sexta-feira, 29 de outubro de 2010

SUBÚRBIO FERROVIÁRIO DE SALVADOR – 15- PERIPERI


Entre todas as praias do Subúrbio Ferroviário a de Periperi é a menos “badalada”. Não é de agora. Sempre foi.
Temos a impressão que aquele gradeado de proteção da Leste Brasileiro contribui para essa impressão. É horrível! Isola a praia da cidade, inclusive a sua igreja que está abandonada.

Por outro lado, essa praia é das mais poluídas do subúrbio ferroviário por lixos domésticos e de hospitais (Caribé e clínicas Clisur e Praia Grande).

Em conseqüência, Periperi cresceu pelos espaços atrás da igreja e esta ficou de costas para  esses espaços. A rua da Estação tem apenas um corredor de casas pertencentes à operários da Leste Brasileiro. O resto foi crescendo até alcançar as partes mais elevadas do morro que lhe contorna. É muita gente, talvez algo em torno de trinta mil pessoas ou até mais.



Igreja de Periperi

Não era assim nos meados do século passado. Habitava-o poucos moradores e muitos veranistas. Não existia a Suburbana e seus limites ficavam aquém de onde hoje passa essa avenida.

Diz-se que a localidade se originou de uma fazenda existente na área pertencente ao Coronel Frederico Costa. Em verdade, não se sabe se realmente o homem era coronel mesmo, ou apenas tinha o título à base do costume naquela época de se chamar de “coronel” os senhores donos de terra.

As terras do Coronel Frederico Costa, mais tarde vieram a pertencer à família Visco. Na década de 50 este senhor e seu genro, Almáquio Vasconceloes, começaram a construir casas em seus espaços. O rendimento de sua venda e aluguel seria maior que os da fazenda. Quem também construiu algo substancial em Periperi foi o ex-vereador Castelo Branco. Fez o Colégio “Humberto de Alencar Castelo Branco” e o Colégio Comercial de Periperi.

Por esta razão, Castelo Branco tinha uma votação maciça nas duas ou três vezes em que se candidatou a vereador. Mas não foi só por isso que este político se elegeu vereador. Era muito simpático. Foi Presidente do Esporte Clube Periperi.


Escudo do Esporte Clube Periperi


Fazia grandes festas. A estação da Calçada se enchia de jovens nos dias de suas realizações, naturalmente sempre aos sábados. Rigorosamente ninguém era sócio, mas todo mundo entrava. Não ficava ninguém do lado de fora. E eram festas sensacionais com as melhores orquestras da Bahia e muitas vezes, apresentações de cantores famosos da época.

Também era intensa a atividade propriamente esportiva. No Campo do Periperi exibiram-se grandes jogadores de futebol daquele tempo com especial destaque para Zague, centroavante maravilhoso que foi contratado por um clube mexicano. Lá se casou e nunca mais voltou. Seu filho, mais tarde, integrou a seleção mexicana de futebol em uma Copa do Mundo. Os locutores com carinho chamavam-no de Zaguinho – o filho de Zague.

Castelo Branco também colaborou para o desenvolvimento da natação baiana. Patrocinou diversas provas de mar aberto, notadamente o percurso Periperi-Penha. Curiosamente, nunca se fez o percurso Penha-Periperi. Os nadadores vitoriosos ou não (todos afinal) logo após os seus triunfos voltavam na parte da tarde para receber suas medalhas. Se fazia uma festa dançante nesse turno. Ia até as 21 horas. O homem realmente gostava de festa.

De festa também gostava Orlando Campos, o criador do Trio Elétrico Tapajós. Decorria o ano de 1955, apenasmente 55 anos atrás. Foi um grande sucesso. Seu maior cantor foi Luiz Caldas.

Mas Orlando não se destacou somente por ter criado o Tapajós. Ele montou uma indústria de trios elétricos. A maioria dos Trios Elétricos que mais tarde surgiram foram feitos em suas oficinas.

Dentro desse ambiente de festas, de gente boa e alegre, de um povo feliz que não sabia que era, não poderia deixar de surgir uma das maiores referências do Carnaval Baiano. O Ara Ketu, tradicional bloco afro-brasileiro


Ara Ketu


Foi fundado em 8 de março de 1980, Dia Internacional da Mulher.
Mas o que significa ARA KETU há de se perguntar por aí? Nada mais, nada menos que POVO DE KETU. E Ketu onde fica? Na Nigéria, África.
E de onde vem hoje o Ara Ketu?
Periperi
Araketu
Composição: Paulo Diniz e Odibar
Cana de canavial
Dá licença de chegar
Eu vim de Periperi
Vim pra ver como é que é
O amor que existe aqui
Será que é como é
O amor de Periperi, é
Lá, não há distinção de cor
Lá, cada amigo é um irmão
Lá, galo canta é madrugada
Caminhante fez parada
Se apaixona pelo ar
Lá, vagalume enfeita as noites de amor
Lá, violeiro faz cantiga ao luar
Lá sussurrando pela estrada
Ficou minha namorada
Uma lágrima a rolar
Eu vim de Periperi

Há muitas referências sobre a presença de Jorge Amado em Periperi. Dizem que ele ia sempre em Periperi, inclusive que algumas de suas obras como “O capitão de longo curso” e “Baía de Todos os Santos” teriam sido inspiradas em Periperi. É provável e não era só Jorge Amado que ia à Periperi. Grande parte da juventude daqueles velhos tempos (décadas de 40/60) não saía de Periperi, como se costuma dizer. Se ia de trem, mas também se ia de barco ou de canoa. Os jovens de Itapagipe, por exemplo, aportavam sempre na localidade. Já se falou da juventude que comparecia às suas festas. Naturalmente que não só a localidade era atraente; suas jovens também encantavam-na.


Estação de Periperi

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