Na edição desse domingo do jornal A Tarde, a excepcional
jogadora de vôlei do Brasil, Fofão, indagada sobre se conhecia algo do esporte
baiano, afirmou que nunca viu a Bahia participar de qualquer competição
nacional de esportes amadores, ela que já tem 43 anos de idade.
Fofão
Fofão
quase acertou, e este “quase” tem até destaque mundial: referimo-nos a Ana
Marcela, vencedora do Circuito da Copa do Mundo de Mar Aberto. É muita coisa!
Ana Marcela
De resto, praticamente os esportes amadores na Bahia praticamente
desapareceram ou tiveram sua prática diminuída não somente no cenário
brasileiro, como igualmente no próprio Estado. São os casos do vôlei, basquete,
futebol de salão, tênis, tênis de mesa, hóquei sobre patins, remo e mais um ou
outro.
Vamos tentar buscar as razões dessa pane quase geral da qual
só se salva o Box, o judô, talvez o iatismo por razões bem específicas que vamos
analisar e a natação em mar aberto.
Inicialmente, salientamos que em
todo o mundo, os atletas da maioria das atividades esportivas se originam dos
clubes e das universidades e excepcionalmente das instituições militares, em se
tratando de determinados países europeus e asiáticos.
Nos Estados Unidos, Inglaterra,
Alemanha e França a formação de atletas é feita nas universidades que atraem
com bolsas de estudos os jovens mais aptos para o esporte. Em conseqüência,
essas universidades detêm os melhores técnicos e possuem as melhores
instalações esportivas, afora o provimento científico feito por profissionais
de diversas áreas.
No Brasil, a fonte originária dos
atletas da maioria das modalidades esportivas são os clubes esportivos.
Diferentemente dos países acima citados e muitos outros, o jovem brasileiro
quando alcança a universidade, deixa a prática esportiva.
Houve um tempo em que havia os
Campeonatos Brasileiros Universitários e muitos de nossos jovens se mantinham em
alguma forma técnica, mais com vistas às viagens do que propriamente a um
objetivo técnico. Saliente-se, inclusive que, as universidades não tinham
instalações esportivas e muito menos técnicos.
E o que aconteceu na Bahia,
especificamente? Ai pelos idos dos anos 60/70, a maioria dos clubes baianos que
sustentavam o esporte amador, sofreu uma débâcle financeira causada pela
mudança estrutural de nosso Carnaval. Parece incrível essa afirmação, mas é a
pura realidade e vamos mostrar como isto aconteceu.
Até esses anos-60/70 – os grandes
clubes de Salvador, exceção do Yacth Clube, tais como Associação Atlética da
Bahia, Clube Baiano de Tênis, Clube Português da Bahia, Fantoches da Euterpe e
Associação Atlética Banco do Brasil, viviam praticamente dos grandes carnavais
nos seus salões. O quadro social pagava suas mensalidades em dia, ou liquidava
a fatura de uma só vez, com vistas ao Carnaval. Os dias da festa não eram a
fonte de renda principal, apesar da venda de bebida e comida em grande
quantidade. O que, verdadeiramente, sustentava esses clubes era a manutenção de
uma renda proporcionada pelas mensalidades. (Não é isso grande Waldir do Baiano
de Tênis – tem muita história para contar: uma delas envolve a pessoa de Baby
Pignatari, milionário, passando o Carnaval na Bahia. Na segunda feira gorda do
Baiano o homem resolve ir ao Carnaval do grande clube. Não era sócio. Foi
barrado na porta por Waldir. Inconformado, perguntou a Waldir quanto custava o
clube. Ele o compraria. A resposta veio de supetão: o Clube não está à venda.) Naquele tempo podia se falar assim.
Dependências do Clube Baiano de Tênis
Pois bem! Eram esses clubes que
sustentavam os esportes amadores. O autor desse blog era atleta de tênis de
mesa e Futebol de Salão da Associação Atlética da Bahia. O clube também tinha
destaque no basquete, no vôlei, na natação e no tênis de campo. (Fala Enéas da
Costa Torreão- campeão baiano muitas vezes dessa modalidade). O Baiano de Tênis
tinha grandes equipes de basquete e vôlei, masculino e feminino, afora o tênis
com Carlos e Jorge Abreu no auge. No Clube Português da Bahia, praticava-se
Hóquei sobre patins com Fernando Jardim à frente, além de manter uma equipe de
natação. Na Associação Atlética Banco do Brasil a natação corria solta com
Carlos Cordeiro na direção técnica. Até o Fantoches que muita gente pensa que
só era de Carnaval, tinha uma grande equipe de tênis de mesa com Raimundo
Cardoso, Silvio e Zé Marques. Era o esporte que cabia em seus salões.
Fantoches da Euterpe
O caso do remo é emblemático. Não
se pode dizer que os clubes que prestigiavam essa modalidade dependiam do
Carnaval. Alguns deles tinham suas festas (São Salvador e Itapagipe), mas não
se pode comparar com as realizadas pelos co-irmãos da Cidade Alta (Fantoches) e
da Barra (AAB-CBT-AABB).
Em dias de regata, o Porto dos
Tainheiros se enchia de gente. O trânsito era interrompido no local. Vapores da
Baiana eram contratados pelos clubes e faziam um Carnaval em suas
dependências. Ficavam apoitados mais para o lado do Lobato, afim de não
prejudicar os páreos. Quando os yoles e os auto riggers despontavam em frente
ao hidroporto, os navios apitavam freneticamente. As orquestras cresciam o tom.
Os rapazes corriam para a balaustrada do navio. As meninas aproveitavam para ir
ao sanitário. Em terra o povo gritava. Os apostadores corriam em terra
acompanhando o desenrolar do páreo. Em muitos deles a decisão era por bico.
Ficavam aguardando o levantamento das bandeirinhas dos juízes de chegada
posicionados num elevado em meio ao mar. De cima para baixo era a
classificação. Foi o tempo de Jarrinha, Maranhão, Manoel Gantois, Mário Brito,
Jorge Rádel, a dupla da fome (Jorge e
Piston), dos Conzenzas, dos Maias, de Feijão, de Parada e tantos outros.
Hidroporto dos Tainheiros
E de uma hora para outra, o remo
deixou de ter público. Os clubes se enfraqueceram. O Itapagipe acabou. O Santa
Cruz não teve continuidade de direção. O São Salvador esteve prestes a
desaparecer. Alguns abnegados o sustentaram. Ainda existe a sua garagem nos
Tainheiros. Só o Vitoria, graças ao futebol, se mantem equilibrado, mas
sem o fervor de antigamente, ao tempo de Aldo Mendonça e Dr. Gazinho.
Sedes náuticas do Vitória e São Salvador
E o que dizer da grande equipe de basquete do
Itapagipe dos Irmãos Moura Costa: Gilberto, Newton,Vavá e o primo Lagartixa. Indio completava o quinteto. O
técnico era o próprio pai. Enfrentou por igual grandes equipes do sul do país.
Newton depois foi radialisa e Deputado Estadual. Hoje temos uma rua de Salvador com seu nome:
Rua Dep. Newton Moura Costa
A verdade é que àquela época
tivemos grandes dirigentes de nosso esporte amador, como Casdonski, João
Alfredo, Carlos Maia, Jorge Radel, Fauzi Abdala.
Desse quilate hoje, só Sergio Silva. Quando
se viu sem piscina, partiu para o mar e realiza o maior calendário de
natação em mar aberto do Brssil, quiçá da América do Sul. Tem o mar a sua disposição para o
circuito que realiza. Nintuém vai tirá-lo como lhe tiraram a piscina da Fonte
Nova. Há 40 ou 50 anos atrás, já tínhamos percebido isto. Fomos os pioneiros
da natação em mar aberto na Bahia, bem anterior à Travessia Mar
Grande Salvador, realização da Fenando Protásio. Meu amigo Genésio Ramos,
excepcional e inesquecível figura, deu seqüência.
Genésio Ramos
De relação ao iatismo, esse se sustenta graças ao Yacht Clube da Bahia. Excelência de clube. Um exemplo para todo o Brasil.
Sergio Silva - Presidente da Federação Baaina de Desportos Aquáticos
Yacht Clube da Bahia