Esta semana
uma determinada pessoa nos pediu uma foto dos antigos baleiros de Salvador,
chamados também de queimadeiros, de queimados, (doces, balas e caramelos).
Não sabemos
para que ele queria. Talvez escrever sobre as profissões de antigamente e que
hoje não mais existem como é o caso específico do baleiro, do amolador de
tesouras e facas, do fotógrafo lambe-lambe, do verdureiro, do leiteiro, do
peixeiro, este dois últimos vendendo de porta em porta e tantas outras que os tempos
modernos extinguiram.
Fotógrafo Lambe-Lambe
Foi difícil achar uma foto de baleiro, mas ao final conseguimos:
Três baleiros- Um recostado a um poste e dois outros com o pé sobre a calçada. Todos os três amenizam o peso da cesta na perna dobrada.
Diríamos
mais que houve uma transformação ou substituição. Por exemplo, no caso dos baleiros que atuavam
principalmente nas portas dos cinemas de rua (desde que agora a moda é o cinema
de shopping), foram substituídos pelas modernas e luxuosas bombonières na ante-
sala de cada um que também serve pipocas e refrigerantes e em determinado caso, há pouco foi
inaugurada uma sala que também serve vinho ou champagne com tira-gostos e garçom
à rigor, enquanto os foguetes parecem sair da tela em sua direção e quando chove no filme os exaustores expelem vapor de água sobre a platéia.
Mas voltando
ao nosso baleiro ou queimadeiro, eram reunidos por determinadas famílias da
classe média. Geralmente, eram rapazes de 15 aos dezoito anos. A dona comprava os
produtos no atacado de doces e caramelos e vendiam no varejo através dos
baleiros.
Esses
portavam uma cesta de vime com alça e em razão do peso usavam também uma
correia de couro passada pelos ombros, a fim de livrar as duas mãos.
O formato da cesta é mais ou menos o indicado pela seta
Depois de arrumadas as cestas ficavam atraentes, coloridas e desejadas
Dirigiam-se
às portas dos cinemas, mas também vendiam nos abrigos de bondes.
Era um
negócio que devia dar um lucro razoável em se constatar que muitas famílias
adotaram o sistema.
E como era
feito o controle das vendas? Cada baleiro recebia determinada quantidade de
balas (unidades), drops, chocolates em tabletes, etc. etc.
No retorno
dos seus pontos de venda, apresentavam a cesta e a proprietária (o) contava o
que sobrou, item por item, e a diferença era o que foi vendido pelos preços
estabelecidos. A
remuneração dos pequenos profissionais era um proporcional sobre as vendas.
Saliente-se
também que quase todos eles almoçavam com a senhoria. Geralmente era um feijão
esperto com algum pedaço de carne sertão e choiriça. Nesse sentido, diz-se até que muitos
entravam na profissão pela garantia daquela refeição.
Um dia,
porém, um determinado baleiro metido a esperto resolveu consultar os preços dos
produtos em um atacadista do ramo. Constatou que a senhoria tinha um lucro
absurdo. Era 100% a diferença de preço. Pensou! E se ele ao vender um produto
de sua cesta e antes da conferência na casa da senhoria, comprasse o mesmo no
atacado e o colocasse na cesta, teria o ganho do produto substituído, além da
comissão que ela pagava do restante. Um manjar! Como não havia pensado nisto
antes?! Espalhou a boa nova aos demais companheiros. Todos começaram a fazer a
mesma coisa. Disseminou-se a prática. O resultado foi catastrófico para as
donas do negócio. Desconfiaram! Consultaram os atacadistas. Esses tiveram que
confessar que efetivamente, muitos baleiros estavam comprando os produtos em
seu balcão. Já havia proibido a venda a eles, mas usavam pessoas outras que não eram
baleiros e ficava difícil o controle.
Moral da
história. O negócio dos baleiros acabou. A feijoada não seria mais feita.
Muitos ainda tentaram uma autonomia, mas na sua grande maioria, todos
fracassaram e a profissão teve um fim melancólico.
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