No dia 7 p.p., anexo a nossa
postagem, tivemos a ocasião de escrever o epílogo de nosso primeiro livro dado
ao conhecimento público, via internet. (ALAGADOS). Conforme explicado, não tivemos
condições de publicá-lo de outra forma. È muito caro para um retorno duvidoso.
Não somos profissionais da palavra. Resta-nos a leitura dos amigos.
Hoje começamos a publicação de um
segundo livro denominado PÉROLAS DE KLANG.
Escrevemos sobre dois mergulhadores baianos, gente de Itapagipe, que foi
conectada para mergulhar na Malásia, KLANG, na busca de pérolas.
Então, desenrola-se uma trama
internacional com ares de James Bond que talvez agrade.
PÉROLAS DE KLANG
1
Serbentinho (Manoel) era o melhor jogador
de futebol de praia de Itapagipe. Não tinha outro! Quando a bola chegava aos
seus pés, saía a driblar todo mundo e geralmente fazia o gol. Logo após dava um
mergulho no mar ao lado, absolutamente exausto. Faltava-lhe resistência. Havia
uma razão – Serbentinho estava se tornando um alcoólatra. Bebia todos os dias.
Muitas vezes o irmão mais velho ia buscá-lo em algum lugar onde deitava para
dormir. Uma pena! Poderia ter tido outro destino, desde que era muito
inteligente.
Quando ainda estudava, era um dos
melhores alunos do colégio, que nem o irmão, Serbento (Raimundo) mas este prosseguiu nos estudos e
já estava para se formar em Biologia. Falava inglês fluentemente, resultado da
convivência com mergulhadores estrangeiros em plataformas submarinas. Já dava aulas particulares nas residências
dos alunos e era com esse ganho que sustentava a mãe e Serbentinho.
A mãe dos Serbentos era uma
batalhadora incansável. Mariscava todos os dias, tanto fazia ser na Ponta da Penha como
nos baixios de Plataforma. Apesar dos
filhos serem relativamente altos, ela era baixinha, ao ponto de ser mais
conhecida como Dona Pequenina em vez de Maria da Glória, que era seu nome.
Tostada pelo sol que tomava diariamente, tinha a pele morena e cabelos lisos e
quando moça eram pretos que nem os de uma índia. As pernas eram fortes e
arredondadas sob quadrís generosos. Era o tipo da mulher bem feita.
Foi nesse contexto de mulher
bonita que resultou nos dois filhos que têve, cada qual de um pai diferente. O
pai de Raimundo chamava-se Serbento, mais conhecido como Senhor Serbento da
padaria. Era espanhol. Numa certa manhã, ainda muito cedo, Maria da Glória foi
comprar pão que a mãe lhe pedira e, em vez de aguardar que a padaria abrisse de
vez – estava apenas com uma das portas meio levantada – adentrou por baixo dela
e não deu outra. O gringo que já estava de olho naquela baixinha; só fez arriar
a porta e consumar o ato. Verdade que já havia por parte de Pequenina certa
cumplicidade com aquele espanhol que era solteiro e morava sozinho num quarto,
ao fundo do estabelecimento. Nos dias seguintes, Maria da Glória chegava cada
vez mais cedo, até que um dia sua família se mudou e ela não pôde mais ver o
amante.
Aí, Maria da Glória ficou
grávida. Teve que confessar à mãe quem fora o autor daquele feito. Dona Felícia
pegou o ônibus e se dirigiu até o antigo bairro onde morava. Foi até a padaria
em hora de movimento. O espanhol não a conhecia, mas logo percebeu de quem se
tratava. Parecia com Maria da Glória. Negou peremptoriamente. A mãe fez um
escândalo. As pessoas se afastaram do local, aos risos.
-- Dou-lhe 24 horas para você
decidir, seu galego descarado. Você vai ter que assumir esse filho. Casar eu
sei que você nunca casará, mas as despesas com esse filho, o parto, o hospital,
uma mesada, você haverá de pagar. Vou estimar o quanto isso vai ser e venho
aqui buscar o dinheiro junto com a policia.
Duas semanas depois, a mãe de Maria da Glória
voltou à padaria. Encontrou-a fechada. Consultou os vizinhos. Informam que
fazia dois dias que ela não abria. Desesperada, dirigiu-se à Delegacia de
Polícia. Contou o ocorrido ao delegado. Esse mandou um investigador ao local do
“crime”, sendo informado do endereço de uma irmã do galego - no mesmo bairro.
Os dois caminharam até lá.
- Meu irmão viajou para a Espanha
no dia de ontem. Ele não comentou nada conosco. Só sei que a padaria já estava
para ser fechada, desde que ele tem casamento marcado ainda para este mês em
Valença. Eu e meu marido deveremos ir. Somos os padrinhos. Sinto muito! Nada
posso fazer.
Sem a pretendida remuneração,
nasceu Raimundo que dona Felicia fez questão de registrar como sendo filho
legítimo de Manuel Serbento e Maria da Glória dos Santos, aquele nascido em
Valença, Espanha.
E como foi o feito do segundo
filho, Manuel? Este nasceu de pai desconhecido, mas Dona Felícia fez questão de
registrar com o mesmo nome do pai do primeiro filho de Maria da Glória, ou
seja, Manuel de Serbento Filho. O miserável teria que pagar em dobro.
Fez mais ainda: não chamava os
netos pelos primeiros nomes. Chamava-os por Serbento e Serbentinho.
Disseminaria por todos os lados o nome daquele espanhol da peste. Quem conhecia
o caso, haveria de se lembrar para sempre do ocorrido. Aos que não sabiam, contaria
a história na primeira oportunidade.
Pequenina morava numa vila de
pequenas casas entre a Avenida Beira Mar e o Porto dos Mastros. A casa que foi de sua falecida mãe, tinha dois quartos – um dela e o outro
para os dois filhos, mais sala, cozinha e banheiro. Possuía um pequeno quintal,
onde plantava algumas verduras, mas tinha especial carinho com um pé de limão e
outro de pimenta. Eram os principais ingredientes de suas moquecas de
papa-fumos e de siris moles que costumava pescar. Esses últimos à noite. De quando em vez, Serbento,
seu filho mais velho, trazia um peixe, resultado dos mergulhos que dava nas
Docas da Bahia. Mais ocasionalmente o caçula pescava uns chicharros olho de boi
na Pedra da Lixa.
Certo dia, Serbento comunicou à
mãe que havia sido contratado por uma empresa estrangeira para mergulhar na
Malásia. Merú, seu amigo da mesma labuta, iria também.
- Mas na Malásio, filho?
- Sim mãe, na pesca de pérolas. A
região tem muita ostra.
Falava inglês fluentemente,
resultado da convivência com mergulhadores estrangeiros em plataformas
submarinas. Era um exímio mergulhador. Vivia desse trabalho e mais de aulas
particulares de inglês. Com isto sustentava a mãe e o irmão.
A mãe dos Serbentos era uma
batalhadora. Mariscava todos os dias, tanto fazia ser na Ponta da Penha como
nos baixios de Plataforma. Apesar dos
filhos serem relativamente altos, ela era baixa, ao ponto de ser mais conhecida
como Dona Pequenina em vez de Maria da Glória, que era seu nome. Tostada pelo
sol que tomava diariamente tinha a pele morena e seus cabelos eram lisos e
quando moça eram pretos que nem os de uma índia. As pernas eram fortes e
arredondadas sob quadris generosos. Era o tipo da mulher bem feita.
Foi nesse contexto de mulher
bonita que resultou nos dois filhos que têve, cada qual de um pai diferente. O
pai de Raimundo chamava-se Serbento, mais conhecido como Senhor Serbento da
padaria. Era espanhol. Numa certa manhã, ainda muito cedo, Maria da Glória foi
comprar pão que a mãe lhe pedira e, em vez de aguardar que a padaria abrisse de
vez – estava apenas com uma das portas meio levantada – adentrou por baixo dela
e não deu outra. O gringo que já estava de olho naquela baixinha; só fez arriar
a porta e consumar o ato. Verdade que já havia por parte de Pequenina certa
cumplicidade com aquele espanhol que era solteiro e morava sozinho num quarto,
ao fundo do estabelecimento. Nos dias seguintes, Maria da Glória chegava cada
vez mais cedo, até que um dia sua família se mudou e ela não pôde mais ver o
amante.
Aí, Maria da Glória ficou
grávida. Teve que confessar à mãe quem fora o autor daquele feito. Dona Felícia
pegou o ônibus e se dirigiu até o antigo bairro onde morava. Foi até a padaria
em hora de movimento. O espanhol não a conhecia, mas logo percebeu de quem se
tratava. Parecia com Maria da Glória. Negou peremptoriamente. A mãe fez um
escândalo. As pessoas se afastaram do local, aos risos.
-- Dou-lhe 24 horas para você
decidir, seu galego descarado. Você vai ter que assumir esse filho. Casar eu
sei que você nunca casará, mas as despesas com esse filho, o parto, o hospital,
uma mesada, você haverá de pagar. Vou estimar o quanto isso vai ser e venho
aqui buscar o dinheiro junto com a policia.
Duas semanas depois, a mãe de Maria da Glória
voltou à padaria. Encontrou-a fechada. Consultou os vizinhos. Informam que
fazia dois dias que ela não abria. Desesperada, dirigiu-se à Delegacia de
Polícia. Contou o ocorrido ao delegado. Esse mandou um investigador ao local do
“crime”, sendo informado do endereço de uma irmã do galego - no mesmo bairro.
Os dois caminharam até lá.
- Meu irmão viajou para a Espanha
no dia de ontem. Ele não comentou nada conosco. Só sei que a padaria já estava
para ser fechada, desde que ele tem casamento marcado ainda para este mês em
Valença. Eu e meu marido deveremos ir. Somos os padrinhos. Sinto muito! Nada
posso fazer.
Sem a pretendida remuneração,
nasceu Raimundo que dona Felicia fez questão de registrar como sendo filho
legítimo de Manuel Serbento e Maria da Glória dos Santos, aquele nascido em
Valença, Espanha.
E como foi o feito do segundo
filho, Manuel? Este nasceu de pai desconhecido, mas Dona Felícia fez questão de
registrar com o mesmo nome do pai do primeiro filho de Maria da Glória, ou
seja, Manuel de Serbento Filho. O miserável teria que pagar em dobro.
Fez mais ainda: não chamava os
netos pelos primeiros nomes. Chamava-os por Serbento e Serbentinho.
Disseminaria por todos os lados o nome daquele espanhol da peste. Quem conhecia
o caso, haveria de se lembrar para sempre do ocorrido. Aos que não sabiam, contaria
a história na primeira oportunidade.
Pequenina morava numa vila de
pequenas casas entre a Avenida Beira Mar e o Porto dos Mastros. A casa tinha dois quartos – um dela e o outro
para os dois filhos, mais sala, cozinha e banheiro. Possuía um pequeno quintal,
onde plantava algumas verduras, mas tinha especial carinho com um pé de limão e
outro de pimenta. Eram os principais ingredientes de suas moquecas de
papa-fumos e de siris moles que costumava pescar. Esses últimos à noite. De quando em vez, Serbento,
seu filho mais velho, trazia um peixe, resultado dos mergulhos que dava nas
Docas da Bahia. Mais ocasionalmente o caçula pescava uns chicharros olho de boi
na Pedra da Lixa.
Certo dia, Serbento comunicou à
mãe que havia sido contratado por uma empresa estrangeira para mergulhar na
Malásia. Merú, seu amigo da mesma labuta, iria também.
- Mas na Malásio, filho?
- Sim mãe, na pesca de pérolas. A
região tem muita ostra.
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