Vimos na postagem anterior o mapa da Salvador de 1549/51, contudo a Baía de Todos os Santos que banha grande parte da cidade foi descoberta em 1501 através uma expedição chefiada por Gaspar de Lemos. Presente na mesma o cartógrafo Américo Vespúcio que vinha dando nome às localidades por onde passava a nau. De acordo com o santo do dia, o referido profissional dava o nome à localidade. Coube a Salvador o nome de Baia de Todos os Santos. Tinha que ser de todos os santos!
Teria esta expedição deixado gente nas costas baianas? Acredita-se que não. Vinha com uma única designação. Posteriormente, outras que lhe sucederam vieram com essa incumbência, inclusive aquela que em 1536 trouxe o primeiro donatário que se tem notícia: Francisco Pereira Coutinho. Ele fundou o Arraial do Pereira, entre o Porto da Barra e a Ponta do Padrão, hoje Farol da Barra. Deve ter se estendido até a enseada onde hoje se encontra o Yacth Clube da Bahia. Fez-se então o povoado de Vila Velha, como também era chamado.
Mas, antes disso, em 1510 uma nau francesa naufragava na altura do Rio Vermelho. Morreu quase todo o mundo em conseqüência do próprio naufrágio ou mortos pelos índios Tupinambás. Sobreviveu um filho de Deus: Diogo Álvares Correia, o Caramuru.
Diz-se que usou de estratégias mirabolantes para se manter vivo, mas isto são histórias que se contam, a maioria fantasiosa.
Diogo Álvares Correia
Assustando os índios, ou melhor, às índias
Uma delas, a mais famosa, de que se servindo de um mosquetão havia matado um passarinho à frente dos índios que começaram a chamá-lo de “Homem Trovão da Morte Barulhenta” e as diversas variações que se conhece, ou referindo-se a sua arma, diziam que o “pau cuspia fogo”.
E de relação ao nome Caramuru, o que se diz por toda a parte? “Parecia uma enguia saindo das pedras”, é a mais em voga. Daí Caramuru.Tem até fogos com esse nome.
Tanto uma referência como a outra fogem à realidade das coisas. É difícil acreditar que um náufrago tenha podido se manter vivo nadando, todo vestido, com botas inclusive e ainda uma espingarda na mão no mar revolto do Rio Vermelho. No mínimo, essa espingarda teria ficado prejudicada pela água.
Quando ao nome, também não se pode crer que os índios, bons pescadores, não soubessem o que era um caramuru, ao ponto de confundi-lo com um homem com quase dois metros de altura. Bota moréia nisto!
Como se sabe, esse nome foi criado pelo Frei José de Santa Rita Durão em seu famoso poema, estilo camoniano, Caramuru, séculos depois. Sim! Muitos séculos depois.
O que se pode crer, em verdade, é que este homem devia ser muito habil no trato com as pessoas, a começar que em sendo português, viajava numa nau francesa. Quando foi se casar, preferiu a França e chamou de Catharina a sua esposa, em homenagem a uma rainha igualmente francesa ( Catherine des Granches, esposa de Jacques Cartier).
Evidentemente que colaborou e muito com os franceses em todos os sentidos. Para se ter uma melhor idéia dessa “colaboração” clandestina, desde que atuava em terras portuguesas, os franceses chamavam a Ponta do Padrão (hoje Farol da Barra), marco de posse de Portugal de Ponta do Diogo ou Ponta do Correia. Não reconheciam a posse da mesma pela nação lusa.
Por outro lado, não deixava de colaborar com os postugueses que se instalaram na Vilha Velha, mas foi incapaz de evitar que seu donatário, Francisco Pereira Coutinha, tenha sido devorado pelos índios Tupinambás, com os quais convivia até maritalmente.
Mesmo com o fim trágico do donatário português, Diogo Álvares Correia conseguiu “emplacar” três dos seus filhos (Gaspar, Gabriel e Jorge) como “Cavaleiros” em solenidade presidida por Tomé de Souza, pelos serviços prestados à Coroa Portuguesa.
Um “monstro da comunicação”. Os pobres dos índios foram presas fácil do seu encanto pessoal. Tinha um harem na Graça, onde se instalou.
Uma espécie de caramuru
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