domingo, 23 de janeiro de 2011

A CONSTRUÇÃO DA CIDADE

Feito o cerco da área onde seria instalada a cidade, começaram as diversas construções. Primeiramente, das habitações de sua gente. Foram erguidas as casas de seus habitantes, todas de madeira com cobertura de palha de coqueiro (provavelmente). Certamente, não havia no reduzido espaço da cidade, alvenaria necessária.
Já o pessoal do governo escolheu a atual Praça Municipal para erguer a sede que iria dirigir a cidade. Também de pau e palha.
Na parte espiritual, quando os jesuítas chegaram junto com Tomé de Souza, nomeado Governador Geral do Brasil, deram inicio à construção da igreja de Nossa Senhora d’Ajuda, ainda de madeira e palha, mas já com a imagem maravilhosa da santa trazida pelo próprio governador em sua bagagem. Media 30 centímetros de altura.

Nos primeiros dias de governo da nova cidade, é de se imaginar a preocupação com o abastecimento de água e víveres de um modo geral. O local era limitado e ainda por cima, lá no alto da colina. Fazia-se necessário descer até Vila Pereira ou mesmo nos arredores da Preguiça. Certamente nesse local haveria fontes de água doce vinda do morro, bem como peixe e outros animais que habitam os mares.

Nasceram as primeiras ladeiras, inicialmente caminhos inclinados em meio à mata virgem. Sobre o assunto, permita-nos reprisar uma postagem inserida no blog da Cidade Baixa. Ela fala bem das nossas ladeiras.

LADEIRAS QUE LIGAM AS DUAS CIDADES - ALTA E BAIXA

A cidade de Salvador foi fundada sobre uma falha geográfica medindo aproximados 75 metros।
Em razão desse fator geográfico, a cidade se formou em dois níveis, chamados Cidade Alta e Cidade Baixa. Em conseqüência, foram surgindo naturalmente os caminhos que, ao longo do tempo, transformar-se-iam em ladeiras, ligando os dois planos da cidade.

Em postagem bem anterior, dissemos que a primeira ladeira assim reconhecida foi a Ladeira da Jequitaia, hoje Ladeira da Água Brusca, ligando o Santo Antônio Além do Carmo (isto é, além da Porta do Carmo) à Praia da Jequitaia.

Dissemos, na oportunidade que, para garantir este acesso, foram construídos dois fortes nas proximidades. Na parte de cima, o Forte do Barbalho e na parte de baixo, o Forte Santo Alberto.

Talvez pareça inusitada a construção de duas fortalezas com este objetivo. Não é! A Cidade Alta, onde começou Salvador, precisava de abastecimento de víveres, de carvão para aquecimento e de tantas outras coisas necessárias a sua sobrevivência. E tudo isto vinha da Cidade Baixa, do Porto da Lenha e outros locais de atracação de embarcações provenientes das diversas localidades da Baia de Todos os Santos. Para os lados da Vila Pereira, a coisa nunca andou muito bem. Até o donatário daquela área foi devorado pelos índios. Por essa razão e outras, a Porta Sul foi uma das últimas a ser aberta em direção a essa região.

A segunda ladeira assim reconhecida foi, sem dúvida alguma, a Ladeira da Conceição, com referências históricas desde 1587. Gabriel Soares, cronista da época escrevia:

“está no meio dessa cidade uma honesta praça em que se correm touros quando convém..., e dessa mesma banda da praça, dos cantos dela, descem dois caminhos em volta para a praia, uma da banda norte que é de serventia da fonte que se diz do Pereira e do desembarque da gente dos navios..."

Na forma de escrever de hoje seria algo mais ou menos assim: “ havia no meio dessa cidade uma praça onde se faziam corridas de touros ocasionalmente, e de um dos cantos dessa praça, desciam dois caminhos, um em direção à praia e outro em direção à Vila Pereira, onde existia uma fonte e se fazia desembarque de pessoas de navios”.

As dúvidas surgem, quando o atencioso cronista faz citação de uma “praça honesta”. Poderia ser a hoje Praça Thomé de Souza, como também poderia ser a hoje Praça Castro Alves. Por enquanto é imprecisa a definição, entretanto quando o cronista se refere que “nesta correm touros quando convém”, é lógico deduzir que não seria na praça principal, a Thomé de Souza que essas corridas seriam convenientes "quando convém". É mais ou menos crível que a praça principal fosse preservada. Os touros deveriam destruir tudo ou quase tudo.

À sua esquerda, em direção ao Carmo, muito menos, desde que era uma área onde a população fazia suas casas. Só nos resta a hoje Praça Castro Alves, onde se localizava a porta sul da cidade. A mais afastada, a menos habitada, consequentemente, a mais conveniente para corridas de touros, se é que havia.

“...dos cantos dela descem dois caminhos em direção à praia e outro em direção à Vila Pereira”.

Não há registro de caminhos que descem da Praça Thomé de Souza. Poder-se-ia registrar a Ladeira da Praça, em direção à Baixa dos Sapateiros, Nazaré, etc. que não é o caso.

O mais viável e lógico é aventar que a tal “praça honesta” não é outra senão a atual Praça Castro Alves. Dela saem duas ladeiras: a da Conceição da Praia que vai dar no lugar onde os padres haveriam de erigir a Basílica da Conceição da Praia e a Ladeira da Preguiça que, bem ao meio, tem uma junção com a Ladeira de Santa Tereza, esta em direção à Vila Pereira.

Por outro lado, há um detalhe importante há considerar. A Ladeira da Misericórdia só ia até ao meio do morro. Até hoje é assim.

Àquele tempo, ainda não existia a Ladeira da Montanha. Seus planos de construção começaram em 1873 e somente cinco anos após começaram os trabalhos de sua construção (1878).

De modo que, a hipótese de que a Ladeira da Misericórdia tivesse alguma ligação com a Cidade Baixa através da Ladeira da Montanha, cai por terra, montanha abaixo.

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