Muito se fala no charme da antiga Rua Chile aí pelos idos de 1940/50 e, possivelmente, um pouco mais. Claro que a maioria das pessoas que escreveram sobre ela nos tempos atuais apenas “imaginaram” como ela foi, fazendo “suposições” de seus encantos. Absolutamente normal! Em nosso caso, tivemos a felicidade de conviver com ela, de vê-la no auge, em razão de que somos daquela época. Não da Rua Chile estreita nos anos de 1912, mas da Rua Chile já alargada dos anos 40 e 50 do século passado. Esse autor estava na extraordinária fase da mocidade. Plena mocidade e não temos pejo de quase revelar a nossa idade. Não é pecado! Umas pessoas vivem mais, outras menos. É o destino! É a vida!
Estamos fazendo questão dessas referências para transmitirmos aos nossos leitores uma maior credibilidade aos relatos। Somos testemunhas vivas de uma fase da cidade। Aliás, uma das razões que nos levaram a escrever este blog, foi esta. Presenciamos boa parte do seu desenvolvimento. Era importante que escrevêssemos sobre ela, diziam os amigos que sabiam que gostávamos de escrever. Eles estavam certos! Todas as pessoas deviam prestar depoimentos públicos de suas experiências. O mundo seria melhor e mais autêntico. Não se inventaria tanto como vemos por aí, muitas vezes por conveniências suspeitas.
Rua Chile antigamente!
Como toda a rua, a nossa Rua Chile tinha sua rotina no que se refere a sua frequência. Pela manhã muitos estudantes circulavam por ela, especialmente do Colégio São Salvador que ficava atrás da Rua da Ajuda. Tradicional estabelecimento de ensino! Também era o horário preferido pelas senhoras em compras, principalmente nas Duas Américas e Sloper, as principais casas comerciais da bela via.
A Duas Américas era o principal magazine da cidade. Estava instalada num prédio de três andares. Todos os seus balconistas trabalhavam de camisa de manga comprida e gravata. Eram muitos! No terceiro andar funcionava uma lanchonete que o povo chamava de “Casa de chá” das Duas Américas. Vivia sempre cheia.
Rua Chile - A seta preta indica onde era o Magazine Duas Américas (incendiou) e a seta amarela aponta onde era a Sloper (hoje é um banco).
Cheia também ficava a Cantina de Lourdes, após a Sloper. Funcionava em pequeno espaço de uma só porta.
À nível de lanches rápidos, como se pode notar, havia uma acentuada precariedade em comparação aos dias de hoje. Para ajudar na situação, o povo contava com a Pastelaria Triunfo, já na Praça Municipal e o Café das Meninas na esquina da Rua do Tira Chapéu com a Rua D’ Ajuda. Pertencia à família Gramacho.
Verdade que naquela época os hábitos alimentares da população eram muito outros, mesmo dos estudantes. Esses faziam seus lanches nas cantinas das próprias escolas. O povo de um modo geral comia um acarajé na baiana da esquina. Faltava-lhe recursos financeiros. O poder aquisitivo da população em geral era muito baixo.
Almoçar fora, por exemplo, era um costume para muito pouca gente. A Rua Chile possuía dois restaurantes, mesmo assim pertencentes a hotéis: Hotel Chile e Pálace Hotel. Parece que o Hotel Meridional também possuía o seu. Naturalmente se sustentavam mais em função de hóspedes de outros estados do que mesmo da população local. Verdade que às quintas-feiras o Hotel Chile fornecia um escaldado de peru que conseguia atrair o público local.
A Duas Américas era o principal magazine da cidade. Estava instalada num prédio de três andares. Todos os seus balconistas trabalhavam de camisa de manga comprida e gravata. Eram muitos! No terceiro andar funcionava uma lanchonete que o povo chamava de “Casa de chá” das Duas Américas. Vivia sempre cheia.
Rua Chile - A seta preta indica onde era o Magazine Duas Américas (incendiou) e a seta amarela aponta onde era a Sloper (hoje é um banco).
Duas Américas- Foto raríssima
Mulher de Roxo em frente á Sloper de Salvador
Cheia também ficava a Cantina de Lourdes, após a Sloper. Funcionava em pequeno espaço de uma só porta.
À nível de lanches rápidos, como se pode notar, havia uma acentuada precariedade em comparação aos dias de hoje. Para ajudar na situação, o povo contava com a Pastelaria Triunfo, já na Praça Municipal e o Café das Meninas na esquina da Rua do Tira Chapéu com a Rua D’ Ajuda. Pertencia à família Gramacho.
Verdade que naquela época os hábitos alimentares da população eram muito outros, mesmo dos estudantes. Esses faziam seus lanches nas cantinas das próprias escolas. O povo de um modo geral comia um acarajé na baiana da esquina. Faltava-lhe recursos financeiros. O poder aquisitivo da população em geral era muito baixo.
Almoçar fora, por exemplo, era um costume para muito pouca gente. A Rua Chile possuía dois restaurantes, mesmo assim pertencentes a hotéis: Hotel Chile e Pálace Hotel. Parece que o Hotel Meridional também possuía o seu. Naturalmente se sustentavam mais em função de hóspedes de outros estados do que mesmo da população local. Verdade que às quintas-feiras o Hotel Chile fornecia um escaldado de peru que conseguia atrair o público local.
O Hotel Chile é o terceiro prédio à direita
Era no turno da tarde que a Rua Chile fervia, principalmente à partir das 5 horas. Para começo de conversa, enchia-se de políticos vindos da Assembléia que funcionava nas proximidades da Praça da Sé, esquina com a Rua Guedes de Brito. Todos de paletó e gravata formavam pequenos grupos nos passeios da rua, principalmente aquele do lado do Palácio Rio Branco. Do outro lado, aquele do Paláce Hotel, era normal ver-se artistas do rádio e do teatro brasileiros. Procópio Ferreira era dos mais constantes. Cauby Peixoto, Wanderlei Cardoso, Jerry Adriani, também eram vistos com freqüência. Em meio da trupe misturavam-se as bailarinas do Tabarís Night Club, situado mais embaixo na Praça Castro Alves. Com muito respeito.
E para completar a festa, em meio a esse aglomerado de gente, circularam as “beldades” da terra. Era um “footing” tradicional. Flertavam mais do que namoravam desde que não tinham como parar, aliás, nunca deveriam parar porque no dia seguinte estariam “faladas”.
Geralmente todas estavam com seus melhores vestidos e no pescoço e nos braços suas melhores jóias. Sim! Jóias, em plena Rua Chile. Mais ainda: saiam de casa em ônibus ou bonde dessa forma. Pouca gente tinha carro. Mesmo os homens, até mesmo os deputados, os advogados, os médicos, raríssimos eram os que possuíam um veículo próprio.
Havia um acentuado apuro no vestuário das moças. Nada de exagerado, contudo. Ainda se mantinha certo pudor nos decotes e encurtamento das saias, talvez ainda reflexo do princíipio do século quando a imprensa atacava feio. Reparem o seguinte comentário publicado no jornal A Coisa:“ É o requinte da imoralidade andarem pelas ruas umas uma mulheres em mangas de camisa, mostrando umas malacas de arroba e tanto, muitas vezes. Acabe-se com isso por amor à decência, já que essa gente não o tem no corpo. Mas acabe-se também com os vestidos curtos que deixam à mostra qual um pedaço de perna que nem sempre é grossa nem bem feita. (...)”
Aos sábados, o rebu começava cedo, aí pelas 10 horas da manhã e se estendia até perto das 13. O pessoal circulava de um lado para outro, inventando interesses inexistentes. Iam de uma loja para outra, sem nada comprar. Os balconistas se perdiam negócios, por outro lado, ganhavam a simpatia das meninas, um sorriso muitas vezes. Fazia parte.
Pela tarde, é a hora do cinema e do sorvete na Cubana. Nas redondezas havia os cinemas Excelsior, Liceu, Gloria e Guarani. Depois surgiu o Art na Rua D’Ajuda
Antigo Cinema Guarany
Após as seções, invariavelmente se dirigiam à famosa sorveteria nas balaustradas da Praça Municipal, ao lado do Elevador Lacerda. Cruz Vermelha, Fantoches, eram os sorvetes mais preferidos, acompanhados de um bolinho que era famoso na época. Ainda fazem nos dias de hoje, mas não tem o mesmo sabor do de antes. O “milk-shake”, sorvete batido com leite e chocolate, também era muito pedido.
Sorveteria A Cubana
Aos domingos, só havia movimento à tarde. Não fossem as lojas fechadas, seria o mesmo programa dos sábados. Para compensar, no entanto, as principais lojas mantinham as vitrinas abertas, daí a razão de se retardarem até as sete e mesmo às oito da noite. Dormia-se cedo. Às nove da noite, todo mundo já estava na cama. Mais antigamente, o Forte de São Marcelo dava um tiro de festim às 9 da noite, anunciando a hora de dormir. Já contamos essa história. Após os acontecimentos do dia 10 de janeiro de 1912 quando esse forte dirigiu seus canhões contra a própria cidade, o tal do tiro deixou de ser dado. Certamente a população se lembraria daquela barbaridade, uma estupidez sem limite. Também contamos que para substituir o festim do Forte do Mar, o governo da época encomendou em Paris, um relógio. Montou-o em São Pedro. Ficou restrito àquela área. Não repercutiu muito e não era para tal. Com o tempo o povo haveria de esquecer. Aliás, sempre esquece!
A Cubana - Tradicional sorveteria de Salvador - Desde 1930
Á noite
A Sorveteria Cubana foi fundada em 1930 pelo senhor Baltazar Moas, exiliado de Cuba durante a revolução naquele país. Moas era ministro e quando chegou a Salvador trouxe, pela primeira vez, a novidade do sorvete
Falou-se tanto, ou melhor, escreveu-se tanto e não foram citados os nomes das demais lojas que compunham o cenário da Rua Chile. Além das Duas Américas e da Sloper, defronte funcionava o Adamastor. Estranho nome, não é? Significa no imaginário luso a um gigante indômito, uma figura híbrida desde que, ao mesmo tempo, seria uma dama. Era adorado e temido pelos navegadores portugueses.
Não é sem razão que o Adamastor foi uma das últimas lojas a fechar após a decadência da Rua Chile
O Adamastor – Já fechado - Pertenceu ao pai de Glauber Rocha
A Moda ficava ao lado do Adamastor; Nova América, eram lojas de moda feminina; logo adiante a Casa Alberto que depois se transferiu para a Rua da Ajuda. Do outro lado, a Nova América especializada em tecidos femininos; uma Joalheria, a Nóvoa e uma grande drogaria, a Farmácia Chile, esquina com a Rua do Tira Chapéu.
Nesse prédio de esquina (amarelo) funcionava no térreo a Farmácia Chile
Rua do Tira Chapéu (as pessoas quando trsnsitavam por essa rua "tiravam o chapéu" em respeito ao local 9 (Prefeitura) - Na esquina (AMARELO) ficava o Café do Gramacho, tradicional ponto de encontro.
Mais anteriormente, ainda ao tempo da Rua Chile estreita, funcionava no número 12 a Chapelaria Mercury de propriedade do avô da cantora Daniela Mercury e ainda no mesmo estilo a famosa casa da Música Eduardo Gomes; a Sapataria Clark situada no número 17; as lojas Mottau e Santa Cecília de vestuário nos números 19 e 27 respectivamente e mais algumas de menor porte, como por exemplo, um armarinho de propriedade do senhor Salomão Attar.
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