segunda-feira, 18 de novembro de 2013

AS OLARIAS DE GARCIA D'ÁVILA

É sabido que Dias D’Ávila veio com Tomé de Souza para o Brasil. Comenta-se até que ele era filho do homem, portanto pessoa de sua inteira confiança. De imediato o nomeou como “Feitor e Almoxarife da Cidade de Salvador e da Alfândega”. Em pagamento dos seus serviços recebeu do pai um casal de bovinos da raça delore que tinha vindo numa das naus. (Gabriel Soares refere-se simplesmente a  "duas vacas" ) Esses animais foram colocados num curral que se construiu em Itapagipe, daí se originando um rebanho de bom número que se estendeu depois para outras partes de Salvador, inclusive Itapuã.

Essa é apenas uma parte da história. Em verdade, Garcia D’Ávila que além de filho, fazia parte do “staff” de Tomé de Souza junto com Luiz Dias, teve uma incumbência muito mais importante para os lados de Itapagipe: foi encarregado de uma importante missão: a construção de olarias para fabrico de tijolos que serviriam na construção da cidade.

Uma olaria

Por onde essa história se consolida como verdadeira? Mais uma vez pelos escritos de Gabriel Soares de Souza, cronista da época. Escreveu ele: “nesta porta de Tapagipe estão umas olarias de Garcia D´Ávila e um curral de vaccas do mesmo, a qual ponta em chegada ao cabo d’ella em uma aberta de arrecifes, por onde entram caravelões que com tempo recolhem aqui, e de boca da barra para dentro tem uma calheta onde estes caravelões e barcos estão seguros”.

Vamos como que “traduzir” ou “interpretar” os escritos bem portugueses do cronista daquela época a quem já nos referimos varias vezes nesse blog. “nesta porta de Tapagipe estão umas olarias de Garcia D’Ávila”.  “Nesta porta” pode significar que se trata do principio ou meio da península, aí pela Calçada até no máximo Monte Serrat. “Tapagipe” de onde se originou o nome Itapagipe, “estão umas olarias de Garcia D’Ávila” – Claro, pertencentes à Garcia D´Ávila “E um curral  de vaccas do mesmo” – De vaccas não quer dizer que apenas eram vacas, mas igualmente de bois para formação de uma rebanho como se deu, reconhecidamente.

Em seguida Gabriel Soares de Souza se refere: “a qual ponta em chegada ao cabo d’ella em uma aberta de arrecifes”. Aí é só para quem conhece a área. Vamos a ela.



Acima a Peninsula de Itapagipe. O indicador ao alto indica Monte Serrat (Forte); o outro indica o acesso entre os recifes existentes na área.  

Ao alcançar a ponta “chegada ao cabo dela”; numa brecha ou passagem nos recifes “uma aberta de arrecifes”; uma abertura por onde entram as caravelas, “por onde entram caravelões”; e ficam depois recolhidas na boca da barra, mais para dentro, onde tem uma enseada na qual essas caravelas e barcos ficam seguros, e de boca da barra para dentro tem uma calheta onde estes caravelões e barcos estão seguros”.

Um detalhe poderia ser acrescentado a esta descrição. Nas proximidades existiam bons barreiros nas escapas de Monte Serrat. (Rua Rio São Francisco), bem como uma fonte de água doce que poderá ter sido o aquífero de Pedra Furada. 

Um outro aspecto bem significativo diz respeito ao local onde as caravelas de Tomé de Souza agora aportavam. Ao que tudo indica  na Enseada da Preguiça, dentro da boca da barra. 

Numa determinada parte dos escritos de Gabriel, ele conta que Tomé de Souza não achou segura a permanência de suas naus no atual Porto da Barra e pediu aos seus comandantes que procurassem dentro da Baia de Todos os Santos um lugar mais seguro. Feita a busca, foi indicada a Enseada da Preguiça como sendo o local ideal. Além de seguro, tinha a conveniência de ser muito próximo do local onde seria a Cidade de Salvador.(ver nossa postagem:) “As Naus de Tomé de Souza aportaram na Enseada da Preguiça” de 7/11/2013”.

Também muita coisa muda de relação ao transporte da madeira carbonizada que chegava no Porto da Lenha. Até então, nós inclusive, dizíamos que a mesma subia a Ladeira da Lenha; alcançava o alto do Bonfim e após ele chegava-se à praia; daí seguia até a altura da hoje Água de Meninos e aí subia a Ladeira da Água Brusca, até alcançar os portais de Santo Antônio do Carmo.

Não se pode dizer que não tenha havido esse trajeto, contudo, ao que tudo indica, na maioria dos casos, o caminho era o mar. Sempre o mar. Uma tendência muito nossa, da Baía de Todos os Santos.


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