O Bugari de hoje - sem as barracas
Está todo mundo falando e muito. "Tiraram as barracas de praia de Salvador". Na Cidade Baixa, no trecho entre a Penha e o Bugari, não ficou uma para contar história. História? Sim. As barracas de praia têm uma história. Pelo menos história comercial! Era um negócio que proporcionava rendimento a milhares de pessoas, tanto aos seus proprietários quanto aos funcionários. Por outro lado ainda, era um grande canal de consumo que proporcionava às indústrias de cerveja e refrigerantes, por exemplo, altos rendimentos, inclusive à Prefeitura através dos impostos.
Bugari como era antes - Imagem via satélite do Google Earth
Ainda mais, as barracas de praia de Salvador eram tradicionais. Surgiram nos meados do século passado. Caracterizavam de forma muito singular as nossas praias. O soteropolitano estava acostumado a elas. Formou-se um hábito. Quem ia à praia, passava na barraca. Tomava-se uma cerveja, acompanhado de um acarajé das Baianas que sempre estavam próximas e depois “acontecia” o banho de mar, quando acontecia, desde que muita gente, se restringia aos comes e bebes.
Hoje o soteropolitano não sabe nem como faz. Sente-se um "deslocamento". Poder-se-ia dizer, quase um mal estar. Nossa orla não estava preparada para uma outra alternativa como existe, por exemplo, no Rio de Janeiro, em Copacabana, com a série de barres no calçadão.
Falamos acima em nossas Baianas. Estas também estão sofrendo as conseqüências da extinção das barracas. Elas como que se integravam ao ambiente como um todo. Ficavam próximas.
Em consequência, e não era para se esperar outra coisa, os ex-barraqueiros e mesmo os ex-funcionários, estão improvisando aqueles horríveis isopores protegidos por um guarda-sol já usado, o que está tornando a paisagem de nossas praias um tanto quanto breguíssima.
Por outro lado, enquanto se tiram as barracas, deixam-se as mesas e cadeiras das empresas de bebidas onde sempre elas estiveram, isto é, ocupando o espaço dos banhistas que foi um dos motivos de sua retirada e com o passar do tempo, certamente, não diriamos que voltarão as barracas, mas sem dúvida, estabeleciará algo bem pior do que elas próprias. Aliás, já está acontecendo! É só olhar. Os isopores estão se juntando como que num aglomerado e se faz uma só cobertura.
Já deram um jeito!É próprio do brasileiro!
Sinceramente, não foi legal a forma como a coisa foi feita. Era necessário, quase obrigatório, antes da demolição, que se apresentasse uma alternativa de negócio aos barraqueiros. Vamos demolir as barracas, mas vocês poderão continuar desta ou daquela maneira. Qualquer maneira! No Rio estão se fazendo módulos de vidro em pleno calçadão. Estão substiduindo pequenos pontos de venda de côco e cachorro quente, que começavam a proliferar em Copacabana.
Se houve um rigor exagerado na demolição das barracas porque elas estavam à 33 metros da beirada do mar – terreno de marinha – faixa de 33 metros contados para o lado da terra a partir de onde chega a maré alta – o mesmo não ocorreu com os píeres dos edifícios do Corredor da Vitória. Eles estão dentro do mar e seus acessos nas encostas estão a 33 metros aonde chega a maré alta. A imprensa noticiou a intervenção federal. Todos foram multados, cada um em cem mil. Tiraram de letra. Deram-se prazos e tudo ficou na mesma. Ai, há de se pensar: Dois pesos e duas medidas! Não há outra maneira de raciocinar.
Ao longo do tempo e o que falar dos Alagados de Itapagipe? Tomaram milhões de metros quadrados da Enseada dos Tainheiros. Poluíram tudo, até a Baia de Todos os Santos. Isto começou a acontecer na década de 1940. Em 1953 completou-se o feito com a tomada de toda a frente de mar da Avenida Porto dos Mastros. Influenciou até no eco-sistema da península. Este lamentável acontecimento é do tempo das barracas. Dir-se-ia mais. Essa gente alí instalada deve ter incentivado, de alguma forma, o negócio das barracas, desde que, ao mesmo tempo, fecharam-se as 35 indústrias que existim nas proximidades. E agora? Vão demolir os Alagados que nem fizeram com as barracas? Não há como. Iria criar um gravíssimo problema social. Mas grave também é a extinção das barracas da forma como foi feita. É também um problema social! Precisa ser considerado.
E encerramos com a reprodução do art. 5º de nossa Constituição: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida...”
Olá amigo.
ResponderExcluirCompactuo de sua opinião de não concordar quanto a forma como o processo de retirada das barracas nas praias de Salvador ocorreram.
Acredito que se as autoridades realmente tivesdem a "bom vontade" de realizar tal fato de forma um pouco menos traumática socio-econômica e culturalmente teriam conseguido, mas me pergunto: o que de fato se encontra por traz de todo esse processo?