As encostas de Salvador são hoje a grande atração das
construtoras. Depois de quase 500 anos, descobriram seus encantos. Têm a vista
para o mar. Começou no Corredor da Vitória; em termos, teve sequência na Ladeira
da Barra; está querendo pintar no Santo Antônio Além do Carmo mesmo com as
restrições de tombamento; manifesta-se de alguma forma nos Morros do Gato e do Ipiranga na
Barra e agora estão de olho na Contorno.
Por muitos anos elas foram como que rejeitadas. Vamos dá
alguns exemplos. Na Vitória, inicialmente todas as construções, mansões de um
modo geral, desprezaram-nas. Foram construídas com a frente voltada para a rua e
os fundos, geralmente quintais, com os muros voltados para o mar. No Santo
Antônio a mesma coisa. A frente dos prédios seculares com suas janelas e portas
para a rua e a cozinha ou o sanitário voltado para o mar. Geralmente era esse
último, desde que os despejos eram feitos na ribanceira.
Haveria uma explicação mais ou menos condizente para essa tendência
de construção? Sem dúvida que há. Àquela época, a cidade não tinha o sistema de
esgoto que hoje possui. Praticamente, todos os dejetos eram jogados no mar.
Isto mesmo, no mar! Havia milhares de “bocas de lobo” como eram
chamados os esgotos que despejavam a “sujeira” da população.
Havia também outra razão mais ou menos forte :
o lado do mar é oeste e ninguém suportava as tardes ensolaradas de Salvador. O
sol incidia direto nos fundos das casas. Não havia o “ar condicionado” de hoje
e mesmo os ventiladores deixavam a desejar. No mínimo eram barulhentos.
Oportunamente, deva ser esclarecido, que o mar, as praias de
antigamente, não tinham o “prestígio” que tem hoje. Estamos nos referindo ao
principio do século passado, aí pelos anos de 1900, aproximando dos anos 60. Pouca gente ia à praia. Era um risco total à saúde
pública. As piores doenças estavam na praia. Gente daquele tempo, deve se lembrar que, ao lado do Forte Santa Maria no Porto, havia um terminal
de esgoto gigantesco que despejava todo material do Hospital Espanhol ali em
frente. Era uma água preta que formava um
mancha gigantesca, mar afora. Quando a
maré estava de enchente, essa mancha alcançava o Porto da Barra, Gamboa, etc.
Na vazante, era levada para fora. Somente os poucos avisados tinham coragem de
tomar banho de mar neste local. Apenas os pescadores colocavam suas
embarcações a velejar, molhando apenas as canelas.
Estrutura de terminais de esgoto. Este ainda se acha na Praia da Boa Viagem, devidamente desativado. O da Barra era mais ou menos assim. Era um padrão da época.
E não se diga que era apenas ali
no Porto o problema! Não era! Em frente à rua onde hoje se acha o Hotel
Pascoal, esquina com o Barra Center, havia uma boca de lobo gigantesca que despejava toda a água
proveniente do Canal do Chame-Chame, canal este que recebia os esgotos
das residências ao seu entorno. A força das águas fétidas fazia um caminho
profundo na praia. A areia ficava preta ao redor. Fazia um vinco, como se fosse uma pequena foz.
Acreditem, mas é verdade. Esta é a Praia do Farol, ao tempo da boca de lobo acima referida. As águas fétidas eram represadas e ali mesmo eram servidos os refrigerantes, a cerveja e o acarajé. Pouca gente se aventurava a ir a praia. Esse "espetáculo" era constante. Bastasse chover mais forte e se fazia esse "canal",
E o que dizer das praias de Boa
Viagem e Monte Serrat. Ali em cima na Rua São Francisco ficam dois hospitais, Sagrada Família e o Couto Maia, este destinado a doenças das mais graves. Pois bem. Em
frente ao Largo da Boa Viagem havia um terminal de esgoto gigantesco mostrado acima. Ele recebia os dejetos desses hospitais.
Em consequência, todas as casas
no perímetro, têm a frente voltada para a rua e os fundos para o mar. Até hoje!
Agora o avanço sobre as encostas
de Salvador se dirige para a Avenida do Cortorno. Inicialmente, foi
ocupado o espaço onde funcionava a Boate O'Clok. Foi um "Deus nos acuda" quando se fez o anuncio, mas por
fim conseguiram o alvará de construção.
Agora, avançam sobre o Solar dos
Gonçalves, belíssima construção onde morava a campeã sul-amerciana de natação
Mary Gonçalves. A mansão fora comprada pelo seu pai, Sr. Walter Gonçalves
quando veio para Salvador instalar uma fabrica de saltos para sapatos de
mulher. Pertencia aos irmãos Maia, que remavam pelo Santa Cruz e possuíam uma
casa de tecidos no Comercio – Casas Maia.
Mansão dos Gonçalves - no alto
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