quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

LAVAGEM DO BONFIM – PERCURSO – 2ª PARTE

Na postagem anterior, quando começamos a fazer o percurso da Lavagem do Bonfim, esquecemos de acrescentar a Feira de São Joaquim e o Colégio/Igreja de São Joaquim, que ficam na Avenida Jequitaia.
Em tempo, falemos dos mesmos.
A Feira de São Joaquim é a principal feira livre de Salvador. Ela se originou após o incêndio da antiga Feira de Água de Meninos que ficava ali bem próximo, quase se unindo. Da mesma forma que a sua antecessora, ela se formou por si própria, isto é, sem nenhum planejamento, ao leo, conforme a vontade de cada barraqueiro. É uma Babel! Agora, parece que começa a tomar algum rumo. Num antigo barracão das Docas da Bahia, ao seu lado esquerdo, se organizou alguma coisa mais digna. Esperamos que aproveitando a oportunidade, possa se construir outro barracão e juntar tudo num só espaço, devidamente higienizado e confortável. Que se faça uma Cantareira em nossa cidade. Já merece isto!


Bem em frente à feira, o nosso passante vai se deparar com a casa Pia e Colégio dos Órfãos de São Joaquim. Este edifício foi doado à Companhia de Jesus pelo senhor Domingos Affonso, mas passou a pertencer à Coroa com a expulsão dos jesuítas, caindo em ruínas. Após restauração pela Corporação do Comércio, em 13 de maio de 1822, o edifício foi doado à Casa Pia dos Órfãos, por mediação do governador D. Francisco de Assis Mascarenhas, o Conde de Palma, realizando-se sua inauguração, em 12 de outubro de 1825, dia do aniversário do imperador D. Pedro I.


Por dentro é ainda mais maravilhoso। Temos algumas fotos do seu interior:



Poucos metros adiante do São Joaquim, já estamos na Calçada.
A estação da Calçada foi construída em 1860 e reformada em 1981 com a atual fachada. Quando de sua abertura denominava-se Estação da Jequitaia e era uma estação “central e marítima da estrada”, segundo descrição de Cyro Deocleciano em 1886. Depois foi denominada Estação Bahia e finalmente Estação da Calçada.

Sua história começou em 1853, quando um senhor chamado Joaquim Francisco Alves Branco Muniz Barreto, recebeu do Governo Imperial a concessão por 20 anos para construir uma estrada de ferro saindo das proximidades do porto de Salvador até Juazeiro, às margens do Rio São Francisco. Muniz Barreto era engenheiro. Não se sabe como o referido senhor conseguiu a referida concessão, desde que ele próprio não tinha condições financeiras de construir uma ferrovia. Isto ficou comprovado dois anos após quando transferiu a difícil e milionária concessão para a Bahia and São Francisco Railway Company, uma empresa inglesa.

Em conseqüência, todo o projeto foi elaborado em Londres pelo inglês John Watson e já em 1860 foi inaugurado o primeiro trecho ligando a Calçada a Paripe. Esse trecho contava com uma extensão de 15.2km e tinha estações intermediárias nas comunidades de Santa Luzia, Lobato, Almeida Brandão, Itacaranha, Escada, Praia Grande, Periperi e Coutos.
Na Calçada estamos a 3.0 km do Bonfim. Vamos seguir em frente, agora em direção aos Mares. Passaremos pela sua maravilhosa igreja em estilo gótico que muitos não querem aceitar.
Esta foto foi tirada via satélite. Aparece a igreja e à sua frente o Largo dos Mares que, oficialmente, chama-se Praça Manoel Natividade Maria, que poucos sabem. O personagem foi um padre que nasceu em 8 de maio de 1845 e desencarnou em 1º de janeiro de 1922. Essa informação foi encontrada num site da religião espírita. Curioso, não?

Outro religioso maravilhoso foi o Cônego Anísio Ayres Esteves. Ele foi o responsável por grande parte da construção da Igreja dos Mares. A sua torre, por exemplo, em estilo gótico, foi ele quem comandou sua elevação. Foi um homem excepcional. Chegamos a conhecê-lo pessoalmente.
Foi o patrono dos “Licenciados” de 1946 do Colégio D. Macedo Costa. O autor fazia parte deste grupo.









Aqui as nossas já famosas placas indicam que estamos a 2.3 km do Bonfim. Ainda temos que andar por toda a Avenida dos Mares, oficialmente designada Fernandes da Cunha, ilustre desconhecido.

Olhem a placa do local. Nessa avenida quase não tem nada de tradicional para se vê. Seria “tudo” não fosse um edifício construído pelos antigos donos da aguardente Jacaré, a cachaça que mais se vendia em Salvador no século passado. Este prédio tem 10 andares. É o único com esta altura existente na península. Não seria estranho se não fosse verdadeira a desvalorização de toda a península após a invasão dos Alagados.
 
Até versos se fazia em homenagem a tal da cachaça:

Eu nasci num ninho de cobra.
Minha mãe era serpente.
Eu bebi do leite dela.
Meu sangue ficou mais quente.
Jacaré mato no tapa.
Cascavel mato no dente.
Porque o sangue que corre na minha veia.
É o veneno do aguardente
.
 
A grande avenida em extensão desemboca no Largo de Roma. Aí tem história. Este largo já teve três nomes. O próprio Roma; Praça da Bandeira e hoje Praça Irmã Dulce, em homenagem à grande Santa da Bahia.

Era Praça da Bandeira por algum tempo porque ali se hasteava uma grande bandeira Nacional.Depois tiraram o mastro.

Hoje, chama-se Praça Irmã Dulce porque ali perto está a sua obra magnífica, o Hospital Santo Antônio e principalmente, porque seu mausoléu acha-se perto.

Apesar de tudo, o povo continua chamando a praça de Largo de Roma. Por quê?

Diz-se ter existido nas proximidades, entre o largo e o mar, uma capela dedicada a Nossa Senhora de Roma. Daí o nome, Largo de Roma.

É muito duvidosa esta citação. Primeiramente, não se tem notícia de ter existido uma Nossa Senhora de Roma, nem aqui nem na Itália ou em qualquer outro lugar. O que se comenta é que Nossa Senhora da Babilônia com prática de seu culto na antiga Babilônia e no Egito, deu origem a Nossa Senhora Romana. Este fato é comentado em um livro de autoria de Alexander Hislop, denominado “The Two Babylons”.

Este erudito cristão pesquisou durante muitos anos em livros antigos e modernos e encontrou detalhes de ligação da “Santa Madre” com a antiga Babilônia pagã, o berço do ocultismo, onde se adorava o sol, a lua, as estrelas, os animais, os pássaros, as plantas e até os insetos.

Mais tarde, quando o culto chegou ao Egito houve a integração da Santa ao cristianismo. Apenas lhe mudaram o nome, sendo chamada de Virgem Maria com um menino nos braços. “Cristãos professos a adoravam com o mesmo fervor que antes o faziam abertamente os que eram pagãos declarados”, escreveu Alexander Hislop.
 
Outra citação histórica, esta mais recente, indica que em 1944 em plena guerra, “um quadro da Virgem Maria foi transferido para Roma ficando nas dependências da Igreja de Santo Inácio. O povo contrito fez três promessas à Virgem se a cidade fosse preservada: de mudar a própria vida, de erigir um novo Santuário e de realizar uma obra de caridade, em sua honra”. E Roma foi preservada e a Nossa Senhora do Divino Amor, este era seu nome, ganhou o título de “Salvadora de Roma”.

Por fim, existe a Nossa Senhora Romã. É a mesma Virgem Maria segurando uma criança nos braços. Por sua vez, esta criança segura uma romã em uma das mãos. Qual o significado disto? Para que possamos entender, será necessário explicar que as romãs são Símbolos de Retidão e Honradez. Elas estão esculpidas no Templo de Salomão em Jerusalém. Fato curiosíssimo é que cada romã possui 613 sementes e este número é igual aos 613 mandamentos ou provérbios judaicos que existem nos livros do Velho Testamento. Por isso, os judeus comem romãs no feriado chamado Rosh Hashanah e os católicos comem romãs no Dia de Reis. As sementes deverão ser guardadas durante o ano para que este seja um ano abençoado.

Após Roma adentramos na oficial Avenida Bonfim. Mas também ninguém á chama assim. É Avenida dos Dendezeiros, porque ali, muito antigamente, tinha muito dessa palmácea.

Vista as coisas dessa maneira, estamos crendo que o Largo de Roma não ganhou esse nome por existir uma capela nas proximidades dele, homenageando Nossa Senhora de Roma. Esta santa nunca existiu!A origem do nome é outra. Pode ser mais folclórica. Por exemplo, algo como “quem tem boca vai a Roma” ou algo de relação a sua localização, desde que todas as grandes avenidas e ruas que saem do interior da península terminam nele. O povo poderá ter dito que “todos os caminhos vão dar em Roma”. São apenas algumas hipóteses. Nada mais do que isto!



A antiga av. Dendezeiros. Reparem as balaustradas limitando o seu espaço, bem como a linha de bondes. A igreja completa o cenário.

Claro que não podia faltar a nossa placa, principalmente porque ela marca somente 1,0 km. Já andamos quase 6 quilômetros.

Mas, antes de continuamos, deparamo-nos com uma placa “insólita” podemos assim dizer. Ela designa Bomfim com M, desde que todos nós sabemos que antes de F não pode vir M. Mas nesta placa vem. Vejamo-la:


Bem claro, não é verdade? E confirmando o “desmando” gramatical, já bem próximo à Colina, tem uma outra do mesmo jeito, com igreja e tudo.

Vamos tentar explicar a situação. Servimo-nos de nós mesmo, em postagem publicada em 2009. Reproduzimos o seu texto:

Largo do Bonfim


Até pouco tempo atrás era chamado Praça Teodósio Rodrigues de Farias. Por quê? Esta pessoa foi um dos grandes responsáveis pela construção da Igreja do Senhor do Bonfim que enriquece o local. Foi ele também quem trouxe as imagens do Senhor do Bonfim e Nossa Senhora da Guia de Portugal, por volta de 1740. Cumpria uma promessa. Também foi ele quem fundou a Irmandade dos Leigos que hoje tem o nome de Devoção do Senhor do Bomfim registrada dessa forma. Não critiquem o erro gramatical. Foi cometido há tanto tempo atrás! Nos tempos atuais a nossa querida Prefeitura espalhou por diversos lugares da península, placas indicativas de trânsito com o mesmo erro gráfico.
Complementando, em Portugual de onde veio a imagem, Senhor do Bomfim é com M mesmo. Explicam: é o Bomfim das coisas; das pessoas, da vida, da lavagem.

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