sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ALAGADOS DE ITAPAGIPE 60 ANOS


Os Alagados de Itapagipe tiveram inicio em 1953, logo 60 anos atrás. Àquele tempo, a Rua Domingos Rabelo, hoje Av. Porto dos Mastros, era uma rua tranqüila à beira da Enseada dos Tainheiros que, caprichosamente chegava até ali. Era ou é o trecho entre o Largo do Papagaio e principio da Ribeira.   Desse ponto em diante até o Porto da Lenha o governo havia feito um cais de contenção. Esqueceu ou não quis fazê-lo no Porto dos Mastros, o que ensejou ou facilitou a invasão do seu espaço por milhares de pessoas com o fito de construir um sem número de palafitas.

A marcação cor de abóbora é o trecho com cais de contenção (Ribeira-Porto da Lenha).
A marcação roxa era o trecho sem cais (Av. Porto dos Mastros)
Do dia para a noite o cenário dessa rua modificou-se drasticamente. Seus antigos moradores, a maioria proprietária de belas residências, ficou sem a vista da enseada e o sopro dos ventos vindos do leste da cidade. Inesperadamente, tinham como vizinhança uma enorme favela chamada  Alagados.  Em conseqüência o valor dos seus imóveis caiu a quase zero, desde que a maioria abandonou suas residências ou as vendeu por valor irrisório.




O novo cenário - Palafitas dos Alagados - Uma favela em cima do mar

Daí em diante, as palafitas avançaram mar à dentro e ameaçavam juntar-se com o outro lado da bela enseada. Tal não aconteceu por que entre os dois lados existe um canal com uma boa profundidade e se tornava impossível fincar os paus de sustentação dos barracos. Não fosse isso e a “coisa” seria pior.


Após a consolidação de seu espaço e sua irreversibilidade, o governo resolveu aterrar o local com areia. Para tanto, instalou uma draga na ponta da Penha e essa areia foi canalizada para o Porto dos Mastros numa operação gigantesca, tanto quanto perigosa.
Perigosa?! Sim. Parece que não houve um estudo sobre a influência dessa dragagem ao eco sistema do local. Em conseqüência, formaram-se praias em diversas partes da Avenida Beira Mar e até no Porto dos Tainheiros. Ainda bem, mas poderia ter causado sérios problemas inimagináveis. Não se brinca com a natureza!


Aterro com areia da Penha - Foram milhões de metros quadrados,

Nova Praia - Av. Beira Mar
Nova praia - Tainheiros


A ponte ficou sobre a praia

Nesse último caso, se a ponte da Crush estivesse funcionando, a empresa que lhe servia poderia pedir uma indenização milionária.Não é verdade?

Decorridos 60 anos  é claro que é grande a curiosidade de muitos de relação ao resultado do aterro, ou seja, como ficou o bairro, sua  ordenação, sua organização, essas coisas próprias de uma situação como esta em que se parte de zero estágio. Tiveram uma chance extraordinária de fazer algo muito bom.
Que nada! Cada morador das antigas palafitas fez sua nova residência ao bel prazer, como se constuma dizer. As ruas não tiveram nenhuma ordenação. Não se fizeram praças. Não se plantaram plantas.  Não se fez nada, enfim. Vamos dar dois exemplos significativos logo abaixo:




No primeiro caso, uma rua é interrompida  com a construção de uma residencia ao fundo (verde claro). No segundo, vê-se dois prédios separados por um espaço de cerca de 1 metro ou menos, ou seja, o sumo da improvisação.
 Estes também não quizeram juntar


Esquina do peixe



Pequeno comércio


Corredor polonês - Não se pode admitir tal coisa.


Antigas moradias à esquerda - Guardando o lugar. Em tese, o espaço hoje ocupado por verdadeiros prédios, deveria ser assim.


 Coberturas e mais coberturas

Agora, vamos tratar das "coberturas". É uma característica de grande parte dos novos imóveis na zona de Itapagipe. Nos Alagados não poderia ser diferente. Tem em abundancia. No térreo, geralmente, faz-se uma loja  com duas portas;  em seguida, são feitos dois andares para moradia e por último, uma "cobertura", qause todas de  folhas de zinco ou  de amianto. Nesta última estendem-se redes de dormir ou varais para enchugar roupa. Pode-se fazer também um belo churrasco.

É de se notar a falta de árvores. As poucas existentes foram plantadas esporadicamente pelos moradores. Nota-se também a falta de praças. Em nosso périplo só localizamos apenas uma:


Uma das poucas praças dos Alagados

A conclusão a que se chega é o total descaso e incompetência  da Prefeitura na formação do hoje bairro dos Alagados, poder-se-á assim chamar. Tiveram tudo nas mãos e não souberam aproveitar a ocasião de fazer um bairro planejado, modelar. Há muitos anos atrás, nos meados do século passado, dois proprietários de terras na região da Pituba planejaram o atual bairro. Tiveram cabeça. Nossos políticos perderam uma grande oportunidade em Alagados. Agora é tarde. Inês é morta!
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