...e ás 10 horas da manhã, o povo começa a andar. À frente do cortejo vão os políticos divididos pelo menos em três grupos: o do governador e seus secretários; o do prefeito e seus secretários e o pessoal da oposição, sempre o mais aplaudido. Logo atrás a banda de música de uma corporação militar; em seguida, o pessoal dos sindicatos e suas faixas fazendo as costumeiras exigências. Essa é a parte dispensável da Lavagem, mas não tem como evitá-la. Faz parte! Depois vêm as baianas, centenas delas vestidas de branco, muito branco, das dálias e das angélicas; é um grande momento, aliás, o primeiro grande momento, desde que, ao longo do percurso outros grandes momentos vão acontecer até aquele último já nas escadarias do templo ou um pouco antes na subida da ladeira. Após este estado de beleza o jegue eletrônico dá o ar de sua graça e de sua irreverência. Depois mais branco, o branco dos filhos de Gandhi , milhares deles e o seu perfume de alfazema impregnando as pessoas, as ruas e as praças.


É por essa razão que as carroças participam da lavagem. É um interessante simbolismo! Quem diria?
Também com grande simbolismo é a participação das “baianas”. Não somente pela beleza de suas vestes e o encanto e a simpatia de suas pessoas. Têm um significado religioso. No Candomblé muitos santos da religião Católica têm uma referência sincrética, de sincretismo, que significa, assim muito rapidamente, uma mistura de crenças, ou seja, uma reunião de elementos de uma religião aceitos por outra. No caso, no sincretismo do Candomblé, Senhor do Bonfim é Oxalá, o mais importante deus iorubano, representando o principio de tudo, inclusive de criar o mundo e determinar o fim da vida. É o pai da brancura, da paz e da união. É contra a violência e gosta de limpeza e pureza. Seus filhos devem vestir branco todas as sestas feiras. Daí a indumentária de todos que vão à Lavagem do Bonfim, daí as baianas que vão lavar hoje as escadarias do grande templo.


Outros animais participam da lavagem: são os cavalos. Eles vêm de chácaras da Grande Salvador, de Pirajá, Cabula, Mata Escura e outras localidades. Diz-se que até das ilhas vêm cavalos (nos antigos saveiros). São também uma representação e referência daqueles velhos tempos.
Na sequência, diversos blocos de percussão própria e clarinetes estridentes. A Timbalada, por exemplo, costuma aparecer.
Aparecem também torcedores do Bahia, este ano comemorando sua permanência da 1ª divisão. Os do Vitória também costumam aparecer, mas este ano não têm o que comemorar.
E lá vem o povo todo de branco. Muita gente! Em frente à Praça Cayru, percebem a 1ª placa indicativa do percurso. Achamos que é único percurso no mundo com esse detalhe.

Já estamos entrando na Rua Miguel Calmon, a antiga rua dos bancos, hoje a rua das faculdades e de dezenas de casas de crédito. O saber e o consumo estão em alta!




Foi inaugurado em 23 de novembro de 1874 e sua origem é francesa. É composto por pedra calcárea, bronze e ferro. Tem 23 metros de altura e um diâmetro de 27,60m.
À título de curiosidade, em 1817 o mar chegava junto a esse obelisco. Ainda não tinha sido construída a Av. Miguel Calmon.

Esta região antigamente era muito bonita. Chamava-se Cais Dourado. Vejam uma foto:

Reparem a quantidade de saveiros aportados na área.

Nas proximidades do Cais Dourado se multiplicou o número de trapiches que eram as grandes casas de comércio da época. Absorviam todas as mercadorias importadas e as vendiam. Salvador chegou a ter para mais de 400 trapiches. Com o advento do porto e a taxação das mercadorias importadas em 40% todos os trapiches fecharam as portas, encerrando um ciclo de prosperidade dos maiores de todo o mundo. Salvador era considerada a capital do Hemisfério Sul.


Projetava-se sobre o mar em cima de uma barreira de recifes.


Nesse local, temos mais uma placa da Prefeitura. Indica que estamos a 4 quilômetros do Bonfim. Que bom!

Depois, alcançamos a Calçada, antes conhecida como Calçada do Bonfim. O destaque hoje é a sua estação de trens. Foi construída em 1860 e reformada em 1981 com a atual fachada. Quando de sua abertura denominava-se Estação da Jequitaia e era uma estação “central e marítima da estrada”, segundo descrição de Cyro Deocleciano em 1886. Depois foi denominada Estação Bahia e finalmente Estação da Calçada.
Sua história começou em 1853, quando um senhor chamado Joaquim Francisco Alves Branco Muniz Barreto, recebeu do Governo Imperial a concessão por 20 anos para construir uma estrada de ferro saindo das proximidades do porto de Salvador até Juazeiro, às margens do Rio São Francisco. Muniz Barreto era engenheiro. Não se sabe como o referido senhor conseguiu a referida concessão, desde que ele próprio não tinha condições financeiras de construir uma ferrovia. Isto ficou comprovado dois anos após quando transferiu a difícil e milionária concessão para a Bahia and São Francisco Railway Company, uma empresa inglesa.
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