Área em torno do Iguatemi
Dois movimentos de ordem econômica ocorreram em Salvador nas
décadas de 1940/1950 e 1970/1980, ocasionando um crescimento urbano dos mais
significativos de nossa cidade. Referimo-nos à implantação das indústrias (36)
no chamado Pólo Industrial de Itapagipe entre 1940/1950 e a construção do
Shopping Center Iguatemi em 1975.
Diz-se muito, equivocadamente, que esse crescimento deu-se tanto na Cidade Baixa quanto na Cidade Alta, em razão das características de
nossa cidade, contudo, no caso do Iguatemi, não se pode considerar seja esta
localidade como fazendo parte da Cidade Alta. Seria mais um terceiro plano de nossa
urbes, desde que localizado na altura do mar. Outro caso nesse contexto é a
Baixa dos Sapateiros que, em não sendo na altura da Praça Municipal, não pode e
não deve ser tida como sendo Cidada Alta.
As conseqüências desse crescimento são díspares. Enquanto no
hoje Iguatemi (nome do bairro criado após a instalação do shopping), o
crescimento urbano foi de primeira
qualidade com belas casas e extraordinários edifícios, tanto residenciais
quanto comerciais. Na Cidade Baixa, desde toda Península de Itapagipe até o
Subúrbio Ferroviário, esse crescimento deu-se no nível mais baixo que se possa imaginar;
aliás, rigorosamente, houve um decréscimo da qualidade urbana, mesmo de
qualidade de vida.
Contribuiu muito para isto, a invasão do mar da Enseada dos
Tainheiros – algo em torno de 3 a 5 milhões de metros quadrados - somando a
invasão da Bacia do Uruguai entre 1940 e 1950 com a invasão do Porto dos
Mastros, entre 1950 e1960.
Nesta enorme área foi construído o que de pior existe em
termos de imóveis, desde as horrorosas palafitas em cima do mar e da lama até as
casas disformes e indefinidas construídas nas encostas do grande paredão que
vai de São Caetano até Paripe, mesmo São Thomé, passando por Santa Luzia,
Lobato e Plataforma.
Acresce a esta indefinição urbana a falta de qualquer nível
de infra-estrutura , ou seja, saneamento básico, principalmente água e esgoto e
no que se refere a eletricidade, funciona no local o chamado “gato” proporcionado pela energia advinda das ruas e avenidas próximas(iluminação pública).
Porque houve essa diferenciação de ocupação? No que se
refere à Cidade Baixa, o Pólo Industrial ali implantado nas décadas de
1940/1950 atraiu pessoas das ilhas em torno da Baía de Todos os Santos e do
chamado Recôncavo Baiano, após o declínio das atividades econômicas que essas
localidades tiveram à época dos trapiches e mercados de Salvador, localizados
justamente na Cidade Baixa. Poder-se-ia dizer, à época dos saveiros de velas de
içar. Toda essa gente pensou em se empregar nas indústrias daquela época e em
não tendo lugar para todos e em não sendo vantagem retornar às suas terras,
esse pessoal se alojou nas encostas dos morros do entorno de Salvador e o fez
da pior maneira possível ou como era viável, por falta do mínimo recurso
financeiro.
Já os caminhos de ida para Iguatemi caracterizou-se, primeiramente,
pelo luxo das instalações do novo shopping; pela posse de terra de grandes e
ricos proprietários ou, até mesmo, por pessoas ligadas à política e que foram
beneficiadas com a informação que naquelas imediações seria construído um
grande shopping e grandes avenidas para lhe dá acesso.
Caso semelhante de relação a políticos “bem informados”
aconteceu no Porto Seco Pirajá. Tem gente por aí que tem entre 10 a 20 galpões
em seu nome e de sua propriedade. Tiveram acesso à informação da futura obra e
foram lá e compraram todos os terrenos que ninguém queria e estavam loucos para
vender ao primeiro “louco” que aparecesse, mesmo que fosse por poucos cruzeiros
(moeda da época).
A oportunidade é única para resgatarmos uma antiga dívida
desse blog sobre o Shopping Center
Iguatemi. Enquanto já fizemos duas postagens sobre o Shopping da Barra no
Chame-Chame – outro pólo de influência – não tínhamos feito nada sobre o
Iguatemi. Façamo-la agora:
Inauguração:
5 de dezembro de 1975 (36 anos)
Proprietário:
Aliansce/LGR/RABR/BICAR/NRM
ÁREA:
81.148 m
8
Primeiramente de relação a origem de seu nome –
Iguatemi- Vem do chamado “tupi-guarani”
e significa “Lago ou Lagoa Verde ou Esverdeada”, formada pela junção dos
vocábulos guaranis, podemos assim dizer, respectivamente:
“iguai= lagoa, lago e temi= verde ou esverdeada.
À título de curiosidade, Iguatemi
também é o nome de uma cidade em Mato Grosso, chamada Cidade de Iguatemi,
município situado ao seu da região Centro-Oeste do Brasil, no Sudoeste de Mato
Grosso do Sul (Micro região de Iguatemi a
461 da capital estadual (Campo Grande) e 1.415 da capital federal (Brasília)
Localização:
Av. Tandredo Neves, 148
LOJAS: 532
Iguatemi
LEITURA OPCIONAL
Resumo: OS DOIS AMIGOS PASSARAM A MORAR NAS ILHAS. OS FILHOS PERMANECERAM EM SALVADOR POR CAUSA DOS ESTUDOS
ALAGADOS
Passaram-se cinco anos e as
duas famílias se estruturaram cada uma a sua maneira. Alex, o filho mais velho
de Bel estava prestes a se formar em Medicina, Mauro em Engenharia e Maria
cursava Odontologia. Estava no segundo ano. Já os filhos de Cal, Carlos já
estava formado em Administração e o pai lhe dera um galpão onde ele montou um
mercado, O Calixto. Já Milena formara-se em Enfermaria e já trabalhava em um
hospital em Itaparica. Era enfermeira-chefe.
Felizmente, as famílias
estavam bem. Bel e Cal também estavam bem. Os dois agora descansavam e
procuravam gozar a vida cada qual a sua maneira e da melhor forma possível,
dentro dos conceitos que cada qual tinham. Bel gostava de fazer pesca oceânica e tinha
como companhia constante o mestre Firmino e às
vezes do Mestre Ju. Cal gostava
de plantar. Seu sítio tinha todos os tipos de árvores frutíferas que pôde
colher, além de uma belíssima horta.
A casa que Bel tinha mandado
construir em Maré, já fazia algum tempo, fora implantada no alto da Praia da
Areia.
A de Cal ficava na Ponta de
Areia.
Os dois amigos revezavam-se
nas visitas. Ora Bel ia a Itaparica; ora Cal ia a Maré. Os filhos e esposas
estavam sempre presentes. Cada vez menos iam a Salvador. Os assuntos comerciais
eram tratados por telefone com o contador que agora gerenciava o frigorífico da
Calçada e com o Gerente Industrial que administrava o curral de Saubara e seu
frigorífico. Fazia-se também contato com o Gerente de Vendas, responsável pela
comercialização do pescado. O frigorífico da Calçada fora mantido, desde que
recebia de Saubara as quantidades necessárias para o atendimento de clientes da
capital.
Parecia que os dois amigos
tinham dado como encerradas suas atividades. Davam-se como satisfeitos pelo que
fizeram. Precisavam gozar um pouco da vida que lhes restavam. Sem se dizerem,
fizeram como que um pacto com o ócio.
O mestre Firmino, sempre
atento, achava que apenas uma etapa fora cumprida. Se nos negócios foram bem e
os dois agora estavam ricos, no trabalho com os filhos havia algo a desejar.
Verdade que os meninos vinham todos os fim de semana para as casas dos pais,
mas afora isto, quase não os via. Chegavam, pegavam as lanchas e desapareciam.
Voltavam lá pelas 3 horas para almoçar e já partiam de volta para Salvador.
Tanto os de Bel, quanto o de Cal. As meninas já eram mais chegadas. Milena
porque já morava com os pais e Maria porque gostava de conversar com a
mãe. Também Firmino estranhava que os
filhos continuassem a morar nas pequenas casas que lhes couberam, apesar da
riqueza dos pais. De estranhar também era o fato de que, nenhum dos rapazes tinha
carro, um prazer cada vez mais comum de qualquer jovem.
Certo dia quando estava a
pescar com Bel na boca da barra à procura de pescadas e albacoras, indagou-o
corajosamente – Você conhece bem seus filhos?
Bel chegou a largar o molinete
de surpreso.
- O porquê dessa pergunta? Há
alguma coisa que eu não saiba?
- Não, pelo amor de Deus. Eu
como padrinho de um deles, estou sempre preocupado. Acho que você deveria ir
mais vezes ao Uruguai. Segundo eu sei, faz muito tempo que você não vai lá.
- É verdade, faz muito tempo, praticamente,
desde que inauguramos o condomínio.
-Já são quase cinco anos.
- Não acredito que o tempo
tenha passado tão rápido. A vida aqui em Maré corre que ninguém sente. Você tem
razão. Amanhã mesmo vou até o Uruguai. Vou ver como vão as coisas por lá.
Bel chegou ao
Uruguai por volta das 8 horas. Saiu de
Maré às 7. Firmino o trouxe de lancha até a Ribeira. Bateu na porta da casa dos
filhos e Maria veio atender.
- Pai, que surpresa! Estamos tomando café, o senhor chegou
na hora certa.
Os dois outros filhos vieram abraçá-lo.
- Que novidade, pai. Tem tempo que o senhor não aparece por
aqui e quando vem não avisa a ninguém. Já íamos sair tão logo tomássemos o
café. Era o Alex, o filho mais velho.
- Resolvi vir ontem à noite.
- Que o trás aqui?
- Queria ver como anda o condomínio. Vou dar uma volta por
aí, mas gostaria de almoçar com vocês. Quero comer uma carne. Em maré só como
peixe e camarão e os carapicús do velho Firmino. Pode ser?
- Claro pai. Podemos almoçar na orla. Lá tem boas
churrascarias. Tenho uma aula prática no Hospital das Clínicas e podemos marcar
às 12 horas na porta. De lá iremos pegar Mauro e Maria em suas faculdades. Está
bem para o senhor?
Está ótimo!
Os filhos se despediriam e Bel se dirigiu primeiramente à
casa do senhor Maneca.
- Que prazer seu Bel. Quanto tempo que não o vejo. O senhor
está ótimo. Está até mais moço.
- !!! O prazer é meu
seu Maneca. Como andam as coisas por aqui?
- Seu Bel, não lhe conto. O bairro está cheio de marginais.
Não se pode andar mais de noite. Você é assaltado na primeira esquina.
- O que? Você sabe a que horas meus filhos costumam chegar?
- Muitas vezes vejo-os saltar do ônibus já de noite. Sete ou oito horas e ainda andam um bom
pedaço até a residência deles.
- E a Associação do Bairro, como anda?
- Acabou seu Bel. Ficou devendo
não sei quantos aluguéis. Não pagou e foi despejada. O proprietário do imóvel
onde ela funcionava quis entrar na justiça, mas desistiu da ação quando soube
que a Associação não tinha nenhum registro. Era absolutamente clandestina, mas
se sustentava graças a interesses políticos, principalmente do Demostinho
quando era vereador. Quando ele não foi reeleito, a Associação não teve como se
sustentar.
- Você podia me acompanhar? Quero
ver como andam as coisas por aqui, especialmente o condomínio. Esse povo está
sabendo conservá-lo?
- Que nada seu Bel. As casas
estão sujas. Ninguém pinta nada. A fuligem dos ônibus e caminhões está sujando tudo.
- Estou esquecido, onde fica
mesmo o mercado do Carlos, filho de Calixto?
- É logo ali. Vamos
Bel deparou-se com um grande
supermercado. No alto, em letras garrafais estava escrito, CALIXTÃO.
aaaaaaaaaaaaaaaa- Mas como isto cresceu. Como
aconteceu?a
- Derrubaram o antigo galpão.
Compraram não sei quantas casas ao redor e construíram esse monumento.
- Carlos está?
- Quem é o senhor?
- Meu nome é Bel.
- Só Bel?
-Só.
- Vou ver se ele pode lhe
atender.
- Doutor Carlos tem aqui um
senhor querendo falar com o senhor. Diz chamar-se Bel. Ah! Tudo bem vou mandar
ele subir.
- Senhores, aquele escada. A
primeira sala à direita.
Quando Bel abriu a porta deparou-se
com uma sala de reunião onde se encontravam mais de 50 pessoas sentadas. Num
elevado à frente, lá estavam Carlos e uma moça. A um sinal de espera, Bel e o
senhor Maneca sentaram-se em cadeiras próximas. Carlos continuou na sua fala. Falava de
promoções, merchandising, marketing, propaganda em TV. Em seguida deu como
encerrada a reunião. Levantou-se e veio em direção à Bel. A moça continuou
sentada onde estava.
- Que surpresa seu Bel. Desculpe
a demora. Vamos para meu gabinete.
- E ai, o que o trás aqui?
- Uma simples visita. Queria
saber como você estava e conhecer a sua loja.
- Esta loja que o senhor fala é o
maior supermercado da Cidade Baixa. Cresci muito. Tenho mais de 20.000 itens à
venda. São quase 80 funcionários. Os que o senhor viu aqui são os mais
graduados.
- Você está de parabéns. Estou
contente pelo seu sucesso. Preciso ir. Só foi uma visita rápida. Como vai seu
pai? Tem algum tempo que não o vejo. Não tenho ido a Itaparica nem ele a Maré.
- Ele teve algumas complicações
de saúde, mas agora já está bem.
- Não sabia. Diga a ele para me ligar.
- Direi seu Bel. Ah! Minhas
desculpas quero lhe apresentar minha noiva. Vamos nos casar. Fernanda chegue
até aqui, quero lhe apresentar um grande amigo do meu pai.
Ao se aproximar Bel reparou que a
moça era bonita, mas não era simpática. Muito mais alta que ele e ainda assim,
usava sapatos altos. No trabalho deveria pelo menos usar um sapato baixo.
Estaria mais adequado e compatível com a altura de Carlos que saíra ao pai.
- Foi um prazer lhe conhecer.
Trate bem desse menino. Até outra vez.
Bel tinha esse dom ou esse mal. Gostava ou não
gostava das pessoas só em vê-las. Sem dúvida que era uma precipitação achar que
a noiva do Carlos era antipática e outras coisas. Era uma coisa instintiva.
Tomara que a escolha dele esteja certa e a menina seja uma boa esposa.
Firmino comentava que essas
percepções de Bel eram coisa de pescador. Só em olhar o mar sabia se ele estava
bom para pescar ou não.
- Seu Maneca agora quero andar um
pouco pelo bairro e logo percebeu que a maioria das casas, tantas as
residenciais como as comerciais, estavam gradeadas. Verdadeiras fortalezas. A
coisa devia estar braba por aqui.
- Seu Bel tem assalto todos os
dias. Os caras apontam uma arma para o comerciante e exige esta ou aquela
mercadoria. Todos são traficantes. Assaltam para se drogar e se drogam para
roubar.
- E é gente daqui ou de fora?
- Tudo gente daqui. São pessoas
que vieram para cá atraídos pela possibilidade de emprego nas indústrias que se
instalaram por toda Itgapagipe, mas a procura de mão de mão de obra é muito
menor do que a oferta. Aí não voltam mais para as suas terras. Permanecem aqui
e começam a roubar para não morrer de fome. À noite ninguém pode sair às ruas. Cobram até
“pedágio” para a circulação, no caso de uma necessidade. O comércio fecha às 5
horas da tarde.
- Pelo amor de Deus e meus filhos
vivendo nesse meio!
As 11.30 Bel pegou um taxi e se
dirigiu até o Hospital das Clínicas. Alex já o estava esperando na porta.
- Pai. Com o mesmo carro iremos
pegar Mauro e Maria em suas faculdades e de lá vamos para a orla.
Após o almoço, Bel fez uma
pergunta geral. – Vocês estão satisfeitos em continuar morando no condomínio?
- Porque pergunta pai?
- Alex, esta manhã estive sabendo
de umas coisas nada agradáveis que estão acontecendo no bairro, inclusive
cobrança de “pedágio” para quem anda de noite pelas suas ruas. Vocês estão
sabendo disto? Já pagaram “ pedágio”?
Os três irmãos entreolharam-se
entre si.
- Já pai. Sempre pagamos,
exclamou Mauro.
- E sua irmã não está correndo o
risco de sofrer algo mais grave?
- Vou ficar em Salvador esses
dias. Vou chamar Firmino. Ficaremos em um hotel. Tratarei de arranjar um
apartamento para vocês morarem num bairro digno. O Uruguai não é mais
confiável.
Nesta mesma tarde, Firmino
aportava a lancha na Ribeira e com duas sacolas de roupas foi se encontrar com
Bel. Hospedaram-se em Ondina. À noite consultaram a lista telefônica à procura
de uma corretora. Tinha uma bem perto do hotel. Também à noite ficaram atentos
aos anúncios veiculados na televisão sobre novos apartamentos. Gostaram de um
deles. Tomaram nota. Coincidentemente, a corretora era a mesma que haviam visto
na lista telefônica. Havia mais dois lançamentos sendo anunciados da mesma
empresa. Logo cedo alugaram um carro com motorista. O próprio hotel
providenciou.
- Sim, senhores, o que desejam?
Era a recepcionista da corretora de imóveis.
- Vimos o anuncio na televisão
sobre determinado apartamento na Barra. Com quem tratamos?
- Um momento. Vou encaminhá-los ao nosso diretor.
Chamava-se Alfredo Rigoni. Era
alto e forte. Aparentava ter uns cinqüenta anos. Bastante calvo. Usava óculos
de aros grossos. Timbre de voz altíssimo. Ecoava pela sala. Andava como que
apressado. Passos largos.
- Eu me chamo Bel e meu amigo,
Firmino. Vimos um anuncio na televisão sobre determinado apartamento na Barra.
Estamos interessados nele.
- É bastante caro. Posso sugerir algo mais em conta?
Bel olhou para Firmino. Firmino
fez uma careta de surpresa.
- Não estamos acreditando no que
o senhor acabou de dizer. Dizíamos que estávamos interessados em determinado
apartamento na Barra e o senhor diz que ele é caro; que tem outro mais em
conta. Praticamente, o senhor está nos botando para fora de sua sala. Seu tempo
deve ser muito precioso para atender a dois caipiras que “ameaçam” morar na
Barra e estão aqui de brincadeirinha.
- Oh! Pelo amor de Deus. Não é
nada disto. Apenas quis lhes oferecer o
- Peço-lhes mil perdões. Por
favor, sentem-se. Talvez tenha sido infeliz. Os senhores têm toda a razão. Sou
um desastrado. É a agitação dessa vida. Dona Margarida traga um café para os
senhores, ou os senhores preferem água, um refrigerante?
Bel e Firmino perceberam que o
homem estava todo embaraçado, quase envergonhado. De branco que era, estava
vermelho e suava a cântaros. Resolveram maneirar. Não estavam ali para brigar.
No caso de Bel, estava ali à procura de uma solução para a felicidade de seus
filhos. Seria o começo de um grande resgate.
Voltaram a sentar. Quase estavam
próximos à porta de saída.
- Todo bem! Podemos ver o
apartamento que queremos
- Claro. Há uma pessoa no local.
Temos um, todo preparado. Aliás, senão me engano, é a última unidade. Quer que
eu os leve até lá?
- Não é necessário. Estamos com
um carro alugado aí em baixo. O motorista deve saber onde fica
Foram recebidos por uma
recepcionista muito simpática. Que diferença de atendimento! O apartamento era
uma beleza. Quatro suítes. Duas salas. Varanda para o mar. O edifício tinha
piscina, sauna, sala de ginástica, quadra de tênis. Estava todo preparado - dos
quartos até a cozinha, sem tirar nem por.
- Mestre, parece que vai ser
este. O que o senhor acha?
- Realmente muito bonito. Os
meninos merecem. São filhos maravilhosos. Tenho-os como se fossem meus.
- Quanto custa dona.....?
- Mariana. Estamos vendendo por
quinhentos mil a prazo. À vista poderá ser resgatado por quatrocentos.
- E a decoração, quanto custa?
- Os senhores vão querer como
está?
- Exatamente, como está.
A moça se afastou um pouco e
começou a falar ao telefone.
- Pai, tem uns homens aqui
querendo comprar o apartamento com tudo dentro. Informei-os que o preço era
quinhentos mil a prazo ou quatrocentos mil à vista. Quanto custaria os móveis e
demais utensílios
- Diga a eles que é um presente
de “Rigatoni”.
- Rigatoni?
- Eles vão entender.
- Meu pai acaba de me dizer ao
telefone que a decoração é de graça. É um presente de Rigatoni. Que os senhores
entenderiam.
- Você é filha daquele homem? Não
acredito. Parece que a briga valeu.
- Os senhores brigaram?
- É. Não foi mesmo uma briga. Um
pequeno desentendimento. Seu pai achava que nós não tínhamos condições de
comprar este apartamento. Quase ele bota o caso a perder e nós não estaríamos
aqui o comprando à vista. Pode me entregar as chaves imediatamente,
- À vista?!
- Sim, no dinheiro.
- Claro, como o senhor quiser.
Vamos precisar assinar o contrato tão logo o senhor emita o cheque. As chaves
já são suas.
Após a compra do apartamento, Bel
e Firmino se dirigiram a uma agência de carros. Compraram dois carros. Um para
Alex e outro para Mauro. A menina ainda era menor de idade e tão logo
completasse 18 anos também teria o seu. Depois Bel ligou para os filhos.
- Estou convidando vocês para
tomar um café da manhã. Está combinado? Vou mandar um carro lhes buscar.
Aluguei um. Oito horas. Está bom para vocês? Ok!
À noite, no jantar no próprio
hotel, Firmino arriscou tudo. – Senhor Bel, o senhor ainda precisa vender
peixe?
- Como assim, Firmino?
-Eu estou rico com 1% que o
senhor me dá todo mês; o senhor está milionário e os filhos andando de ônibus.
Não seria a hora de passar as ações da empresa para eles. Assim eles teriam um
rendimento seguro.
- Minhas ações?
- Sim. Elas próprias e talvez
Calixto devesse fazer o mesmo para os filhos dele.
- Firmino! Você me surpreende a
cada dia. Você tem mais noção de minha vida do que eu próprio. Você sabe o que
eu devo fazer. Vou ligar para Cal agora mesmo, mas independente da decisão
dele, de minha parte as ações já são dos meus filhos.
Cal também concordara em passar
suas ações para os filhos dele.
No dia seguinte, pouco mais das 8.30 os filhos
chegaram ao hotel. O pai os recebeu no hall. Firmino era todo sorriso. Adoraram
o café do hotel. O pai estava adorando a presença dos filhos.
- Agora vamos a um lugar. Maria e
Mauro irão comigo e Alex vai com Firmino num táxi. Chegaremos juntos.
E os dois carros entraram nas
dependências do edifício onde Bel havia comprado o apartamento.
- Pai, por que viemos até aqui?
Algum amigo seu mora aqui? Era a filha mostrando estranheza.
- Vamos subir até o décimo andar.
Bel tirou a chave do bolso e
abriu o apartamento.
- É de vocês.
Os filhos ao tempo em que
abraçavam o pai se abraçavam, corriam em todas as direções do lindo
apartamento. Que vista! Como é grande! Que lindos móveis! Olhe a cozinha! Veja
os quartos! Todos têm banheiro! Sensacional!
- Agora que vocês já viram o
apartamento, vamos descer. Tenho outra surpresa para vocês.
Na garagem estavam estacionados três
lindos carros.
- Podem escolher os que quiserem.
Quero que se mudem imediatamente.
- Outra coisa. Estou passando as
ações da empresa de pesca para os seus nomes em partes iguais. Vocês farão uma
retirada mensal. Calisto também concordou em passar as ações dele para Carlos e
Milena. Também merecem.
E na semana seguinte, os três já
estavam morando no novo apartamento. Colocaram a casa para alugar.
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