de suas
determinações. Diz-se que teve um sonho que lhe sugeriu o feito, mas este é
mais uma das invenções dos “lendários de plantão” cujo maior expoente é o frade
José de Santa Rita Durão escritor daquela época (1781 ) Foi ele quem criou a
figura de Caramuru, 271 anos depois que o homem chegou à Bahia.
Pura lenda a qual de tanto ser contada, se tornou uma referência
histórica, quase uma verdade. Tem gente que diz, peremptoriamente, que
“Caramuru naufragou nas costas da Bahia em 1510”. Quem naufragou foi Diogo
Álvares Correia. A invenção de Caramuru é inverossímel e precisa ser contida.
Atirou num pássaro que passava perto. Tornou-se o “homem trovão” por causa
desse “feito”. O elmo que teria se vestido para combater os índios inimigos
comandados pelo cacique Sergipe é de uma ingenuidade assustadora. O homem
estava naufragando. Não podia estar munido com espingardas atiradoras à prova
da água do mar e tivesse ele um elmo; certamente que teria afundado nos mares
bravios do Rio Vermelho. A coisa é pesada!
Isto foi dito apenas num poema épico que nem o de Camões com suas
Lusíadas! Claro! Foi apenas um poema com determinado valor, mas em transformar
o que este frei escreveu numa realidade histórica para nossa juventude, não nos
parece certo. Recusamo-nos a fazer o mesmo. A aparição de Diogo por entre as
pedras que nem um caramuru; o combate aos índios adversários; a morte de seus
amigos, etc. etc. é inverossímil. Mais certo seria ter escrito que a nau apenas
encalhou nos recifes do Rio Vermelho; que toda tripulação saiu ilesa e armada;
que saiu atirando; que os índios se assustaram; depois esses mesmos homens
afugentaram índios inimigos que assaltavam a tribo local dias depois; que o
Cacique Taparica em reconhecimento deu a mão de sua filha mais velha à Diogo
Álvares Correira que passou a viver com ela, bem como seus companheiros que
também foram agraciados com lindas morenas.
Independente de tudo, o próprio poema deixa a muito a desejar. Vejamos alguns
tópicos do que escreveu o professor Theobaldo Miranda Santos: “Na partida do
litoral brasileiro, ocorre a cena mais famosa de Caramuru: jovens indígenas
apaixonadas pelo "filho do trovão" nadam em desespero atrás do navio,
suplicando que o herói não se fosse. Em certo momento, já debilitadas resolvem
retornar à terra. Uma indígena, entretanto, prefere morrer a perder de vista o
homem branco. É Moema, que vai perecer tragada pelas ondas:
“Como o tema era pobre em demasia, Santa Rita Durão enche os dez cantos do
Caramuru com "guerras, visões da história do Brasil dos séculos XVI a
XVIII, viagens, festas na Corte, etc." O resultado dessa mistura é uma
obra prolixa, onde os episódios se atropelam sem unidade, dissolvendo qualquer
possibilidade de significado épico".
"Trata-se de uma epopéia anacrônica, escrita por alguém que, vivendo longe
do Brasil desde a infância, armazena toda a bibliografia existente a respeito
de sua terra. Ele quer conferir ao Caramuru uma atmosfera fidedigna e objetiva,
o que infelizmente não consegue. “ A descrição da "doce Paraguaçu",
por exemplo, contraria todo o princípio da realidade fisionômica e da cor dos
indígenas".
Ela é sem dúvida uma moça branca: Paraguaçu gentil
(tal nome teve), Bem diversa de gente tão nojosa, De cor tão alva como a branca
neve, E donde não é neve, era de rosa; O nariz natural, boca mui breve, Olhos
de bela luz, testa espaçosa.
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