Outro
dia estávamos a olhar o quadro geral de nosso blog no Google Bloger. Fazia
tempo que não acessávamos esta página. Ela fornece os dados de acesso por parte
do público em geral ao nosso blog e dá outras informações de órdem técnica.
Ai,
nos chamou a atenção a postagem mais lida entre as seiscentas e tantas que já
fizemos: “CARNAVAL DE HOJE E ANTIGAMENTE”. Abaixo o quadro:
Sempre o Carnaval! Escrevemos tanta coisa sobre a cidade e é
o Carnaval que domina o pedaço, como se costuma dizer.
Já que é assim, porque não destacá-lo ainda mais reproduzindo
a referida postagem? Claro! Reconhecimento! Mérito! Muitos que não leram haverão
de fazê-lo agora.
Salvador, 4 de novembro de 2010
Este blog se propôs em historiar a Cidade Baixa.
Até agora foram mais de 150 postagens. Tratamos principalmente do seu espaço
físico, mas também focamos aspectos sociais como, por exemplo, suas festas de
largo e rua. Não fizemos, entretanto, nenhuma referência ao Carnaval
propriamente dito, que envolve tudo e todos e, como não podia deixar de ser, inclui
também a Cidade Baixa.
Façamos algumas considerações sobre a grande
festa, desde que estamos na época dela. A intervenção, quase um desvio, parece-nos
apropriado.
Não deixa de ser curioso e até incompreensível
que a Cidade Bahia, onde se realiza as maiores festas de rua e largo de
Salvador – Bonfim, Boa Viagem e Conceição da Praia – nunca tenha emplacado um
Carnaval próprio como aconteceu, por exemplo, com a Barra e Ondina.
Tentativas existiram entre as década de
1950/1960, principalmente no Bairro do Uruguay com a realização de “gritos de
Carnaval”, semana antes da grande festa, mas nos dias de Momo era uma
desanimação total. Também na Ribeira fizeram-se algumas investidas, mas foi
sempre um grande fracasso.
No Comércio, tão próximo do circuito da Cidade
Alta, sempre se falou no seu aproveitamento em razão de suas ruas e avenidas
espaçosas, mas ninguém se atreveu em fazer descer o Carnaval. Fala-se,
especula-se, mas, na hora H, não se concretiza.
A nosso ver, numa eventual expansão do Carnaval,
o Comércio nos parece um lugar mais apropriado do que, por exemplo, Aeroclube,
Paralela que se são citados por alguns.
O primeiro, Aeroclube, vai “afunilar” seu acesso.
O segundo, Paralela, é muito longe e é via de acesso às praias da Linha Verde.
Nem pensar! Também é longe.
Então, o povo da Cidade Baixa não participava do
Carnaval de antigamente?
Participava e muito! Era um povo festeiro, isto
é, acostumado com festas. Desde as 9 horas da manhã de domingo, os bondes e
ônibus, cada um a seu tempo, transportavam levas de mascarados em direção ao
Elevador Lacerda. Era a subida para a folia.
Era magnífico ver aquela cena dos bondes
abarrotados de foliões. Não havia sequer um passageiro que não estivesse
mascarado. Todos, indistintamente, portavam as famosas máscaras de pano com
suas orelhas e narizes avantajados. Contorno dos olhos e boca seguia a mesma
linha de destaque.
A maioria vestia pijamas, algumas de seda ou
grandes macacões coloridos.
A Misericórdia e a Rua Chile já estavam lotadas.
O povo ia em direção à Praça Castro Alves e voltava pela Rua da Ajuda ao som de
conjuntos improvisados de repercussão e sopro. Antes da construção do viaduto
da Praça da Sé, a massa virava na esquina do Café das Meninas. Do outro lado a
Prefeitura. Quando o viaduto foi construído – 1947 – passava-se por ele e
retornava-se na esquina da Joalheria Primavera.
Esta movimentação ia até as duas horas da tarde,
quando a avenida esvaziava-se completamente. Isto mesmo! Parecia um dia comum.
O povo ia almoçar em casa, os caretas também.
A avenida voltava a ter movimento a partir das 17
horas. O povo chegava para assistir ao desfile dos grandes clubes, Fantoches da
Euterpe, Inocentes em Progresso e Cruz Vermelha. Entre 18.00 e 19.00 horas
rodavam pela avenida os belíssimos carros alegóricos dessas agremiações. Quase
sempre eram três carros por clube. No último deles vinha a Rainha, geralmente
uma moça da alta sociedade.
As famílias colocavam cadeiras e bancos por toda
a Avenida Sete e muitos empunhavam bandeiras com as cores de cada entidade.
Tinha gente que portava um escudo iluminado no peito.
Após o desfile, a avenida esvaziava-se de novo.
Estranho, não? As famílias, claro, se retiravam. Os mais jovens voltavam para casa
para se preparar para os grandes bailes dos clubes, notadamente, Fantoches da
Euterpe. Retornavam fantasiados, todos, indistintamente. Passavam apressados! A
fila para entrar alcançava a Rua do Cabeça. Adentravam ao clube por volta das
10 horas ou até mais. A orquestra já tocava as grandes marchinhas daquele
tempo.
Eu vinha pela madrugada,
pela avenida toda iluminada..
Você foi aquele Pierrot
que me abraçou e me beijou.
ALÁ, lá, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô...
Mais de mil palhaços no salão...
Arlequim ainda espera pela sua
Colombina
no meio da multidão...
A Estrela Dalva no céu desponta,
e a Lua anda tonta,
com tanto riso, oh! tanta alegria...
ALÁ, lá, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô...
Aquela máscara negra não mais esconde
seu rosto...
Queria ver o meu amor, sorrindo,
mas, amanhã, assistindo os ranchos a
passar,=
estarão rolando as lágrimas do meu
coração...
Onde a avenida é toda iluminada?
Só haverá velhos palhaços e a
solidão...
Oh! Minha Estrela Dalva!
Eu quero matar a saudade...
Não me leve a mal: hoje é Carnaval...
“Carnaval vem do latim carnelevament, modificado
depois em carnevale! Quanto à origem, tem sido atribuído à evolução e à
sobrevivência do culto de Ísis, dos festejos em honra de Dionísios, na Grécia,
e até mesmo às festas dos "inocentes" e "doidos", na Idade
Média, dando origem aos mais famosos carnavais dos tempos modernos”.
Segundo outros, o Carnaval era marcado ( ou ainda é) pelo “adeus à carne” ou
“carne nada vale” dando origem ao termo Carnaval.
Mas há quem diga que em Roma realizava-se uma
festa denominada Saturnália. Nela, um carro em forma de navio abria caminho em
meio à multidão de mascarados. Seria um “carrum navalis” (carro naval). Será?
Esta semana, lemos uma entrevista do compositor
Alaor Macedo. Ele está pretendendo reabilitar as antigas Escolas de Samba de
Salvador.
Mas Salvador já teve Escola de Samba? Já!
Lembramo-nos de duas delas, Filhos da Liberdade e Diplomatas de Amaralina.
Haviam outras!
O negócio é meio complicado. Os avanços
estruturais do Carnaval baiano são muito fortes. Mudar isto ou introduzir em
meio a isto um desfile de Escola de Samba é muito difícil. Mas há uma idéia.
Sempre há!
Que tal estruturar um bloco hoje existente em
alas distintas. 10 alas de 300 foliões cada. Cada uma com um abadá de uma cor.
Talvez um adereço na cabeça para dar mais vida. Está muito monótono o atual
visual. Passa o carro. A grande cantora dá um show e em seguida vêm a moçada
com uma lata de cerveja na mão, alguns andando como se nada estivesse
acontecendo. Podes crer! É só olhar a televisão daqui a uma semana.
Mas isto não é Escola de Samba? Nunca será.
Poderá ser Escola de Axé. Por aí. Um dia chega-se lá e quem viver verá.
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