Até os anos 30 e 40, mesmo 50 do século passado, a maioria
das casas de Salvador possuía um quintal. Quintal?! O que é isto? Era um espaço
geralmente no fundo da casa, de terra, cercado por muros altos. Nele os
moradores criavam pequenos animais, galinha, perus patos, marrecos e se
plantavam árvores frutíferas e verdura, bem como as medicinais e até se
cultivavam flores para os arranjos da casa.
Também os quintais serviam para estender as roupas lavadas em
casa; para cozinhar em determinados casos, preservando a cozinha interna para
refeições mais rápidas, como o café da manhã. Era também o local onde se estocava
a lenha ou o carvão para o cozimento e aquecimento das coisas. Também em muitos
deles existiam fontes de água doce, naturais ou perfuradas, as cacimbas, dominando
um problema mais do que crucial das cidades daquele tempo que era se servir das
fontes públicas existentes ou da compra de água em barris trazida no lombo de
animais.
Uma cacimba
Não se diga ou não se pense que os quintais eram uma
característica das casas mais pobres, muito pelo contrário. Em verdade,
começaram a fazer parte da estrutura dos imóveis ainda ao tempo dos escravos,
ou seja, no século XVIII. Geralmente tinham uma entrada em separado para evitar
a circulação por dentro da casa e se reservava um pequeno espaço coberto
(Telheiros) onde eles dormiam ou descansavam.
Teriam os quintais influenciado no posicionamento das casas
de antigamente de relação às ruas e avenidas onde se estabeleceram? Muito
provavelmente que sim. O Corredor da
Vitória é um bom exemplo. Todas as grandes residências dessa localidade tinham a frente voltada para a rua e os quintais
voltados para o morro, diferentemente do que hoje acontece quando os grandes
edifícios do local priorizam a vista do mar. Nem tanto, haja vista as belíssimas quadras de tênis e piscina na borda do morro.
Corredor da Vitória e seus quadras de tênis e piscinas onde antes eram apenas quintais.
Mas no Santo Antônio não era assim. As casas tinham a frente
para a rua e as suas dependências mais extremas alcançavam a borda do morro.
Algumas apenas. Não havia espaço para
quintais. Se não havia no fundo, se construíam pátios internos, uma espécie de clarabóia
onde se plantava e as vezes se colocava um pequeno chafariz para aproveitamento
ou conservação de água. Até as igrejas assim procediam.
Santo Antônio
Em outras partes menos nobres que nem o Corredor da Vitória ainda
se vê muitos quintais, agora com piscina, cascatas e outras "benesses" dos tempos modernos:
Não estaria completa esta postagem se não abordássemos o
significado da palavra “quintal”. Vem do latim QUINTANALIS, também derivado de
QUINTA e nos chega à mente a palavra QUINTA que por sua vez nos leva à “quinto
do inferno”. Na época Portugal enviava a esta colônia uma nau para a cobrança
do imposto do quinto, ou seja, dos
20% devidos à Coroa (hoje pagamos muito mais que isso à República). Essa era a “nau
dos quintos!, a qual era aproveitada para transportar degradados e demais
pessoas tidas como indesejáveis em Portugal. Por isso ela é associada a coisas
pouco desagradáveis, seu nome foi completado com “dos infernos” e gerou essa mimosa expressão: QUINTO DOS INFERNOS
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