6ª PARTE: PLANO
INCLINADO GONÇALVES
O Plano Inclinado
Gonçalves no bairro do Comércio está fechado por quase dois anos, trazendo
enorme prejuízo aos que precisam usá-lo a partir da Praça da Sé e aos
comerciantes da Cidade Baixa que tiveram o seu faturamento diminuído por falta de circulação de pessoas na área.
Dizem que a
paralisação não é devida a problemas técnicos do próprio “plano” e sim à
possibilidade de desabamento de um prédio na lateral ,à esquerda do equipamento.
Se é verdadeira a
informação, então, que se tome as providências necessárias ou demolindo o
referido prédio ou o ancorando de alguma forma..O que não é admissível é deixar
esse meio de transporte parado por quase dois anos.
É o que o novo
prefeito tem que fazer urgentemente. Nesse sentido, as pessoas têm que
compreender que os elevadores e planos inclinados de Salvador não são apenas
uma atração turística de nossa cidade. Eles são equipamentos para melhorar e
facilitar a mobilização dos habitantes da cidade. É algo absolutamente indispensável!
Oportunamente, vejamos
o que escrevemos sobre esse equipamento o ano passado:
A Cidade de Salvador possui uma topografia íngreme que marcou a história
da sua ocupação territorial desde os tempos do Brasil Colônia। À princípio foram
feitas as ladeiras. A primeira delas fazia a ligação entre Santo Antônio Além
do Carmo e a Praia da Jequitaia, onde se localizou, por algum tempo, a Feira de
Água de Meninos. Na época foram construídos os Fortes Santo Alberto e Barbalho,
para garantir esse acesso.
Por ela subiam as mercadorias provindas do Porto da Lenha. Praticamente, não
havia comunicação entre a Jequitaia e a área onde é hoje o Porto de Salvador.
Posteriormente, se fez a primeira ladeira nessa parte da cidade. A Ladeira da
Conceição ligando a Porta Sul da Cidade à parte baixa, onde se construía a
Igreja da Conceição da Praia. Não era, entretanto, o lugar ideal para o
transporte de mercadorias para a Cidade Alta. Ficava um pouco distante do
“centro”, localizado onde é hoje a Praça Municipal com extensão para a Rua da
Misericórdia, Praça da Sé e Carmo, onde existia a porta norte com este nome.
Nesta área a cidade se estruturava com novos prédios, notadamente conventos e
igrejas. No local, entretanto, não existia nenhuma ladeira. A Ladeira da
Montanha foi construída muitos anos depois. Já se desenhava, entretanto, a
Ladeira da Misericórdia, mas de pouco alcance. Não alcançava a parte baixa da
cidade.
Mas era necessário levar materiais lá para cima. Foi ai que os padres jesuítas
que começavam a construir o chamado Colégio dos Jesuítas, montaram um guindaste
conhecido na época como “Guindaste dos Padres”. Decorria o Século XVII. Não era
inclinado. Somente em 1889 foi transformado em plano inclinado.
Esses guindastes usavam alavancas com cabos. Depois foram eletrificados.
Vejamos algumas descrições de cronistas da época:
Em 1610 um deles, chamado Pirare de Leval, descreveu esses guindastes como sendo “uma certa máquina destinada ao transporte de cargas com dois carrinhos sobre trilhos a trafegar simultaneamente”.
Poucos anos depois, outro de nome Francisco Coreal descreveu: “espécie de guindaste com uma boa talha onde havia polias e cordas subindo à medida que a outra descia”.
Isto funcionou até o ano de 1888. Neste ano, uma empresa inglesa sem experiência no setor de funiculares - sistema de transporte cuja tração é proporcionada por cabos, utilizados em locais onde há grandes diferenças de nível- recebia uma encomenda dos primeiros carros constando de uma plataforma plana destinada a transportar animais de carga. Era uma plataforma aberta. Mais tarde foi encomendada uma cabina fechada para transporte exclusivo de passageiros. Na época, chamava-se “chariot” (carro).
Nada funcionou! Dinheiro jogado fora. Teve até acidentes. Foi fechado durante muito tempo.
Ai se fez nova encomenda, desta feita a uma empresa alemã de nome Maschinenfabrik Esslingen, perto de Stuttgard. Foi fornecido um completo sistema funicular, incluindo trilhos, cremalheira, carros, propulsão a vapor e cabos. A construção das estações superior e inferior ficou a cargo da Prefeitura. O nome original da linha foi Dona Izabel, uma princesa real, mas como o Brasil a esse tempo já era uma República, o nome foi considerado impróprio e a linha recebeu o nome de um diretor da empresa, Engenheiro Manuel Francisco Gonçalves.
Esse fato gerou uma confusão de nomes que até hoje perdura. Inicialmente, a Prefeitura não fez a comunicação aos fabricantes e em determinado livro de autoria de um engenheiro alemão chamado Hefti, foi citado que o elevador chamava-se Izabel.
Isso ocasionou citações históricas que teriam existido dois elevadores inclinados: o Izabel e o Gonçalves, o que não coaduna com a verdade.
Outra confusão refere-se ao próprio nome Gonçalves। Certa feita, alguém chamou o elevador de Gonçalves Dias. Ora! Gonçalves Dias foi um grande poeta maranhense, autor desses versos maravilhosos:
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida
Nossa vida mais amores"
Nada haver, entretanto, com o elevador। Fica o registro, esperamos que definitivo.
Em 1931 mais uma reforma foi feita com novos carros do tipo plataforma da
empresa Brill na Filadelfia/EUA, usando pólos de trole com linha elétrica। No mesmo tempo a
inclinação da linha foi alterada para adaptar as plataformas nos estações aos
novos carros, as escadarias das plataformas das estações foram cobertas e
plataformas planas foram introduzidas. Novos trilhos do gabarito estandarte -
1435 mm - foram instalados, e a cremalheira foi removida.
Ao longo dos anos,
passou por períodos de fechamento até que foi revitalizado em 1998.
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