quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

REVITALIZAÇÃO DA CIDADE BAIXA - 5

Mas se a Via Náutica por enquanto é inviável, pode-se pensar na Via Periférica. O que seria?
Seriam instalados periféricos no morro que circunda Salvador desde o Comércio até Pirajá, ou até mais adiante.


Periférico ligando o Comercio à diversos pontos da Cidade Baixa


A ideia  inicial desse projeto é do ex-deputado Pedro Irujo, quando candidato a Prefeito de Salvador. Ninguém deu importância! Estamos re-lançando sua ideia.

Mas, qual o benefício que isto traria, especificamente à Cidade Baixa? Muitos! Um deles seria a melhoria do trânsito, desde que dois milhões de pessoas ou mais, optariam por usá-lo em vez de ônibus e carro. Seria também uma atração turística e como tal provocando melhorias urbanas em todos os sentidos.

Outro projeto objetivando a melhoria da Cidade de Baixa, seria a construção de casas de espetáculos no seu espaço, principalmente na área do Comércio. Certissimo! Carlinhos Brown já construiu a sua. Já se fala, inclusive, que o antigo Trapiche Barnabé deverá se transformar num grande espaço cultural. Iniciativa de um francês. Tem outros nas redondezas que poderiam ter o mesmo destino, quando não casas de espetáculos especificamente, mas shoppings e outros equipamentos. Que tal um outlet, vendendo com preços 30% menos, como já acontece em São Paulo.(Exigência contratual de uso).

Há, contudo, um componente muito importante a ser pensado. Estacionamento! Onde estacionar carros na área, desde que é sabido das dificuldades que o Comércio tem nesse sentido?

A única solução é o espaço onde hoje se acha a antiga Base Baker, construída pelos amaricanos no tempo da guerra. Hoje funciona um quartel dos Fuzileiros Navais. Afora o hospital que alí existe, sempre de grande importância, no mais não enchergamos a necessidade de tanta área para outras atividades.

Esta Base nos lembra muito a antiga Vila Militar dos Dendezeiros. Ocupava praticamente toda a avenida do mesmo nome. Tinha até cavalariça! Em 1959 no governo de Antônio Balbino, este desapropriou uma boa parte da vila, inclusive o espaço onde funcionava a tal cavalariça e doou à Irmã Dulce, podendo ela construir seu magnífico Hospital Santo Antônio.

Antiga Base Baker 

No caso da antiga Base Baker, uma possível desapropriação não teria finalidade tão expressiva quanto foi a construção de um hospital, mas permitira o estacionamento de milhares de carros não somente vindos em função das casas de espetáculos e shoppings que se fariam nas proximidades, mas, principalmente, das centenas de escritórios que voltariam a se estabelecer no local, bem como, permitiria o aumento de pontos comerciais de todos os ramos, concedendo emprego à milhares de pessoas.

Outra área que poderia servir de estacionamento no Comércio é o atual prédio da Receita Federal que está se mudando. Vai virar um problema dentro de pouco tempo. Já se encontra em meio a uma área degradada que é o Pilar. Poderá se integrar a essa degradação. É uma tendência muito forte. 


Prédio da Receita Federal e Trapiche Barnabé à esquerda

Ou se parte para demolir o mesmo criando um bom estacionamento ou se faria dele um edifício-garagem.

REVITALIZAÇÃO DA CIDADE BAIXA - 4

A título de curiosidade do que mesmo de esperança, reproduzimos adiante detalhes do projeto da Via Náutica:

Serão criadas seis estações: Barra – Gamboa (Solar do Unhão) – Porto de Salvador – Humaitá- Bonfim e Ribeira (Penha).

Está sendo prevista uma movimentação de um milhão de passageiros/ ano.

São grandes as opções de negócios: 1) operação da linha hidroviária. 2) exploração dos armazéns do Porto / complexo cultural e de lazer náutico. 3) exploração dos terminais e cruzeiros marítimos. 4) obras de urbanização e infra-estrutura das estações. 5) obras de concessão para exploração de centros gastronômicos integrados ao circuito.

Mas enquanto isto não vem, vamos analisar o que poderá ser feito, independente da Via Náutica.

Há um projeto magnífico de aproveitamento dos primeiros armazéns do Porto que seriam desativados. Vejamos o mesmo:


Projeto da Via Náutica
Em seguida, uma série de fotos de como poderá ficar a área:








Vamos torcer, não é verdade?




REVITALIZAÇÃO DA CIDADE BAIXA - 3

Quando afirmamos que o Porto de Salvador poderia ter começado em outro lugar, não estávamos sendo levianos. Ainda agora, já se fala abertamente de sua ampliação a partir de São Joaquim e a desativação dos dois ou três primeiros armazéns do lado sul.

De São Joaquim, ele avançaria pelas praias do Canta Galo e da Boa Viagem, até proximidades de Monte Serrat.

Há uma coincidência de ações que poderiam estar ligadas a essa ampliação. Uma delas seria a desapropriação feita pela Prefeitura de toda a área acima citada, conforme mapa já do conhecimento público.
O traçado em vermelho indica a área que foi desapropriada- Tem início em São Joaquim e vai até proximidades do Forte de Monte Serrat.

A área desapropriada serviria para facilitar o acesso ao novo porto, procedimento semelhante ao que aconteceu na área do Comércio quando se fez o Porto de Salvador. No local, foram abertas as avenidas da França, Estados Unidos e Miguel Calmon.

Conta-se até que o governador da época, José Joaquim Seabra, no seu tradicional ímpeto de avançar sobre tudo, pretendeu botar abaixo o prédio da Associação Comercial da Bahia, situada entre as Praças Cayru e Riachuelo. Não o fez em razão das pressões exercidas por diversas entidades comerciais da época. Conformou-se, a muito custo, em fazer um contorno do obelisco que ali se acha em homenagem à Batalha do Riachuelo.

O belo obelisco - à direita, o prédio da Associação Comercial da Bahia

Na Cidade Alta, onde realizou grandes obras, sofreu imensas pressões, mas não teve jeito. Demoliu até a antiga Catedral e outras coisas mais, mas fez o que tinha que fazer, inclusive a atual Avenida 7 de setembro.

Em razão das grandes obras que estão por vir de ampliação do Porto de Salvador, o projeto da Via Náutica que tem seu trajeto em boa parte na área das modificações, teve que parar e vai ficar parado durante muito tempo. Talvez nunca se realize!

REVITALIZAÇÃO DA CIDADE BAIXA - 2

Como vimos na postagem anterior, não será através da Via Náutica que se vai mudar o panorama da Cidade Baixa, infelizmente. Há, entretanto, no aspecto urbano, outros projetos que poderiam ser tocados. Neste trabalho, sugerimos alguns.

Por exemplo, a via Contorno do Bonfim. Teria começo na Ponta do Humaitá. Seguiria por toda a área da chamada Pedra Furada – Rua da Constelação - Estaleiro do Bonfim- Porto da Lenha- Porto do Bonfim, até alcançar a Avenida Beira Mar.

Dizia, naquela oportunidade: “Como se sabe, entre essas localidades há diversas interrupções e é um lugar muito bonito. Possivelmente, será a continuação da avenida que a Prefeitura está cogitando fazer na Luiz Tarquínio”- (Obras de ampliação do Porto).
Avenida do Contorno do Bonfim
Sugerimos também a Avenida Contorno dos Alagados. Faria o contorno da hoje Bacia do Uruguai até alcançar a Enseada do Cabrito em Plataforma. Ela evitaria a continuação do avanço das palafitas que ainda continuam tomando o mar em diversas partes da Enseada, principalmente nas chamadas Bacias do Uruguai e do Joanes.

Avenida Contorno dos Alagados ou, simplesmente Avenida dos Alagados

Aí sim, retomar-se-ia o grande projeto que foi a construção do cais que protege o Porto dos Tainheiros até o Porto da Lenha. Ele não foi perfeito porque, na época, omitiu-se a Avenida do Porto dos Mastros, ensejando a invasão dos Alagados de Itapagipe.

Também falhou quando não prosseguiu do lado do Porto da Lenha. Ai estancou. O morro à frente meteu medo. Está na hora de vencê-lo!

REVITALIZAÇÃO DA CIDADE BAIXA - 1

Quando a Prefeitura anunciou em 1998 o projeto da Via Náutica, uma grande perspectiva se formou ao redor dela, desde que o empreendimento traria evidentes benefícios na área do turismo e outras para a Cidade Baixa.

Há muito tempo que não se fazia nada de peso nessa área. Nos idos de 1940, Itapagipe foi nomeada pólo industrial de Salvador. Um gigantesco fracasso! Não restou uma indústria para contar a história. Ficou apenas a lembrança dos prédios e dos galpões abandonados, hoje caindo aos pedaços e ajudando na degradação da área.

Em passado mais remoto, meados do século XVIII a princípio do século XIX, Salvador que era tida como o maior centro comercial do hemisfério sul, deixou de sê-lo quando se pôs a baixo toda uma estrutura de magníficos prédios, estilo pombalino, para se fazer as avenidas de apoio ao Porto que se instalaria em 1913.

Diz-se que foi necessário! Sem dúvida, fosse o local bem mais escolhido, o que não ocorreu. O Porto de Salvador jamais deveria ter começado onde começou, em frente ao Forte de São Marcelo, área de pouca profundidade e de manobra complicada, justamente pela presença do referido forte.

Comentamos vastamente o assunto em postagens anteriores. Estamos apenas reabilitando alguns detalhes de maior importância. O seu começo deveria ter sido após o então Cais do Ouro, até mesmo em Água de Meninos ou até em São Joaquim.

Levantamos até a hipótese de que o Porto de Salvador deveria ter sido construído em Aratu, que hoje tem melhor desempenho funcional que o da Capital. Os dados são oficiais!

Se os homens daquela época tivessem tido esta visão, o Comércio seria hoje um lugar maravilhoso com seu Cais das Amarras, com o mar batendo no cais da Associação Comercial e teria sido preservado o Cais Dourado, hoje Praça Marechal Deodoro das feiras de rolo e outras mazelas sociais.
Cais das Amarras

Essa simetria vê-se muito em algumas cidades da Europa


Como na Vila Nova de Gaia -Portugal



sábado, 19 de dezembro de 2009

PREGUIÇA

Em meados de dezembro em postagem sobre as primeiras ladeiras de Salvador, tivemos ocasião de transcrever a opinião de Gabriel Soares, cronista da época - 1587 - sobre as duas primeiras ladeiras de Salvador, feitas do lado sul da cidade, lado este onde hoje está a Praça Castro Alves.
A descrição deixa claro que essas ladeiras são as da Conceição da Praia e a da Preguiça e não a Ladeira da Misericórdia, próxima que fica da hoje Praça Thomé de Souza. Desta última não sai outra ladeira senão a atual Ladeira da Praça. Consubstanciando essa dedução, é preciso ser citado que a Ladeira da Misericórdia não alcança diretamente a Cidade Baixa, dependente que é da Ladeira da Montanha que, na época, não existia. Bastante claro!




Traço e ícone vermelhos referem-se à Ladeira da Misericórdia. Ela se estende até a Ladeira da Montanha. Esta sinalizada com traço azul.

Faltou dizer ainda que as ladeiras de Salvador, como em qualquer outro lugar, formaram-se em razão da necessidade de acesso de um determinado lugar para outro, logo, uma questão absolutamente racional. No caso da Ladeira da Conceição, os padres que construíram a primeira igreja da Conceição da Praia, precisavam de um acesso que ligasse a Cidade Alta com a Baixa, onde se construiria uma igreja a mando do então governador, Thomé de Souza. A Ladeira da Conceição começava nas proximidades da Porta Sul da Cidade (Praça Castro Alves) e alcançava exatamente o local onde a igreja passou a ser construída.

A Ladeira da Preguiça também foi construída dentro de uma determinada finalidade funcional. Por ela eram transportadas as mercadorias procedentes de diversas partes da Baia de Todos os Santos (Cidade Baixa) para abastecer as pessoas que moravam na Cidade Alta.

Os saveiros aportavam na Enseada da Preguiça e os escravos conduziam no lombo as diversas mercadorias trazidas.

Diz-se que o nome “preguiça” surgiu desse serviço. Os moradores das casas em torno da ladeira, em tom de chacota, gritavam: “sobe preguiça”. Ou então, os próprios escravos comentavam entre si que "essa ladeira dá uma preguiça". Seria algo parecido com o que originou o nome de Ladeira da Lenha: “essa ladeira é uma lenha”, comentavam eles.



Saveiros ancorados na Praia da Preguiça ou Enseada da Preguiça

Com o passar do tempo, no local se construíram depósitos destinados a guardar essas mercadorias quando não pudessem subir à noite, por exemplo, ou uma intempérie que a tornasse escorregadia. Daí para a comercialização das mercadorias, foi um passo natural.



Enquanto isto, as ladeiras que eram verdadeiros caminhos, foram se alargando, por vezes se calçando com pedras “cabeça de nego” e outros materiais, e aí chegaram as carroças com tração animal e a vida foi melhorando, principalmente para os escravos.



As carroças com tração animal ou o próprio animal em rua do centro


Hoje, ao se retratar o local, sente-se essa tendência. A grande maioria das casas comerciais existentes no local é de material de construção. Os moradores da Cidade Alta desciam a ladeira à procura dessas casas, ou desciam o Elevador Lacerda, antes conhecido como Elevador da Conceição. Há referências de que também chamavam-no Elevador do Parafuso. Já falamos sobre isto.


Rua da Preguiça

Quando o volume das compras se tornava grande ou pesado, era por essa ladeira ou pela da Conceição que subiam as carroças de tração animal. Não existia outra ligação com a Cidade Alta nas proximidades, senão pelas mesmas. O resto era puro rochedo e mar.

Essa ladeira tinha outra importância: dela partia duas ligações para o extremo sul da cidade. Uma, a hoje Ladeira Visconde de Mauá, com saída no Largo Dois de Julho e a outra pelo Sodré, uma transversal da Rua do Cabeça.





sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA PRAIA - 2

O dia dedicado à Santa é 8 de dezembro. Todos os anos faz-se uma festa em torno, estendendo-se até a Praça Cairu. São montadas barracas de comidas e bebidas, hoje padronizadas. A freqüência já não é boa, tanto em qualidade quanto em quantidade. Nas proximidades funcionam bordéis que tomam conta da festa. Não era assim! Tanto na véspera quanto no dia, todo um povo descia para a Conceição. As barracas, centenas delas, tinham sua individualidade. Flor da Conceição! Felicidade! Iemanjá! 2 de Julho! Bar da Zeca! Bar Messias!

Em verdade, a festa começa 9 dias antes. São as novenas. Na manhã do dia 8 é realizada uma grande missa, geralmente celebrada pelo arcebispo. À tarde, é realizada uma procissão pelas ruas do Comércio. São os únicos atos de contrição, porque de resto é muito samba, muita capoeira, muita bebida e muita briga.

Uma das barracas de antigamente

Nossa Senhora da Conceição da Praia

Nossa Senhora da Conceição é padroeira de Portugal e de todos os países de língua portuguesa.



Todo o interior da igreja é rodeado de pequenos altares. Vejamos alguns deles:

São José


São Benedito



São Cristovão


Nossa Senhora do Rosário





Nossa Senhora de Santana


Um dos corredores



Pátio interno









IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA PRAIA

Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia
A monumentalidade de sua fachada tem características neoclássicas e é realçada com as torres em diagonal. Em 1946 foi elevada à Basílica (Sacrossanta Basílica). O papa Paulo VI declarou Nossa Senhora da Conceição padroeira “única e secular do Estado da Bahia”. Muitos pensam que o padroeiro da Bahia é Senhor do Bonfim. Não é! É Nossa Senhora!

Seu interior é barroco com destaque para a pintura do teto de autoria de José Joaquim da Rocha.

Pintura do teto- Impressiona a beleza!

Altar principal



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

CONCEIÇÃO DA PRAIA - 3

Somos forçados a retornar à nossa Rua da Conceição da Praia por uma razão ponderável que todos haverão de concordar. Esforçamo-nos ao máximo para descrever a rua como era antigamente, ao tempo do antigo Mercado Modelo. Recorremos ao Google Earth, fizemos demarcações e procuramos em nosso arquivo de fotos antigas de Salvador, aquela que melhor retratasse o local. Achamos esta que se segue:
Efetivamente, ela mostra a nossa Rua da Conceição à esquerda, mas uma das torres do antigo Mercado Modelo esconde a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, que lhe dá o nome.
Por sorte, entretanto, buscando com maior cuidado, encontramos outra mais significativa que, efetivamente, mostra a localidade em toda a sua plenitude. Não poderiamos nos furtar!

Começamos pela esquerda. A antiga Alfândega, hoje o novo Mercado Modelo. A Praça Cayru devidamente arborizada como era e deveria ser até hoje. Em seguida, o Elevador Lacerda. Um pouco à direita, o antigo Mercado Modelo e à frente deste a Rua da Conceição, com inicio no próprio Elevador Lacerda e se estendendo até a Igreja da Conceição da Praia. Ao lado desta, a Ladeira da Conceição.
Na parte mais inferior da foto, a Escola de Aprendizes de Marinheiro e à sua esquerda a pequena enseada do mercado onde se vê embarcações ancoradas, tanto do lado da Alfândega quanto da rampa do mercado.

Um detalhe também pode ser acrescentado. Ainda não existia a ligação entre as avenidas da França, Estados Unidos e Miguel Calmon com o espaço onde hoje começa a Contorno.


Hoje a frente da rua é assim! Tiraram-lhe o que lhe dava expressão e que expressão!
Sente-se um vazio!

CONCEIÇÃO DA PRAIA - 2

A Rua Conceição da Praia tem o seu nome em razão da igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, localizada na área.

Belíssima!
Foi uma das primeiras construções feitas nesse espaço. Fala-se que já em 1549 o governador Thomé de Souza mandou erigir uma ermida no local. Ficava à beira mar. Em frente achava-se a Enseada da Preguiça. O mar chegava junto. Aliás, há de se notar outras igrejas mandadas construir em Salvador, beirando o mar. São os casos da Igreja da Penha em Itapagipe; de Monte Serrat na Ponta do Humaitá; da Boa Viagem em frente à praia do mesmo nome, afora outras.

Já em 1623, ganha nova dimensão e em 1765 é iniciada a construção do seu atual aspecto, obra concluída em 1849. O projeto é atribuído a Manoel Cardoso Saldanha. Na época foi contratado o mestre-pedreiro, Eugênio da Mota que em Portugal acompanhou a modelagem das pedras de Lioz que compõem a sua fachada. Viajou com elas. Deve ter acompanhado o transporte das mesmas da nau que as trouxe até a Enseada da Preguiça e fez questão de supervisionar sua montagem. Verdadeiro “quebra-cabeça! As peças eram todas numeradas. Conta-se que algumas delas se perderam num naufrágio. Foi necessário encomendar outras. Imagine o trabalho que deu para saber a numeração das mesmas.

Mas o que seria a pedra de Lioz de que tanto se fala? Vejam essa descrição e ninguém terá mais dúvida:

“O lioz é um calcário compacto formado há cerca de 97 milhões de anos (Cenomaniano – Cretácico), apresentando fósseis abundantes, entre os quais se destacam lamelibrânquios coloniais construtores de bancos recifais designados de rudistas. Os rudistas são um grupo extinto de bivalves, com aspecto muito diferente dos que existem atualmente. A presença de fósseis destes animais nas rochas carbonatadas da região de Lisboa é um testemunho da existência neste local de um antigo mar tropical costeiro, pouco profundo, de águas quentes e límpidas, com fundos formados por vaza (lama) carbonatada. Os rudistas viviam semi-enterrados no fundo lodoso, formando grandes aglomerados, ou bancos, que ocupavam extensas regiões dos fundos marinhos de então. Estes animais extinguiram-se no fim do período Cretácico, na mesma altura em que se extinguiram a maioria dos dinossauros.”


À título de curiosidade, as antigas calçadas de Manaus foram feitas com pedras de Lioz. A Torre de Belém em Portugal também foi construída com pedras de Lioz.

Torre de Belém
Não vamos muito longe, a Igreja de São Francisco em Salvador, tem pedras de Lioz:


Igreja de São Francisco



quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

CONCEIÇÃO DA PRAIA

Hoje a Conceição da Praia se restringe a uma rua de uma única calçada. Uma fileira de antigos prédios quase todos da mesma altura. Um comércio de artigos de pesca,alguns armarinhos, prostíbulos e em meio a tudo isto a maravilhosa Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia que empresta seu nome ao local.
Acima uma representação de como poderia ter sido a Conceição da Praia antes do incêndio que destruiu o antigo Mercado Modelo. A faixa amarela seria o mercado e em frente o corredor de prédios de 4 a 5 andares que ainda hoje existem nesta rua.

Antiga foto da área
A foto acima nos ajuda a formar uma melhor idéia de como era esta área antes do incêndio. No primeiro plano a Praça Cayru e seu monumento, depois o Mercado e à esquerda a nossa Rua da Conceição da Praia, perfeitamente delineada. A fileira de prédios termina ao lado da igreja.

Hoje ela é assim.
Vê-se na foto pedaço do monumento à Cidade do Salvador, o novo Mercado Modelo e o prédio onde se fará o Hotel Hilton, de resto a rua com sua ampla calçada e os prédios quase todos da mesma altura. Alguns já com suas portas e janelas fechadas, fruto da degradação geral do comércio.
Para quem conheceu a área que é o nosso caso, sente-se um vazio à esquerda. Não só um vazio espacial de algo que não existe mais, mas de um vazio sentimental. Também um vazio de gente, de povo movimentando-se freneticamente, vazio de sociabilidade. Hoje, o comércio dessa área fecha mais cedo que em outros lugares. É a vez dos prostíbulos que desceram da Montanha.


Uma amostra!

Nota: “amostra” – dicionários – “ fração representativa de uma população”


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

LADEIRA DO TABOÃO - A VERDADEIRA "BAIXA DOS SAPATEIROS"

Pouca gente se dá conta de quanto deve ser antiga a Ladeira do Taboão. Cita-se com muita razão a Ladeira da Água Brusca, antiga Jequitaia, como sendo a primeira e, efetivamente o foi. Vimos isto diversas vezes em postagens anteriores. Antigas também são as Ladeiras da Conceição e da Preguiça, comentadas igualmente.


E por onde se pode constatar a antiguidade da Ladeira do Taboão, desde que há poucas referências sobre a mesma? Por um simples detalhe. Seu inicio dá-se na confluência entre a Ladeira do Pelourinho e a Ladeira do Carmo, recantos dos mais antigos. Nas proximidades, começou a cidade.
O retângulo representa o Largo do Pelourinho. Seu baixio termina na Rua do Taboão que o povo prefere chamar Ladeira do Taboão, devido a sua inclinação descendente a partir desse ponto.
Termina na confluência da Rua da Polônia com a Rua Cruz Machado, nas proximidades da Praça Conde dos Arcos.

Ladeira do Pelourinho
Ao seu final tem inicio a Rua ou Ladeira do Taboão. Em frente, de subida, a Ladeira do Carmo.
Como se sabe, as construções no Pelourinho são muito antigas. As primeiras da Bahia de antigamente. Em conseqüência, as pessoas que habitavam essa área e outras tantas que passavam por ela, na busca incessante de víveres para a sobrevivência, teriam se servido dessa descida para alcançar a Cidade Bahia.

Também a alcançavam pelo chamado Caminho Novo do Taboão, que não é outro senão a Ladeira do Pilar, onde se concentravam os trapiches. Se na época ainda não existiam, havia por outro lado a praia onde se faria mais tarde o famoso Cais do Ouro ou Cais Dourado. Poderíamos chamá-la de Praia do Ouro. Belíssimo nome!

Outro detalhe importante sobre a Ladeira do Taboão ou Rua do Taboão. Era aqui a verdadeira Baixa dos Sapateiros! A versão de que a Avenida J.J. Seabra ganhou o nome de Baixa dos Sapateiros em razão da instalação de uma fábrica de sapatos por imigrantes italianos, não se sustenta. Eram muitos os sapateiros instalados no Taboão. Ainda existem alguns. Mas o comércio ainda hoje é muito inclinado para artigos de couro e suas variantes modernas de plástico, caracterizando suas origens.

Por outro lado, a hoje Avenida José Joaquim Seabra, ainda não existia. No local passava o Rio das Tripas ou Camurugipe. Somente no final do século XIX foi feita uma drenagem e o rio foi tubulado a uma profundidade de 7 metros.

Há notícias que no século XVIII o local reunia inúmeras hortas, daí a denominação de Rua das Hortas, como era chamado o local. Também o chamaram de Rua da Vala, por abrigar uma grande vala por onde desaguava o Rio das Tripas. Nada de Baixa de Sapateiros! A verdadeira fervilhava há muito tempo numa transversal da Rua da Vala, em direção aos Bairros do Comércio e do Pilar. A nossa hoje Ladeira do Taboão.



Princípio do Século XX

Reparem a simetria dos prédios. Quase todos da mesma altura. Vejamos um comentário super significativo sobre a mesma:

“Ao caminhar devagar pelas ruas, antes de chegar ao antigo elevador, é possível apreciar o visual dos prédios com suas fachadas em estilo art déco, com altura média de quatro a seis andares. O que impressiona é a simetria. Parecem miniaturas do legendário Empire State Building, de Nova Iorque, o maior exemplo desse estilo em todo o mundo.”

Prédios da verdadeira Baixa dos Sapateiros.
Ary Barroso
Foi nessa rua que Ary Barroso se inspirou para compor a sua famosa “Baixa dos Sapateiros” em 1938. Diz-se que na época o excepcional compositor ainda não tinha conhecido a Bahia. Surgiu n' alma. Questão de genialidade!


"Na Baixa do Sapateiro encontrei um dia a morena mais frajola da Bahia Pedi-lhe um beijo, não deu Um abraço, sorriu Pedi-lhe a mão, não quis dar, fugiu Bahia, terra da felicidade Morena, eu ando louco de saudade Meu Senhor do Bonfim Arranje outra morena igualzinha pra mim Oh! amor, ai Amor bobagem que a gente não explica, ai ai Prova um bocadinho, ô Fica envenenado, E pro resto da vida é um tal de sofrer Ôlará, ôlerê Ô Bahia Bahia que não me sai do pensamento Faço o meu lamento, ô Na desesperança, ô De encontrar nesse mundo Um amor que eu perdi na Bahia, vou contar Ô Bahia Bahia que não me sai do pensamento..."

Tem mais história sobre essa ladeira. Em torno dela aconteceu a Revolta dos Malês (negros muçulmanos) e foi cenário da história de Quincas Berro D’Água.
Falta falar o porquê do nome Taboão. Diz-se que se originou do fato de terem sido encontradas grossas vigas de madeira no Rio das Tripas, sugerindo que ali teria existindo uma ponte ou, simplesmente, um apanhado de tábuas sobre essas vigas, daí Taboão (!)

Super duvidosa essa referência. Desde que temos encontrado ao longo de nossas pesquisas, inúmeras citações que não correspondem à realidade, fomos fundo na pesquisa desse ainda estranho nome “Taboão”. Não nos convenceu a história da ponte e suas vigas, muito menos as tábuas achadas sobre essas vigas. Seriam tábuas de uma resistência incomum!
Na verdade, trata-se de um nome da língua tupi-guarani – TABAPUÃ – de taba (aldeia) + puã (alta): “aldeia alta” como “Tábua” e “Taboão”. OK? Taboão da Serra, em São Paulo nos inspirou na procura.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

LADEIRAS QUE LIGAM AS DUAS CIDADES - ALTA E BAIXA - 2

Na postagem anterior vimos as primeiras ladeiras construídas na parte sul da cidade a partir da hoje Praça Castro Alves: a da Conceição e a da Preguiça. Ficou provado que não teria sido a Ladeira da Misericórdia a primeira delas, vez que esta dependeria da Ladeira da Montanha para alcançar a Cidade Baixa e a grande ladeira só foi construída muitos anos depois. É o mesmo caso de outra que começa no principio da Rua Chile e que alcança a Ladeira da Montanha. Vejamo-la em foto recente:
A pequena ladeira descendo em direção à Montanha



Ela própria com melhor referência.
 
Referimo-nos também a uma provável ligação dessa parte da cidade com o povoado do Pereira na Barra, através da Rua Visconde de Mauá que se bifurca ao meio da Ladeira da Preguiça. Ela tem inicio ao fim da Rua Democrata, onde se localiza o Clube Fantoches da Euterpe de largas memórias.

As duas ladeiras sinalizadas - A Visconde de Mauá e a Rua do Sodré. A primeira tem inicio ao fim da Rua Democrata no Largo 2 de Julho. A segunda tem seu começo no Cabeça, bêco que dá acesso ao mesmo Largo 2 de Julho.


Ladeira Visconde Mauá - Hoje em dia - Ao fundo o atual Elevador Lacerda




A mesma de antigamente - Ao fundo o antigo Elevador da Conceição

Resta-nos dizer como andam as duas primeiras ladeiras nos dias de hoje: a da Conceição e a da Preguiça. Estariam também degradadas que nem a Montanha? Pior! Uma lástima!

Sucessivos governos esqueceram essas ladeiras e muitas outras partes da Cidade Baixa. Agora tentam uma recuperação. Até algum tempo elas foram importantes na ligação entre os dois lances da cidade. Em primórdios tempos era a única forma de acesso das pessoas. Depois vieram os elevadores e planos inclinados. Perderam parte dessa importância, mas ainda assim, os veículos ainda as usavam. Em seguida, construiu-se a Avenida do Contorno. Ai o golpe foi mortal.

Mas, isso não pode justificar o abandono total de suas estruturas, tanto viária quanto habitacional. Somente agora surgem idéias de recuperação. As primeiras irão atingir a Ladeira da Montanha, mas, não temos dúvidas, essa recuperação se estenderá para as demais nas proximidades, como são os casos da Ladeira da Conceição e da Preguiça. As três ladeiras como que se completam.


Não é admissível este quadro!




Muito menos este! Alguém começou a construir esse prédio que teria sido depois embargado por justas razões, queremos crer. Pegado à igreja. Porque não colocá-lo abaixo ou, então, fazer um grande mural. Pena que Genaro já tenha morrido mas ainda está aí um Tati Moreno. Tem muita capacidade! É só olhar o Dique do Tororó.


Ladeira da Preguiça- Caindo aos pedaços



Ainda a Preguiça – Um deserto urbano


Ladeira da Montanha - Pouco tráfego – Pouca gente – Muita degradação! Há mais de 50 anos não se faz nada! A ladeira foi morrendo. As pessoas e os veículos circulam entre coisas acabadas!