(usar o zoom para ver melhor)
Sempre dissemos e reafirmamos que
a divulgação de números é importante. No caso, números de acessos ao nosso blog
até então: 204.111.
Esse número sem dúvida indica uma
boa aceitação das postagens. Todas foram feitas com muito cuidado, muita
pesquisa, com amor de escrever.
Não nos aventuraríamos nesse
feito se não fosse com muito apuro. O nosso público parece ser constituído na
sua maior parte de estudantes, professores e pessoas outras interessadas na
história de Salvador.
Nesse caso, aumenta a nossa
responsabilidade!
No que diz respeito à LEITURA
OPCIONAL que estamos acrescentando a cada postagem com a edição de um de nossos
livros pela internet (ALAGADOS), certamente vai ajudar na junção de mais gente
em torno do blog, contudo, não foi esta a intenção. O assunto que este livro
trata diz respeito a duas das maiores invasões de mar que o mundo já viu – Os
Alagados do Uruguai e os Alagados do Porto dos Mastros. Fazem parte da Historia
de Salvador.
Claro que a forma como esses
locais foram invadidos é fictícia, mas poderia ter sido mais ou menos da forma
como escrevemos.
O AUTOR
LEITURA OPCIONAL
ALAGADOS
Resumo do capítulo
anterior: Bel e Cal foram chamados por Firmino em Ilha de Maré. Este lhes comunicara
que o aterro do Uruguai teria começo...
6
Passaram-se quatro anos até
que um belo dia apareceu uma carreta da Prefeitura e despejou sua carga na
beirada do mar, próximo às casas de Cal e Bel. Puro lixo. Começava o aterro do
Uruguai. Daí em diante, dia e noite, o aterro foi avançando e já alcançava as
redes do curral.
Ligaram para o mestre Firmino.
- O que fazer agora?
- Contrate um bom advogado.
Promova uma reunião na Associação dos Amigos do Bairro do Uruguai. Coloque
faixas nas principais ruas convidando o povo.
- Para que isto Firmino. O
senhor não nos disse que a posse do espaço era legal?
- Continua legal, mas vocês
sabem como é política. As coisas podem mudar. É preciso causar impacto. Algo
que chegue ao conhecimento da imprensa. Drama social, essas coisas.
- Que dizeres colocaremos nas
faixas?
A PREFEITURA CONTRA O URUGUAI
– ESTÃO ATERRANDO NOSSA INDÚSTRIA – ESTÃO ACABANDO COM O “ORGULHO” DO BAIRRO DO
URUGUAI – COMPAREÇAM À NOSSA REUNIÃO- DIA TAL- HORA TAL., por aí...
Na hora e dia tais, Cal
discursou para uma grande platéia reunida na sede da Associação. Tinha um
surpreendente desembaraço para falar. Bel estava a seu lado.
- A única indústria do bairro
está sendo destruída com lixo. Estão preferindo lixo a uma indústria que era o
orgulho do bairro. Ela proporciona emprego para muitos dos senhores Não podemos
ficar parados. Isto é um abuso de poder.
Depois foi a vez de o senhor
Maneca falar. Era um bom orador. Enfatizou as doações de peixe que os moradores
recebiam, tanto diretamente quanto através da Associação.
- Querem nos matar de fome!
Querem nos envenenar com este lixo. Dele haverá de se desprender gás tóxico.
Estão destruindo nossas moradias.
Depois discursou o vereador
Demóstenes, o Demostinho, como era mais conhecido.
- Fiz tudo na Câmara para
impedir esse aterro. Estão cometendo um crime contra a propriedade privada.
Haveremos de defender nossos direitos até a morte.
Resolveram procurar o advogado
para ver o que se faria.
-Tenham calma! Não havia
necessidade das reuniões que vocês fizeram. Ao que tudo indica, a Prefeitura
vai respeitar o direito de posse, tanto residencial quanto comercial. O que se
precisa fazer é definir o tamanho de cada posse. De relação às casas ou
palafitas, essas dimensões são bem claras e definitivas. Preocupa-me a
determinação do tamanho dos currais e a área abrangente, isto é, o alcance do
sistema de pesca. Faz-se necessário marcar este espaço de alguma maneira. Vocês
têm uma ideia como isto poderá ser feito.
- Um momento, doutor, vou
ligar agora para o Firmino. Ele conhece isto aqui melhor do que ninguém. Talvez
ele dê uma ideia, agora mesmo.
Explicaram o que estava
acontecendo e de pronto Firmino sugeriu sinalizar toda a área com placas
indicativas com o nome da empresa desde as palafitas até as partes mais ao
largo dos currais e até às palafitas.
-Boa ideia, exclamou o
advogado. Façam isto imediatamente. Tirem fotos e as traga aqui, se possível
amanhã. Entrarei com uma petição no Departamento de Obras da Prefeitura,
informando o tamanho do espaço delimitado e a quem pertence. Preciso do CPF de
vocês e uma xérox de suas carteiras de identidade.
Certo dia, Cal percebeu a
presença de pessoas ligadas à Prefeitura rondando a área. Parecia que estavam
concentrados justamente no espaço onde foram os currais Faziam medidas.
Anotavam. Usavam aparelhos de topografia e fitas métricas.
Uma semana depois, receberam
uma correspondência da Prefeitura entregue na sede da Associação dos Amigos do
Bairro do Uruguai que não foi atingida pelo aterro. Belarmino Alves e Calixto
dos Santos estavam sendo convidados a comparecer à Prefeitura, Departamento de
Obras Públicas.
Tomaram um choque. De imediato
ligaram para o advogado.
- Certamente, eles querem
conversar. Saber o que vocês pretendem fazer com aquela área. Possivelmente não
permitirão a instalação de indústrias, nem mesmo a de pescas como era a de
vocês, algo por aí, tenho a impressão. Estou sabendo que neste espaço que vai
até a Maçaranduba, eles querem a construção de casas.
Foram recebidos pelo diretor.
– Os chamei aqui para lhes comunicar que vamos iniciar a urbanização e como os
senhores são os proprietários da maior área, preciso lhes dar ciência de nossos
planos. Precisamos que se construam no local muitas casas. Esta foi a
finalidade do aterro. Como os senhores devem saber, sofremos forte campanha na
Câmara e, consequentemente, na imprensa, contra esse aterro. Dizíamos que a
idéia era a construção no local de muitas residências a fim de diminuir o
débito habitacional. A oposição contra-atacava dizendo que só daqui a 50 anos
esse débito seria equacionado e se o fosse, seria com barracos da pior
qualidade. A Prefeitura não tem recursos para fazer coisa nenhuma. O orçamento
estava estourado, essas coisas. Efetivamente, falta-nos recursos para construir
as casas. Daí estarmos precisando da iniciativa privada para tanto. É o caso
dos senhores que sabemos têm recursos para “topar” esta parada. Outro
empresário, dono de uma indústria no Largo do Papagaio já assinou um convênio
conosco. Vai construir mais de mil casas populares. No caso dos senhores,
quantas pretendem construir?
- Bel e Cal entreolharam-se,
mais o advogado e Bel falou: mais ou menos a mesma coisa.
- Ótimo! Então, vocês vão
precisar de mais terreno. Façam uma petição requerendo mais espaço. Serão
imediatamente atendidos Outra informação, já ia me esquecendo. O Banco do
Brasil e alguns bancos particulares já assinaram convênios com a Prefeitura
para custear a construção, caso os senhores necessitem de mais capital.
Os dois amigos e o advogado
entreolham-se surpresos. Quase não estavam acreditando no que estavam a ouvir.
Tanto esquema, tanta preocupação com marcações e os homens estão dando de graça
mais terreno. Era inacreditável. Ligaram para Firmino.
- Firmino não lhe conto. Somos
proprietários de grande faixa do aterro que fizeram. Compreende a área onde
funcionavam os currais até junto às nossas casas e ainda cederam mais outro
espaço igual ou superior ao que tínhamos. Somos os donos do Uruguai.
- Isto merece uma comemoração.
Vamos tomar uma cerveja no primeiro bar que encontrarmos. Era Bel, o mais
eufórico, ao saírem do gabinete do diretor.
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