Sem dúvida alguma que os
critérios técnicos urbanísticos de construção das cidades de antigamente e de
hoje mudaram muito. Atualmente, a mobilidade
urbana é a maior preocupação. Antigamente, a preocupação residia na proximidade
dos elementos que compunham a cidade.
Por essa razão, tudo era perto. A casa era
perto do trabalho, da escola e mesmo da
igreja.
Dessa maneira, as cidades foram
sendo construídas em blocos compactos. Terminado um bloco, começava outro, logo
após. As ruas eram estreitas, suficiente apenas para a passagem das pessoas e dos
animais.
Uma rua estreita do Pelourinho, mas dá para passar a bandinha dos garotos
Salvador é um ótimo exemplo desse
sistema. Após a construção dos primeiros imóveis do governo, da igreja e as
residências de seus moradores entre a atual Praça Castro Alves e o principio da
Rua da Misericórdia, tudo muito perto, a cidade avançou para a atual Praça da
Sé, ainda perto e se fez novos blocos de casas e igrejas. Em
sequência, continuou pelo Terreiro de Jesus, Pelourinho, Taboão e Santo Antônio,
não muito longe.
Por sua vez, do outro lado, de São
Bento, a mesma coisa, até alcançar São Pedro e Piedade
.
Descendo a ladeira, no Comércio, a
mesmíssima coisa. A cidade se concentrava entre a Preguiça e o Pilar. Tudo a pé
ou a cavalo. Naturalmente, como a cidade
foi construída em dois planos em razão de uma falha geográfica, fizeram-se elevadores e
planos inclinados e teve inicio a construção das primeiras ladeiras, não
ladeiras para veículos, mas ladeiras para se descer e subir à pé e para quem
podia em liteiras carregadas por escravos.
Uma liteira
Com o tempo, alguns setores da cidade começaram a ficar mais
longe. Não dava mais para ir a pé e nem todos podiam usar cavalo. Ai surgiram diligências
puxadas a cavalo, charretes e até mesmo os primeiros bondes com tração animal. Vieram
os trilhos como que disciplinando o tráfego.
Diligência à cavalos
Bonde à cavalos sobre trilhos
Houve como que um domínio das distâncias e para tanto os
governos programaram sucessivos avanços a locais mais longícuos.
Foi o caso da construção da Avenida 7 de setembro, ligando o
centro da cidade à Barra e foi também o caso da Avenida Jequitaia, ligando o
bairro do Comércio à Calçada.
Sobre as obras da Avenida 7 de setembro este blog tratou por
diversas vezes, principalmente no que se refere a destruição de diversas
igrejas no percurso como foi o caso, por exemplo, da Igreja de São Pedro na
foto adiante:
A avenida passou por cima dela. Resultou numa grande
celeuma. Além dos templos, foram demolidos quarteirões inteiros de casas, sem
dó nem piedade. Na época alegou-se que assim estava sendo feito em razão das pestes que
assolaram Salvador àquela época. Fazia-se uma espécie de saneamento. A verdade,
contudo, era outra. Prevaleceu a vontade de construir a avenida e valorizar áreas
antes pouco habitadas. Estávamos no principio do século passado.
Depois foi a vez da construção da Avenida Jequitaia, ligando
o Comércio à Calçada, obra iniciada por volta de 1939. Também foi complicado,
principalmente em razão de que o mar chegava muito perto dos caminhos que deram
lugar a grande avenida. Por sua vez, do
outro lado, limitando a ação de expansão, corriam as encostas dos morros da
cidade alta de Santo Antônio, Lapinha, Barbalho e Liberdade.
Da mesma forma do que aconteceu na construção da Avenida
Sete, também na construção da Avenida Jequitaia teve que ser demolida muita
coisa, inclusive uma igreja maravilhosa situada no litoral do Pilar de pouca
gente conhecida.
Referimo-nos à Igreja do Hospício do Pilar, também conhecida como a igreja dos padres Carmelitas Descalços, igreja esta cuja construção se deu no século XVI. Hoje o local é a Travessa do Pilar.
A igreja vista do mar. À esquerda, a igreja do Pilar
Já sem as torres - Começava o estrago
Noutro ângulo
Segundo muitos estudiosos, a demolição não se fazia
necessária. A área aterrada ficava atrás da igreja. Foi um crime contra o
patrimônio da Bahia.
A Ordem dos Carmelitas Descalços (ou, simplesmente, Carmelitas Descalços, O.C.D.) é um ramo da Ordem do Carmo, formado em 1593,
que resulta de uma reforma feita ao carisma carmelita elaborada por Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz.
Santa Tereza de Ávila
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