De acordo com o que escreveu Gabriel Soares de Souza em seu
Tratado Descritivo do Brasil, Tomé de Souza após aportar suas naus e caravelas
no Porto – Vila Velha – não achou segura a permanência das mesmas nesse local.
Vejamos o que escreveu o nosso primeiro cronista:
“Como Tomé de Sousa acabou de
desembarcar a gente da armada e
a assentou na Vila Velha,
mandou descobrir a baía, e que lhe buscassem
mais para dentro alguma
abrigada melhor que a em que estava a armada
para a tirarem daquele porto
da Vila Velha, onde não estava segura, por
ser muito desabrigada; e por
se achar logo o porto e ancoradouro, que
agora está defronte da cidade,
mandou passar a frota para lá, por ser
muito limpo e abrigado; e como
teve a armada segura, mandou descobrir
a terra bem, e achou que
defronte do mesmo porto era melhor sítio que
por ali havia para edificar a
cidade, e por respeito do porto assentou que
não convinha fortificar-se no
porto de Vila Velha, por defronte desse
porto estar uma grande fonte,
bem à borda da água que servia para
aguada dos navios e serviço da
cidade, o que pareceu bem a todas as
pessoas do conselho que nisso
assinaram”.
Pelo que se depreende, claramente, Tomé de Souza transferiu suas
naus para um novo “porto e ancoradouro”. Logo
percebeu que defronte desse porto era o melhor lugar para edificar a cidade.
Para quem conhece Salvador e vem pesquisando sua formação,
defronte onde seria a cidade só mesmo a Preguiça, inclusive onde se torna mais fácil a subida e descida das pessoas, mas será que seria ela desprotegida
ou descampada como hoje acontece, não fosse a construção de uma Marina no local?
- Evidentemente que não – Gabriel referiu-se ao local como
sendo um porto e ancoradouro e a frota foi logo transferida para lá.
Em assim sendo, é absolutamente lógico e claro que no local
havia uma enseada, aliás, uma grande enseada, ou seja, uma deslocação para
dentro da linha do mar.
Enseada da Preguiça - Como deveria ser
Como seria a Enseada
da Preguiça (Traço Branco): Teria começo na praia à direita ao lado do
Restaurante Amado. Aprofundava-se até a altura da Igreja da Conceição da Praia
(na época apenas uma ermida); corria pela atual Rua da Preguiça até próximo ao
atual Elevador Lacerda; prosseguia até o Plano Gonçalves e fechava onde é hoje
a Praça Riachuelo.
Vamos tentar consolidar esta hipótese trazendo à mostra
fotos e representações do local. A primeira delas é um painel existente na sede
da Companhia Navegação Baiana. Belíssimo e esclarecedor. É da autoria do
artista Udo Knoff:
Painel existente no Terminal Marítimo de Salvador
O mar chegava próximo à igreja e ao Elevador Lacerda, na época ainda Elevador da Conceição. Reparem o cais de contenção. É evidente que é apenas uma representação, daí embarcações dos tempos de hoje.
Enquanto atrás tivemos a ficção de uma representação artística, a foto acima atesta uma realidade - o mar chegava próximo à encosta, junto às casas, igrejas, elevadores, etc... Era uma enseada mesmo!
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