Esta semana Salvador comemora 463 anos de existência. Não se vê muito entusiasmo com a data. Há várias razões para esta indiferença. Primeira delas, uma questão numérica. 463 anos não é um número redondo como foi 400 de grandes festas a 63 anos atrás ou 500 como será daqui a 37 anos, de festas ainda maiores e até imprevisíveis aos olhos de hoje.
A segunda razão parece estar no momento político que a nossa cidade e o Estado passam. Falam num marasmo administrativo que os poderes, municipal e estadual, estariam passando. Também citam que este é ano de eleição e como tal está todo mundo pensando somente em se manter no poder os que já estão lá e os que não estão lutam para subir. Nesse quadro, a cidade para, ninguém pensa em outra coisa, muito menos em 463 de sua fundação.
Claro que os blogs que tratam da cidade, não podem se envolver nessa briga de “cachorro grande” como dizia França Teixeira, famoso radialista esportivo dos anos 80/ 90 do século passado.
Faz-se necessário pensar 463 anos. Como está a nossa cidade nesse momento. Está bem? Está mal? São passados tantos anos. Deveria estar bem! O pessoal dirigente teve bastante tempo para colocá-la no patamar das grandes cidades do mundo, como já foi considerada no século XIX e princípio do século XX. “A maior cidade do Hemisfério Sul” como era chamada. Tempo dos 450 trapiches absorvendo produtos do mundo inteiro. Theatro São João, encenando o Guarani de Carlos Gomes.
Inauguração da Rua Chile com uma nau chilena aportada em nosso porto. O povo, vestido a caráter, bebendo champagne importada na belíssima via que se inaugurava.
Cais do Ouro recebendo centenas de saveiros. Mercado Modelo fazendo grandes negócios. As nossas praças bem arborizadas. Uma beleza!
As grandes festas de largo – Bonfim, Boa Viagem,Conceição da Praia, Lapinha, Santa Luzia.
Um Carnaval de riquíssimos carros alegóricos do Fantoches, Inocentes e Cruz Vermelha e muitos mascarados.
Os grandes bailes do Baiano de Tenis, Yacht e Associação Atlética, à rigor.
O veraneio de Itapagipe, para onde até o Governador e o Arcebispo se mudavam durante três meses. Voltavam a trabalhar somente em março.
Enquanto isso, pescavam as diversas formas de pescar. Peixe, camarão, siri ou velejavam nos saveiros de então.
Quando um avião Catarina despontava no horizonte, todos corriam para a Ponta da Penha para vê-lo pousar- quase dizia “aterrizar” mas isto quando em terra; talvez o termo mais certo fosse (marizar) no mar.
E hoje, como andam as coisas? A Rua Chile já não é mais a mesma coisa. A Avenida de 7 Setembro virou um “shopping” a céu aberto, mas um “shopping” de qualidade duvidosa. O veraneio de Itapagipe acabou. Tomaram um milhão de metros quadrados do mar com os Alagados. O Theatro (com th) São João pegou fogo. No lugar construíram um prédio horrível onde funciona as Federações Esportivas. Querem tombá-lo. Pelo amor de Deus, não. Pelo contrário, ele tem ser colocado abaixo. Igualmente, o prédio onde funcionava a Biblioteca Pública pegou fogo e no local construíram a atual Prefeitura que só faz destoar o clássico ambiente arquitetônico da Praça Municipal.
Esta é, em poucas palavras a Salvador dos 463 anos. Será por isto que a data estaria passando em branco?
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