UMA HISTÓRIA COMOVENTE
A partir da Calçada, a primeira localidade do Subúrbio Ferroviário chama-se Santa Luzia do Lobato. Infelizmente, um bairro completamente abandonado. Vejam o depoimento de um morador:
“Santa Luzia do lobato, um bairro completamente abandonado, de infra-instrutora saúde, educação, incentivos para crianças e jovens, laser etc., Fico analisando o subúrbio, começa em santa Luzia, infelizmente o poder publico aqui não se faz presente; vivemos como bichos, na lama, buracos, alagamentos etc., sentimos na pele a vulnerabilidade social que atinge nosso bairro em todos os ponto falando, mesmo assim somos vitimas do descaso do poder publico, que só Deus sabe que dia essa realidade de hoje passará para dias melhores.”
Fomos conferir. Pegamos um trem e fomos até lá. Inicialmente, é de se lamentar o entorno da linha férrea, desde o seu inicio na Calçada. Mato por todos os lados; materiais de toda a natureza abandonados ao longo da ferrovia, um caos.
Não queremos ser rigorosos, mas não custaria muito se fosse feita uma limpeza da área, um ajardinamento, um gramado talvez. Pensamos até numa horta comunitária, mas aí já é demais, dirão muitos. Não nos pertence, dirão outros. Mas que existem quilômetros de terrenos que poderiam ser mais bem aproveitados e cuidados, não resta à menor dúvida.
Talvez isto reflita no bairro que lhe é próximo. Um amontoado de casas de baixíssima qualidade; nenhum ordenamento. Nada que se diga “amém Santa Luzia”. Por esta razão, fiz questão de transcrever o depoimento acima, de quem sofre na carne.
Tudo isto é reflexo da chamada “invasão dos Alagados do Uruguai”, iniciada em 1943 e culminada com a “invasão do Porto dos Mastros e Lobato” em 1953. Os poderes competentes não tiveram condições de impedi-las. Diz-se até que a primeira delas foi incentivada pelo próprio governo, quando aterrou grande parte da Enseada dos Tainheiros a partir do bairro do Uruguai.
Havia um déficit habitacional muito grande, resultado de pessoas que vieram do recôncavo e das ilhas à busca de emprego que as 35 indústrias que se instalaram na península itapagipana proporcionavam.
É de se lembrar que Itapagipe havia sido nomeada Pólo Industrial de Salvador, da mesma forma que antes já era o aterro oficial de Salvador, de modo que o “enchimento” foi feito com lixo.
Mas aí é que reside o grande erro do governo. Se efetivamente houve como que um consentimento da invasão havida, deveria o governo montar um projeto de um bairro organizado, com saneamento básico, com ordenamento urbano, modelar. Não! Deixou ao Léo. Cada um fez o que quis. Só mais tarde, 10 ou 15 anos depois, tratou-se de organizar a coisa, mas a coisa já estava intratável.
Foi no Lobato que se descobriu o primeiro poço de petróleo do Brasil. Em 1930, o engenheiro agrônomo Manoel Ignácio de Bastos, com base no relato de populares de que usavam uma lama preta como combustível de suas lamparinas e fifós, coletou uma amostra e constatou que se tratava de petróleo. Conseguiu uma audiência com o Presidente Getúlio Vargas a quem entregou um laudo técnico de seu achado. Ficou esperando o resultado. Não tendo sucesso, procurou o então Presidente da Bolsa de Valores da Bahia, Oscar Cordeiro, a fim de fosse dado uma força. (1933). A força foi demasiada. Ele próprio assumiu a descoberta do petróleo e ganhou todas as homenagens pelo feito. Em 1940, por exemplo, quando Getúlio Vargas esteve na Bahia, de hidroavião, dirigiu-se de lancha até o Lobato. Ao seu lado estava o senhor Oscar Cordeiro. Diz-se que, na época, o verdadeiro descobridor agonizava num leito de um hospital.
Mas a Petrobrás agiu de maneira decente e digna. 15 anos após, a empresa reconheceu a verdadeira autoria da descoberta, após analisar extensa análise documental apresentada pela viúva de Bastos.
É impressionante a entrevista da referida senhora que se chamava Diva concedida ao Jornal da Bahia na década de 1950. Num determinado trecho ela em carta dirigida à filha diz: “ Minha filha, eu agora tomei um choque. Passei no Lobato e vi lá uma placa – “Mina de Petróleo de Oscar Cordeiro”. E eu retruquei. Não disse a você, Maneca, que não convidasse ninguém e esperasse ajuda do governo? E Maneca, sempre incisivo nas respostas: “mas minha filha, Cordeiro como presidente da Bolsa de Mercadorias, pode levar avante a parte comercial da sociedade”.
Getúlio no Lobato
Poucos anos depois, o Poço Manoel Ignácio Bastos foi fechado pela Petrobrás. Para que tal ocorresse, aconteceu uma verdadeira operação de guerra. Todos os moradores da região foram avisados de que não poderiam acender fogão durante uma semana. A Petrobrás garantiria o fornecimento de marmitas durante esse período. Foi o que aconteceu. D. Maria, moradora do local sendo entrevistada revelou: “Foi uma semana de mordomia. Nunca passamos tão bem”.
Lunche
Oi!
ResponderExcluirProcurando informações sobre a história de Salvador pra uma pesquisa escolar de meu filho vim parar aqui no seu blog. Gostei muito e sugiro-lhe que publique mais sobre os tempos remotos.