Confessamos que tentamos fazer uma nova postagem abordando o Dia
de Santa Bárbara. Pretendíamos fazer algo melhor do que aquela feita em
dezembro de 2011. Uma ambição talvez natural que move as pessoas que escreve, mas confessamos que
não conseguimos nem nos aproximar do escrito anterior. Estamos a repetí-lo. Só fizemos algumas acréscimos fotográficos. O texto é, praticamente, o mesmo.
Não é que ele seja perfeito e que nada pode superá-lo. Talvez
tenha sido executado ante uma inspiração recebida na hora, certamente da
própria Santa que insistimos em homenagear nesse seu dia glorioso. Tomara!
"Hoje, 4 de dezembro é dia de Santa Bárbara. Um grande dia, tanto
para a igreja Católica quanto para o Candomblé. Também é um grande dia para
nós. Nascemos nesse dia. Justifica-se, pois, uma postagem especial, desde que
de uma certa forma, estamos envolvidos com a data, tanto quanto o povo da Bahia
e de diversas partes do mundo.
Comecemos bem por cima, no alto. Façamos uma oração à grande
santa:
Belíssima e extraordinária oração. Começa forte citando “as
torres das fortalezas e a violência dos furacões”; Pede que” as tempestades e batalhas da
vida sejam vencidas”, mas não esquece “ da consciência do dever cumprido”.
Amém.
Agora, vamos às origens da grande e bela santa.
Nasceu em Nicomédia, Ásia Menor. Apesar dos pais serem pagãos,
conseguiu instruir-se na religião cristã. Os pais queriam que ela casasse, mas
ela se opunha de todas as formas possíveis. Queria o amor supremo de Cristo. Em
conseqüência, o próprio pai denunciou-a ao prefeito da cidade onde morava. Era
o tempo do Imperador Maximiano nos primeiros anos do século IV. Implacavelmente
foi condenada à morte, sendo que o próprio pai se ofereceu para decapitá-la. Ai
ela se colocou de joelhos em atitude de oração enquanto o horrendo homem
executava sua própria filha. Felizmente, ele não durou muito. Na mesma hora foi
fulminado por um raio.
Bárbara era muito bonita. Hoje é apresentada com uma palma
significando o martírio pelo qual passou; um cálice como símbolo de sua
proteção aos moribundos e ao lado uma espada, instrumento de sua morte.
Mundialmente, Santa Bárbara de Nicomédia, é protetora das pessoas
e das cidades contra tempestades, raios e trovões. Por esta razão o Corpo de
Bombeiros, Mineiros e Artilheiros, têm a santa como sua padroeira.
Nicomédia (nome na Antiguidade Clássica) é uma cidade hoje conhecida
como İzmit, na Turquia. Situa-se no Golfo de İzmit, no Mar de Mármara e fica a
aproximadamente 100 km de Istambul (antiga Constantinopla).
Izmit
Atualmente İzmit, capital da província turca de Kocaeli com pouco
mais de 200 mil habitantes, é um importante centro comercial e industrial.
Possui um porto muito ativo e está localizada no mais importante eixo viário
turco, o que liga Istambul a Ankara, capital da Turquia moderna.
Do seu passado só restam algumas ruínas do porto da cidade, do
palácio imperial de Diocleciano, alguns trechos de um aqueduto e uma fonte do
século II d.C.. No dia 17 de agosto de 1999 um forte terremoto, que alcançou
7,4 na Escala Richter devastou a região causando mais de 14 000 mortes.
No século VI, as relíquias da Santa Mártir Bárbara foram
transladados para Constantinopla. No século XII, a filha do Imperador Bizantino
Aleixo Comenes, que também chamava-se Bárbara, após contrair matrimônio com o
príncipe russo Miguel Izyaslavich as transladou para Kiev, capital da atual
Ucrânia. Hoje suas santas relíquias descansam na Catedral de São Valdomiro em
Kiev.
Kiev
Santa Bárbara - Representação bem antiga
A imagem de Santa Bárbara foi trazida ao Brasil pelos portugueses
ainda no período colonial e passou a ser cultuada no século XVII, quando o
casal Francisco do Lago e Andressa de Araújo instituiu o Morgado de Santa
Bárbara, em 1641, em homenagem à filha Francisca. Este Morgado era composto por
prédios e capela dedicada à santa e localizava-se ao pé da Ladeira da Montanha,
transformado-se, com o tempo, em mercado.
Devido a um incêndio no Morgado, em 1898, do qual restaram apenas
ruínas e a imagem de Santa Bárbara, ela foi transferida, em 1938, para a Igreja
do Corpo Santo. A imagem esteve, ainda, nas igrejas do Paço, da Saúde, no
Mercado de Santa Bárbara e, atualmente, encontra-se na Igreja do Rosário dos
Pretos.
Durante todo este período e ainda hoje a santa é invocada em
momentos iminentes contra a morte trágica, trovões, armas de fogo, raios,
explosões e temporais.
No Candomblé, Santa Bárbara é Iansã. Por
essa razão era de se esperar que entre Santa Barbara e Iansã houvesse certa
semelhança de caracteres pessoais, mas não é o que acontece, na realidade.
Enquanto a Santa se resguarda na sua castidade, inclusive levando-a a ser
decapitada pelo próprio pai por não querer se casar, Iansã tem um procedimento
absolutamente diverso: foi mulher de Ogum com quem teve 9 filhos, abandonados
por ela e em seguida foi mulher de Xangô, seu verdadeiro amor.
As filhas de Iansã são mulheres audaciosas, poderosas,
autoritárias e dinâmicas. Estão sempre procurando algo para se ocupar, são
cheias de iniciativa e determinação. São mulheres que nunca passam
despercebidas, pois são combativas, teimosas e temperamentais, mas também podem
ser doces e meigas, quando possuem interesse em seduzir algum homem.
Então, como se explica a co-relação entre
as essas duas mulheres no contexto das duas religiões? Se pela igualdade de
procedimento não há como, resta-nos crer na diversidade entre as duas।
Achamos que é mais ou menos por ai. Por
exemplo, quando da realização da procissão que se faz todos os anos em
Salvador, enquanto determinado grupo entoa cantos do candomblé, outro ensaia
cânticos católicos.
Conta-se, por exemplo, que numa
determinada vez, o bispo sendo abordado a respeito, julgou absolutamente normal
as duas manifestações, afirmando categoricamente que Santa Bárbara é Santa
Bárbara e Iansã é Iansã. As duas devoções se conservam arraigadas às tradições
do povo baiano, ao ponto de trabalharem juntas na organização da festa.
Conta-se, por exemplo, que no meio de uma missa que antecedia a procissão,
aconteceu uma passagem inusitada – os que professavam o catolicismo passaram a
enaltecer Iansã e seus cânticos; por sua vez, os seguidores do Candomblé,
entoavam cânticos em homenagem à Santa Bárbara. Absoluto sincretismo que
costuma reger a maioria das festas da Bahia.
Outra prova: “Epa hey” uma saudação à
Iansã é comumente dirigida também à imagem da santa católica. “Santa Bárbara é
minha mãe” é outra muito comum e aí completa- “hoje é dia de homenagear a deusa
dos ventos, a rainha das tempestades”. Isso denota o amalgama em que se fundem
as religiões na Bahia.
A mesma imagem que sai do Rosário dos
Pretos é levada para a porta do Mercado de Santa Bárbara, que concentra as
manifestações africanas em favor de Iansã. No local de encerramento da grande
festa, as duas imagens estão lado a lado na mesma gruta.
Igreja Rosário dos Pretos no Pelourinho
Tornou-se tradicional em Salvador o famoso
caruru do Mercado de Santa Bárbara. Após a procissão que saí do Pelourinho;
desce a Ladeira da Praça e no quartel do Corpo de Bombeiros ao fim da mesma,
recebe as homenagens da corporação. Em seguida, o povo se encaminha até o
Mercado de Santa Bárbara onde é servido um grande caruru. Fala-se que são mais
de 70 mil quiabos.
É organizado pela Ialorixá Risalva
Silva Soares, 58 anos e conta com o apoio de mais de 80 ajudantes.
Ele teve inicio quando um dos seus filhos nasceu no dia da festa,
4 de dezembro. Como resultado, são distribuídas cerca de 10.000 quentinhas. É
uma tradição que se mantêm ao longo dos anos.
Por fim fica o encanto das coisas que não se explicam. Epa hey” Santa
Bárbara. Proteja-nos!
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