Cabula e Pernambués fazem parte de uma mesma região da cidade, o chamado “Miolo central de Salvador”.
Até as décadas de 1940/1950 praticamente só existia o Cabula. Pernambués era pura mata, mas uma mata fechada e bela.
Até as décadas de 1940/1950 praticamente só existia o Cabula. Pernambués era pura mata, mas uma mata fechada e bela.
Lagoa da Pedreira
E este Cabula era todo de chácaras e sítios – até pequenas fazendas. Era uma área para ser preservada a todo o custo.
Mas como? A cidade crescia loucamente para todos os lados.
Simplesmente, “segurando” os espaços verdes pelas forças armadas. Tinha que ser mesmo por elas, desde que a luta era contra uma irresponsável ocupação habitacional que não tinha noção do que estava fazendo e o beneplácito de governos omissos.
Nesse ponto, muita gente haverá de dizer que isto era totalmente impossível. É sonhar demais. Vamos provar que não.
Vamos começar citanda uma área até hoje preservada pela Marinha em meio à maior invasão que essa cidade já presenciou: os Alagados de Itapagipe, tendo com foco a Bacia dos Tainheiros. Trata-se da Ilha dos Ratos.
Outra área que também mantêm seu verde é o Morro de Plataforma. Parece que também está sobre controle oficial, desde que ao seu redor se fazem milhares de casas populares, mas o verde do morro se mantêm intacto.
Agora, vamos para a própria área do Cabula e Pernambués. Na “esquina” dos dois bairros encontra-se uma unidade do Exército Brasileiro. Nas proximidades acha-se uma extraordinária área verde, com “invasões” de todos os lados, pressionando a natureza, mas o exército não abre mão de preservar essa área.
Trata-se Barragem do Cascão e os rios que a formam: Rio das Pedras, Rio Saboeiro, Rio Cachoeirinha, Rio São Marcos e Rio Pituaçu.
Mas a própria Prefeitura poderia cuidar disto! Não cuida. Como não cuidou da invasão dos Alagados. Mas os Alagados foram irreversíveis! No começo não! Inicialmente a população marcou cada espaço com paus de mangue. Depois é que construíram as palafitas.
Poderia ela, a Prefeitura junto com a Polícia, retirar e recolher cada marcação. Não deixar prosseguir. Mas nada se fez e as palafitas foram se erguendo pela maior parte da Bacia dos Tainheiros, prejudicando o extrato marinho ali existente. Aquilo ali era um santuário de peixes e mariscos.
No caso do Cabula e do Pernambués, foram áreas escolhidas para a construção de conjuntos habitacionais de péssima qualidade, substituindo a mata existente. E não se fizeram praças, áreas de lazer, aproveitamento de pequenas lagoas, algo devidamente estruturado e de bom gosto.
O Exército vem segurando essa área - Acima uma de suas unidades
No caso do Pernambuès traçaram uma avenida cruzando todo seu espaço. Facilitou o acesso, mas piorou a contaminação dos rios e represas desde que não se fez nenhuma obra de saneamento básico. Devia ser regra. Primeiro, esconde-se a tubulação de água e esgoto, depois mostre-se a avenida.
Por fim, vale a pena conhecermos o significados das palavras Cabula e Pernambués.
A primeira é o nome de uma antiga seita afro-religiosa, segundo a maioria dos pesquisadores. Também consideram que a palavra “cabula” procede de “Kabula” de origem banta, significando distrair, partilhar.
Já “Pernmbués” poderia advir do vocábulo “Paraná” com o termo “buês”, significando fazer brotar, sonoro, sonante, rumor, ruído, barulho. Poderia ser algo como rio, tanque de água.
Nota: o pesquisador desse termo (C.Batista Castro- 1936) não conhecendo Salvador, justificou-se da seguinte maneira: “Será que há algum rio no bairro de Pernambués?”
Respondemos ao Batista Castro: têm inúmeros. O senhor estava certo.
Primeiro parabéns pelo blog, muito bem escrito e organizado. Seja no trabalho com a pesquisa, ou mesmo na seleção dos temas. Gostei muito da história dos bairros do Cabula e Pernambués, e lembrei o artigo que fiz sobre os problemas do bairro da Vitória, principalmente em sua encosta ainda verde, mas ameaçada.
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