quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O MISTERIOSO ESTÁDIO DO E.C. BAHIA


O surgimento dos shoppings em Salvador, principalmente o Iguatemi, alterou completamente a forma ou o caminho do crescimento urbano de Salvador. Antes de 1976, Salvador estava como que limitada aos espaços então existentes. Ao norte crescia invadindo o mar ou tomando as encostas; ao sul com o surgimento dos edifícios da Vitória, Graça , Barra Avenida e Chame-Chame, a maior parte substituindo antigas casas. Não havia outra maneira!
Nesse contexto, surgiu por acaso o Shopping Iguatemi em terreno existente nas proximidades da saída da cidade para Feira de Santana, próximo à Estação Rodoviária inaugurada em 1974.
Esse terreno pertencia ao pai de Jaime Saldanha, ex-preparador do Esporte Clube Bahia. Compreendia todo o Iguatemi de hoje mais o espaço ocupado pelo ex-Super-Mercado Paes Mendonça, hoje Wall Mart.
(possivelmente, parte do Caminho das Árvores também pertencia ao referido senhor).
Por acaso? Dissemos acima. Confirmamos que foi por acaso. Vamos à história: poucos sabem que nesse terreno (Iguatemi/Wall Mart) ia ser construído o estádio de futebol do Esporte Clube Bahia – O Estádio Tricolor- seria assim chamado.
Já havia até uma placa no local com a alusão a essa construção.

Sim, foi escrito assim: “o misterioso estádio do Esporte Clube Bahia” e bota misterioso nisto.

Articulistas, como o senhor Wilson Santos, comentaram o fato na imprensa. Disseram: “ ...ninguém lembra que em 1971, às vésperas da reinauguração da Fonte Nova, o Bahia chegou oficialmente a anunciar a construção de seu estádio, numa área onde hoje estão instalados o Shopping Iguatemi até os limites do terreno do Grupo Wall Mart, que controla a rede de super-mercados Bom Preço. O estádio teria a capacidade  de 110.000 pessoas sentadas, tão grande quanto o Maracanã e o prazo de sua construção estava previsto para 23 meses, ou seja, seria inaugurado em 1973.

O grande lance nessa construção diz respeito à forma como seria feito o seu financiamento. O Bahia não gastaria um centavo. Seriam vendidas cadeiras cativas e esses acentos (dez mil) ficariam sendo propriedade da empresa construtora (Odebrecth). Seriam gastos na obra R$6 milhões.
Nesse período (1970/1972) foram presidentes os senhores Manoel Inácio Paula Filho e Alfredo Saad, mas segundo se sabe, foi o segundo o articulador do processo de construção do estádio, inclusive pensava-se que o terreno do mesmo pertencia a este senhor. Talvez! Teria comprado ao senhor Saldanha e se de fato esta versão seja verdadeira, sua oferta teria sido superior à de Odebecht.
E foi aí que, de uma hora para outra, a imprensa anunciava que no local seria construído um shopping pertencente ao grupo Nacional Iguatemi da família Rique.
Ninguém entendeu mais nada, inclusive teve muita gente que já havia comprado as tais cadeiras cativas e ficaram sentados “vendo o navio passar”, segundo tradicional ditado.
Processos? Qual nada! Estamos na Bahia.


 
LEITURA OPCIONAL

Resumo do capitulo anterior: Cal e Bel foram chamados à Ilha de Maré. Firmino tinha algo importante para lhes falar.
ALAGADOS
5

- Chamei-os aqui para lhes informar que a Prefeitura vai aterrar grande parte da Enseada dos Tainheiros, a partir da Bacia do Uruguai até Maçaranduba. São perto de três quilômetros ou mais, na paralela da Avenida dos Mares e do Caminho de Areia, até quase o Largo do Papagaio.
- Mestre quem lhe informou isto?
- Bel, gente do governo.
- Como gente do governo?
- Como vocês sabem todo fim de semana chegam a Maré lanchas de Salvador, muitas delas pertencentes a pessoas do governo. Foi uma dessas pessoas que, em conversa com o Mestre Ju, informou-o do grande aterro.  Ai este me passou a informação, sabendo como sabe que eu morei no Uruguai e tenho muitos amigos no bairro.
- Mas como é que pode?
- Pode Bel. Sempre pôde. Desde o momento que eles nomearam Itapagipe como Pólo Industrial de Salvador, o fluxo de trabalhadores vindos do recôncavo aumentou consideravelmente e toda essa gente está precisando de moradia. Antes que executem uma grande invasão do mar com palafitas, o governo se antecede, financiando ou mesmo dando de graça, casas em terra firme. É um jogo político de grande efeito para ganhar as próximas eleições.
- Mestre como conseguirão aterrar uma área tão grande? No local não tem areia nem barro. Só lama.
A areia virá de Itapoã e o barro virá tanto do Barreiro no Bonfim quanto da Fonte Nova, ali no dique do Tororó. 
- E aí, o que fazemos? Temos condições de impedir ou o senhor vai sugerir que já nos mudemos?
- Nada disso meus amigos. Mais do que nunca vocês irão ficar lá. Não é justo que vocês saiam da beira do mar. Ele é o sustento de vocês e de suas famílias. Para tanto eu tenho um plano.
- Plano?
- Sim, um plano de “vida”.
- É o seguinte. Vocês já fizeram alguma placa indicativa que ali funciona uma indústria de pesca?
- Ainda não, respondeu Cal.
- Vocês vão colocar duas ou mais placas indicando isto. Por exemplo: KALBELL – A INDÚSTRIA DO BAIRRO DO URUGUAI ou KALVBELL O ORGULHO DO BAIRRO DO URUUGUAI. Coisas assim, bem chamativas.
- Mas para que isto Firmino. É mesmo bem chamativo.
- Chamativo e necessário. Vocês precisam caracterizar que aquela área onde estão os currais é de vocês.
- Como assim e por quê?
- Também estou sabendo que a Prefeitura vai respeitar a atual propriedade das pessoas no local aterrado, seja residência ou negócio. Quando aquilo for aterrado, a área passa a pertencer a vocês.
- Mas os currais não seriam uma coisa ilegal e como tal não poderiam ser considerados uma propriedade?
- Nada de ilegal. Fora registrado no Ministério da Pesca e da Marinha. Nem as palafitas são ilegais. Elas são uma manifestação de um grande problema social que é a moradia.  Agora vamos comer o nosso cação. Vou subir para esquentá-lo e já desço.

- Mas mestre será uma pena que isto aconteça. As possibilidades de negócio são extraordinárias. O dinheiro entra praticamente à vista. Salvador não tem uma indústria de pesca. Só a nossa. Todo o peixe que é aqui comercializado vem de fora. O custo do frete encarece muito o produto.  Isso nos proporciona uma margem operacional excelente.

- Tudo bem, mas insisto que o negócio maior será o condomínio que se fará se lhe for dada a posse da propriedade. É só esperar. Tenham calma! Vão levando o barco até esse dia. Mas, espere ai. Acabei de ter uma idéia apaziguadora desse conflito. Vamos engrossar este caldo. Se realmente vocês estão gostando tanto desse negócio e já lamentam perdê-lo, posso lhes sugerir que poderão fazer outros currais em outros locais, tão bons ou melhor que o atual. A experiência já está ao lado de vocês.

- Mestre, que locais?

- Por exemplo, Saubara, Cabuçu ou Bom Jesús. Nesses localidades acontece o mesmo fenômeno que acontece no Uruguai. A maré na vazante descobre grandes faixas de areia ou lama. E ainda tem um detalhe muito importante: são zonas talvez mais piscosas do que a Bacia do Uruguai. Por outro lado, a Prefeitura de Santo Amaro a qual pertence essas localidades, deverá prestigiar com muito bom gosto essa iniciativa empresarial. Representaria renda para o município e emprego.

- Mestre, o senhor não existe. Que idéia maravilhosa! Vou marcar uma audiência com o prefeito de Santo Amaro ainda esta semana. Antes, passarei em Saubara para ver o fenômeno da maré vazante. Esta semana, ela está em baixa pela manhã. É dia de Lua Cheia.

Bel e Cali viajaram na quinta feira para Santo Amaro. A audiência foi marcada para as 15 horas. Daria tempo de dar um pulo em Saubara.  Confirmaram que, efetivamente, a maré na vazante descobria grande faixa de lama e areia, igualzinho ao que acontecia no Uruguai. Também se cientificaram junto a pescadores que o local tinha muito peixe, inclusive cação e caçonete. Almoçaram uma moqueca de siri mole. Um manjar. Só existe na Bahia e por volta das 15 hóras eram recebidos pelo prefeito de Santo Amaro. Expuseram seu plano e obtiveram do alcaide a promessa de apoio.

Nos trinta dias que se seguiram Bel e Cal só se preocuparam com a instalação do curral de Saubara. Diferentemente do que aconteceu com a instalação do curral do Uruguai, o cercado recebeu só redes novas. As varetas de apoio também foram diferentes. Eram de cedro por ser a madeira mais resistente à água salgada. Outra modificação que fizeram questão de introduzir no novo curral foi o formato dos tanques para constituir o coração do curral. Encomendou um conjunto que superpostos, tinha exatamente o formato de um coração. E em dia aprazado o curral foi inaugurado com a presença de grande público, vereadores e, naturalmente, o feliz prefeito de Santo Amaro que, na oportunidade, se lançou candidato a Deputado Federal nas próximas eleições. Também foi inaugurado um frigorífico com a capacidade de armazenagem de 50 toneladas de peixe, podendo ser ampliado para 100. As perspectivas eram excelentes. Ia atender a todo o recôncavo e até mesmo Feira de Santana.

Nessa noite, Bel, Cal e Firmino fizeram questão de dormir em Saubara para ver “in loco” o resultado da primeira vazante que aconteceria de madrugada. Maravilhoso! Quase uma tonelada de bom peixe. Muitos caçonetes, robalos e curimãs das grandes. Os dois amigos voltaram para Salvador, felizes e mais tranqüilos. Agora tanto fazia ter ou não aterro. Firmino seguiu direto para Maré. Também estava feliz.

E o tempo foi passando e nada de aterro. Já se desconfiava que não houvesse aterro nenhum. Teria sido um blefe.  Por outro lado, a próxima eleição a ser realizada ano seguinte adiaria ainda mais a sua execução.

Enquanto isto os dois amigos foram ficando cada vez mais ricos. Suas contas bancárias já chamavam a atenção dos gerentes de bancos.  Já eram tidos como clientes Vips.

De relação aos currais, os mesmos foram ampliados. Agora eram oito. Triplicava a colheita de peixe. Por outro lado, dava uma maior amplitude à propriedade da Kalbell. Fora mais uma recomendação de Firmino.  

Tanto Bel como Cal construíram casas de praia. Bel em Maré e Cal em Itaparica. Também ambos compraram lanchas e nos fins de semana os dois e suas famílias se dirigiam para estas localidades. O curral do Uruguai já tinha um Gerente Industrial e diversos funcionários. Foram comprados mais dois veículos frigorificados. Agora a frota possuía três caminhões para o transporte em Salvador. Em Saubara onde a distribuição era mais espalhada, indo até Feira de Santana, eram cinco veículos.

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