Faz poucos dias que publicamos uma postagem sobre a importância dos shoppings no crescimento urbano/positivo de uma cidade. Positivo? Sim! Desde que, por outro lado, há o crescimento negativo que é aquele cuja representação mais significativa foi a invasão dos Alagados em Itapagipe. Com sua implantação desordenada, Itapagipe triplicou ou quadruplicou a sua população e cresceu sua área na mesma proporção.Vejamos fotos via Google sobre o que acabamos de dizer:
Os espaços dentro dos contornos amarelos representam o que
foi tomado do mar, ou seja, da grande Enseada dos Tainheiros. Milhões de metros
quadrados e enchimento feito com o que de pior existe em imóveis residenciais e
comerciais.
Concomitantemente, publicamos a área
influenciada pelo Shopping Iguatemi
O traço em vermelho indica esta área.
Mais recentemente, inaugura-se mais um shopping em Salvador –
Bela Vista – numa área que há pouco tempo ninguém pensava fosse possível,
economicamente falando, ou seja, saída da cidade em direção a BR-324 – Salvador-Feira
de Santana.
Verdade que já tínhamos nessa área, o Porto Seco Pirajá e,
mais adiante, o Cia., mas entre esses equipamentos e o novo shopping há uma
distância considerável.
Diferentemente da área do Iguatemi que na época de sua
construção era mata virgem, ou quase isto, a área em torno do Bela Vista está
repleta de aglomerados habitacionais espessos, tanto de um lado como do outro.
Só o tempo dirá o que poderá acontecer.
LEITURA OPCIONAL
ALAGADOS
Resumo do capítulo anterior: Enquanto os pais já moravam nas ilhas,
os filhos permaneciam morando no Uruguai por causa dos estudos, mas o bairro se
tornara perigoso. Bel constatou isso pessoalmente.
Resolveu então comprar um apartamento para os três filhos morarem, bem como transferiu
as ações dos frigoríficos para eles.
9
Na semana seguinte Alex foi ao escritório da corretora para
pegar a escritura definitiva do apartamento. Foi atendido por Mariana, a filha
do Sr. Rigoni.
- O senhor é filho do Sr. Bel? Uma pessoa decidida. Eu sou
filha de Rigoni.
- Muito prazer. Vim buscar a escritura. Seu pai ligou
informando que já estava pronta.
- É verdade. Vou buscá-la.
Alex reparou que a moça tinha um corpo belíssimo. Também era
muito bonita de rosto.
- Está aqui. Você não quer um café ou uma água?
- Aceito um café.
- Está gostando do apartamento. Fui eu que o vendi ao seu
pai.
- Estamos adorando. É um belo apartamento. Bem localizado.
Com vista para o mar. Estamos satisfeitos.
- Trabalha com seu pai há quanto tempo.
- Em verdade, não trabalho fixo para o meu pai. Faço apenas
alguns eventos para aumentar a mesada. Eu faço faculdade. Faculdade de
Medicina. Estou no segundo ano.
- Eu também faço Medicina. Formo-me no próximo ano. Já estou
estagiando no Hospital das Clínicas.
- Qual será a sua especialidade?
- Cirurgia Geral. E
você vai seguir o que?
- Quero ser pediatra.
- Que bom. Então somos colegas?
- Colegas e espero que sejamos amigos. Seu pai está morando
com vocês?
- Não. Meu pai mora na Ilha de Maré.
- Ilha de Maré? Não
conheço a Ilha de Maré. Gostaria tanto
- Se você quiser podemos ir no domingo.
- Amaria. Posso levar meu irmão. Ele também faz faculdade.
Engenharia. Está no terceiro ano. É mais velho do que eu.
- Como farei para lhe pegar. Você mora aonde?
- Moro em Itapuã. Mas não precisa você me pegar lá. É muito
longe. Temos aqui em Ondina um kit net onde dormimos, eu e meu irmão Jean, de segunda a sesta
feira, por causa da faculdade. Ficaremos aqui no sábado. Pode ser?
- Claro. É só você me dá o endereço e o telefone para
contato. Posso lhes pegar às 7 horas. É bom chegarmos cedo à ilha. O proveito
será maior.
No domingo na hora combinada, Alex foi pegar Mariana e seu
irmão. Mauro e Maria foram para a Ribeira no outro carro. A lancha do pai já
estava ancorada na marina da Ribeira. Foi trazida pelo marinheiro que cuidava
dela.
- Agora vamos para a
Ribeira. A lancha do meu pai já está lá. Meus irmãos foram diretos.
- Seu pai gosta de lancha?
-É. Ele sempre gostou de andar no
mar. Foi pescador no Uruguai. Era um tainheiro. Na época tinha uma canoa. Hoje
tem uma Casbrasmar 41, com a qual ele faz pesca oceânica com um amigo dele,
mestre Firmino que você conheceu e, eventualmente é usada para trazê-lo a
Salvador ou nos buscar.
- E ele vende o peixe lá mesmo em
Maré ou em Salvador?
- Ele não vende mais peixe.
Vendeu muito. Toneladas e mais toneladas. Hoje apenas se diverte. O peixe é
oferecido às famílias pobres da ilha e amigos. Só exige uma coisa. Quando pega
uns caçonetes e os dá aos amigos, pede-lhes que lhe convide para a moqueca. Suas
empresas de pesca encarregam-se de vender. Ele tem um pessoal especializado.
Aliás, ele acaba de passar as ações para nossos nomes eu e de meus irmãos.
Quando chegaram à Ribeira,
Mariana se espantou com a beleza da lancha e sentiu quanto foi mal educada ao perguntar se o pai de Alex
vendia os peixes que pegava. A lancha
era um espetáculo.
Outro procedimento inconveniente
da menina, achou Alex. Já estava arrependido de tê-la convidado. Já estava
imaginando quando ela visse a casa de Maré. O que iria pensar? Que meu pai é um
ladrão. Roubou de alguém? Que seria um traficante internacional? Não sabia mais
o que imaginar. Sem querer, achou necessário dizer àquela menina que o pai dele
era um milionário e que ficou rico vendendo peixe.
- Mariana, meu pai é um cara
muito rico. Teve e tem indústrias de
pesca. Trabalhou duro toda a vida. Merece ter o que tem hoje.
- Alex, estou apenas admirada. Aprecio as pessoas que venceram na vida. Meu
pai também foi assim. Veio do nada e hoje também pode ser considerado um homem
rico.
Rapidamente chegaram à Maré.
Mariana ficou encantada com a casa de Bené, mas teve o cuidado de não fazer
nenhum comentário. Poderia ser de novo mal interpretada. Notou que Alex ficou
desconfortável quando ela perguntou se o pai vendia o peixe que pescava. Se
fosse ela, diria que vendia mesmo. Qual é o problema?. Também não gostou quando
manifestou admiração pela lancha. Realmente nunca tinha visto nada igual. Foi
algo espontâneo, absolutamente natural. Doravante, tomaria mais cuidado! O Alex
parecia ter um problema com relação à riqueza do pai. Casos como tais surgem
quando há algo de ilícito na formação da fortuna. Não sabia se era o caso do
pai de Alex.
Efetivamente, Alex sabia que a
fortuna do pai tinha se iniciado de uma forma hábil, mas não ilícita. Todas as
pessoas que moravam no Uruguai e que possuíam casa ou negócio ficaram com o
espaço correspondente. O pai tinha
currais de peixe. Alcançava uma grande área. Sabia também que a Prefeitura
concedeu ainda mais espaço para a construções de casas Sabia que havia um largo
déficit habitacional com a chegada de muitos trabalhadores oriundos do
recôncavo e das ilhas. Que a Prefeitura não tinha recursos para construir as
casas no aterro que se fizera. Que as pessoas e as empresas mais capitalizadas foram
procuradas para assumir essa responsabilidade. A do seu pai foi uma delas.
Os jovens divertiram-se a valer em banhos de
mar e passeios em lombo de burro pelas trilhas de Maré e até pelas praias. O
pai tinha mandado preparar uma moqueca de caçonete. Firmino foi o responsável.
Adoraram! Lá pelas 4 horas da tarde retornaram a Salvador. Alex levou Mariana e
o Jean até Itapoã, onde eles moravam. Não saltou do carro. Alegou que já era
tarde e não queria dirigir à noite. Prometeu voltar a se falar por telefone.
Mauro e Maria foram diretos para o apartamento.
- O que vocês acharam de Mariana?
Perguntou Alex aos irmãos.
- Parece ser uma boa moça,
respondeu Mauro.
- Muito inteligente por sinal foi
a vez de Maria. E você o que achou?
- Ainda não formei um juízo sobre
ela, por isso perguntei.
No dia seguinte ainda cedo, Alex
recebeu uma ligação do pai de Mariana. Estava agradecendo a acolhida que seus
filhos tiveram em Maré e os estava convidando para um almoço no domingo
seguinte em Itapoã. Fazia questão que Bel e esposa também viessem, bem como
Firmino que ele também conheceu.
Alex ligou para Maré e todos
concordaram em vir.
A casa do senhor Rigoni era
também uma beleza. Piscina, quadra de tênis. Frente para o mar de Itapoã. Um
privilégio. A senhora do senhor Rigoni, dona Lúcia, muito simpática. Mariana
parecia muito com ela. Tinha pouca coisa do pai. Almoçaram camarões de diversos
tipos: de salada, de ensopado, de moqueca.
Na parte da tarde os meninos
foram comer acarajé e abará na barraca de Cira, famosa “baiana” de Itapoã.
Alex evitou fazer qualquer
comentário sobre a beleza da casa da amiga. Temeu um revide. A de seu pai é bem
melhor, poderia dizer. Conversaram muito sobre a faculdade. Por sua vez Jean e
Maria se entendiam cada vez mais. A afinidade começou em Maré.
Bené, Firmino e Rigoni ficaram a
conversar em torno da piscina.
- Agora é a vez de você ir até
Maré. Vamos combinar um domingo desses. Poderemos combinar uma pesca oceânica.
O senhor já pescou?
- Não, nunca pesquei. Tenho
amigos pescadores aqui na colônia de Itapoã, mas nunca me arrisquei no mar. Para lhe dizer a verdade, a única vez que
eu pesquei foi em Jacuipe em cima da ponte. Peguei alguns siris. Há quanto
tempo o senhor pesca?
- A vida toda.
- Como assim?
- Fui pescador em Itapagipe. Era
um tainheiro. Depois fiz um curral de peixe, idéia do Firmino. O curral pescava
por mim é verdade, mas sempre estive junto do peixe. Tenho um frigorífico na
Calçada e outro em Saubara e por ai sigo sempre lidando com peixe. Acabei de
passar as coes desse frigorifico para meus filhos. Meu amigo Cal também fez o
mesmo como os filhos deles. Quando fui para Maré comprei uma lancha com a qual
saio quase todos os dias para pescar, mas aí já é mais uma diversão do que
negócio. Todos os peixes que pegamos são dados à comunidade de Maré. E o senhor
há quanto tempo vende apartamentos?
- Também há muito tempo. Meus
pais eram emigrantes italianos. Tinham uma pizzaria. Talvez tenha sido uma das
primeiras pizzarias de Salvador. Eu era filho único. Desde muito menino ajudava
meu pai na pizzaria. Quando ele morreu tentei dá prosseguimento ao negócio, mas
não deu certo. A freguesia que era de meu pai se afastou. Coloquei a pizzaria à
venda. Tinha um amigo que era corretor. Ele se encarregou de vender o imóvel.
Depois ele me chamou para trabalhar com ele. Estou neste negócio, desde então.
Já fiz para mais de 50 lançamentos.
Após duas semanas, a família
Rigoni foi à Maré. Bené mandou a lancha pegá-los na Ribeira. Os filhos de Bel
já estavam na ilha. Tinham começado as férias.
Logo foram acomodados, Rigoni e o
filho Jean aceitaram o convite de Bel
para uma volta pelas ilhas. Firmino também estava presente. Talvez pescassem um
pouco.
- Vamos passar rapidamente em
Itaparica para pegar Cal, meu grande amigo.
Milena também embarcou.
Após um rápido tour por algumas ilhas,
resolveram fechar o passeio com uma tentativa de pescar algum peixe. E, nesse dia o mar estava para peixe. Pegaram
um Marlim de mais de 2 metros. Tiraram foto do peixe se debatendo.
Ainda pegaram outros peixes,
notadamente pescadas e pequenos atuns. Rigoni ficou encantado. No dado momento
Firmino lhe passou o molinete e ele ficou ainda mais maravilhado.
- E eu só vendendo imóveis e os
peixes aqui me esperando. Vou comprar uma lancha. Isto que é vida.
Voltaram por volta das 13 horas.
Os peixes foi dados aos pescadores da Colônia, liderada por Mestre Ju. Novas
fotos foram tiradas do Marlim. Foi uma atração inesperada para os turistas e
veranistas. Para todos.
Efetivamente, Rigoni comprou uma
lancha e virou um aficionado do esporte. Praticamente, todos os fins de semana
esperava a lancha de Bené na Boca da Barra e as duas lanches seguiam para o
alto mar, cerca de 20 milhas da costa. Nessa distância, era aconselhável sempre
ir duas lanchas. Era uma recomendação da própria Marinha. Se alguma desse
defeito, a outra rebocava.
Dados por satisfeitos, Rigoni se
dirigia para Itapoã e Bel para Maré. Em Itapoâ Rigoni vendia os peixes para
defender a gasolina e em Maré, Bel continuava dando os peixes. Uma questão de
princípios. Os dois estavam certos!
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