Por mais incrível que possa parecer, cerca de 6 quilômetros de vista do nosso mar está obstruída na Cidade Baixa a partir do 1º Armazém do Porto no Comércio, até o Largo da Boa Viagem. Especificando a obstrução: primeiramente, são os armazéns números 1 a 9; em seguida as duas feiras– Água de Meninos (desativada) e São Joaquim (em reforma); Largo da Calçada; toda Barão de Cotegipe; Largo de Roma; igualmente toda a Av. Luiz Tarquínio até o Largo da Boa Viagem.
Só ai o mar reaparece.
Agora, abre-se uma nova perspectiva com a demolição dos armazéns 1 e 2 para a construção de uma nova estação marítima e nessa oportunidade parte do mar se descortinará aos nossos olhos.
Verdade que a "abertura" não deve passar dos 500 metros, mas é tão carente a Cidade Baixa de mar que lhe é tão próximo, que já estamos comemorando o feito como se fosse uma redenção extraordinária e poderá sê-lo.
Quem sabe se após a conclusão da obra, mais dois ou três, talvez cinco armazéns, não sejam postos abaixo e toda essa área possa nos colocar de novo junto ao mar, como era antigamente.
Quem sabe se após a conclusão da obra, mais dois ou três, talvez cinco armazéns, não sejam postos abaixo e toda essa área possa nos colocar de novo junto ao mar, como era antigamente.
Será que estamos sonhando coisas impossíveis de acontecer? Não estamos! Sabe-se que nos planos de expansão do porto, fala-se em construções de novos atracadouros projetados na vertical das avenidas que lhe dão acesso, inclusive, muitos deles na projeção onde era a Feira de Água de Meninos.
Por outro lado, comenta-se com frequência, a desapropriação dos imóveis (caindo aos pedaços) de toda a Barão de Cotegipe e Luiz Tarquinio e a construção de uma grande avenida à beira-mar.
Mas ali funciona um comércio de muitas lojas, principalmente de equipamentos elétricos e outros? Claro que não devemos esquecê-las. As mesmas poderiam ser deslocadas para "shoppings" com 4 a seis andares ao longo dessa avenida com espaçosos estacionamentos neles próprios, como são os que hoje temos para outros setores do comércio. Na Pituba, por exemplo, tem um shopping só de materiais para casa e outros destinos. Vive cheio! Claro que as vendas iriam crescer. O que não pode é continuar a degradação arquitetônica desses dois lugares, além da obstrução da vista do mar e a falta de estacionamento.
Infelizmente, não somos arquitetos para formar uma maquete de como ficaria esta região. Em compensação, temos um arquivo de fotos e pinturas de como era a Cidade Baixa antes da intervenção dos diversos governos nessa área; melhor dizendo, antes mesmo dos aterros.
Era uma cidade belíssima, tendo o mar como seu principal ornamento. Vejamo-la:
Inicialmente, uma reprodução da tela de Diogenes Rebouças da Enseada da Preguiça. Uma praia em frente a um corredor de prédios de quatro andares. No alto da tela, o Convento de Santa Tereza.
- O painel acima acha-se na Estação da Navegação Baiana, junto à Via Náutica. Mostra parte da Preguiça; a Igreja da Conceição da Praia e o Elevador Lacerda (o antigo). No alto vê-se os arcos da Ladeira da Conceição da Praia.
Na sequência, outra tela do mesmo pintor. É o nosso atual Mercado Modelo. Na época era a Alfândega. O mar chegava nas suas laterais e fundo. Como deveria ser belo!
Acima, outra foto do Cais das Amarras. Vê-se, ao alto, a antiga Sé da Bahia (à direita) e a atual Catedral. A primeira tem a frente voltada para o mar e a segunda deu as costas para o mar (velha tendência). Entre as duas, as edificações do antigo bairro da Sé, destruído para dar passagem aos bondes da antiga Companhia Circular da Bahia. Hoje é a Praça da Sé.
À esquerda da foto acima, vê-se os prédios que circundavam o Cais das Amarras e um sem número de pequenas embarcações. No mais os prédios baixos do antigo Comércio.
Ao final do Cais das Amarras, deparamo-nos com o prédio e o obelisco da Associação Comercial da Bahia. O mar ficava próximo ao monumento. Sensacional! Vejam a foto seguinte. É impressionante a beleza da praça onde se encontram esses dois monumentos:
A rua Miguel Calmon veio desembocar nessa praça. O então governador da época queria passar por cima do monumento e da Associação Comercial. Há de se reparar o Cais das Amarras ao fundo com seus prédios alinhados ao estilo pombalino. Foram todos derrubados para que fosse feito o aterro do qual originou o atual Porto de Salvador. Além do erro técnico da construção de um porto nesse local, (assunto já largamente comentado nesse blog), faltou sensibilidade. Essa gente não tinha nenhum conceito de beleza. Ou não conheciam a cidade ou não gostavam dela, ou as duas coisas juntas e tanto isso é verdade que a bombardearam à partir do Forte de São Marcelo.
Acreditem que é verdade! Este é o Forte Santo Alberto em Água de Meninos
. Foi construido pelo Governador D.Diogo de Oliveira e reconstruído em setembro de 1722 pelo Vice-Rei, o Conde das Galveas.
Hoje, quem passa pela Avenida Jequitaia vê o referido forte, agora pintado de branco. Antes o mar batia em seus costados.
Seguindo, uma rara pintura da Igreja e Orfanato São Joaquim. O mar chegava perto. Só não lhe alcançava porquê existia um elevado verde à sua frente. Reparem atrás que, ainda não havia nenhuma construção no morro. Hoje é uma imensa favela que se estende até Paripe.
Colégio e Igreja de São Joaquim
Finalizando, reproduzimos duas fotos preciosas. Uma da área onde mais tarde se instalou a Feira de Água de Meninos.
A outra foto é onde hoje está a Praça Marechal Deodoro no Pilar. Reparem a beleza que era. Um bonde caminha pelos trilhos que marcavam o chão da antiga Salvador. Sente-se que a cidade era bem cuidada e belíssima.
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