domingo, 27 de março de 2011

CORREDOR DA VITÓRIA

O nosso andarilho encontrava-se no Campo Grande e vislumbrou ao seu lado direito – lado do mar – uma trilha que devia  se dirigir para a Vila Pereira. Vamos imaginá-la mais ou menos assim:

  Aqui vale fazer um parêntese e lembrar que o tal andarilho partiu da Porta de Santa Luzia na atual Praça Castro Alves e veio andando por aí. Precisava ir à Vila Pereira na atual Barra. Pegou inicialmente a Avenida Visconde de Mauá, Rua Democrata, talvez Largo 2 de Julho, subiu os Aflitos e pelas alamedas do Passeio Público alcançou o Campo Grande. Claro que estamos usando os nomes dos diversos lugares como os conhecemos hoje. Não há outra forma de nos situarmos. É a didática da coisa.

  Representação: a trilha encontrada está representada pelo traço marrom. Em verde são as encostas do Unhão do lado do mar e do Vale do Canela do outro lado. . Um autêntico corredor. Muito mais tarde tornou-se da Vitória das forças libertadoras que marcharam através dele. A sua ocupação nos tempos atuais deu-se, primeiramente, (fins do Século XIX a principio do século XX) por grandes residências com feições distintas daquelas observadas no antigo Centro Histórico. Esses imóveis pertenciam a prósperos negociantes do Pilar e Comércio, fazendeiros e senhores de engenho, bem assim a estrangeiros que trabalhavam no setor de importações - Não nos esqueçamos que Salvador era um dos maiores centros comerciais do hemisfério sul.

 
O Corredor da Vitória como era antigamente



Corredor da Vitória - ontem

Corredor da Vitória - hoje

Mais atual já com os bondes. A seguir, algumas das casas que ainda resistem:





Naturalmente, há de se pensar que o Corredor da Vitória teria sido um balneário como aconteceu, por exemplo, com a península de Itapagipe. Não foi? Determinados indicativos apontam em sentido contrário. Primeiro deles é a posição das casas do lado direito do corredor. Todas foram construídas com o fundo voltado para o mar - frente para a rua. A parte de trás era ocupada por grandes quintais onde se plantava e até se criava pequenos animais. Geralmente o espaço era finalizado com um simples muro. Mas o mar não era uma atração como é hoje? Não era mesmo. Àquele tempo toda a sujeira produzida na cidade alta era jogada no mar. Os esgotos tinham sua boca de saída justamente no mar. Isso perdurou até metade o século XX ou até mais, aí pelos anos de 1968/70. O Corredor da Vitória não era uma exceção. Quando a coisa melhorou – saneamento básico - começaram a construção dos grandes prédios que hoje dão ao Corredor da Vitória toda a singularidade de uma super metrópole. É o metro quadrado mais caro da cidade, custando em torno de R$7 mil e em pouco tempo chegará aos R$10 mil. Chega a surpreender ao turista menos avisado que vem a Salvador para ver o Centro Histórico e ao se dirigir para a Barra para ver outras coisas de antigamente, depara-se com um tecido urbano só comparável ao das cidades mais modernas do mundo e se for verificar os fundos do mesmo, vai se surpreender ainda mais – periféricos moderníssimos e píeres luxuosíssimos. Neles estão atracadas lanchas e escunas do mais alto gabarito.

  Mas o Corredor da Vitória não é uma área tombada? É e não é, como se costuma dizer nas questões duvidosas. De efetivo, sabe-se que somente em 2007 o IPHAN aprovou o tombamento da Igreja da Vitória. Consequentemente, toda a área em torno num raio de 300 metros, considera-se como também tombada. Esses 300 metros atingem grande parte do corredor. De não efetivo, sabe-se que em 1998 o IPHAN recebeu do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado da Bahia uma solicitação de tombamento de 17 construções distribuídas entre a Rua da Graça, o Largo da Vitória e o próprio Corredor da Vitória. Isto provocou uma grande celeuma nos meios jurídicos, mas ao que se sabe, o processo de tombamento que levou o número 1.451-T-99, referente ao conjunto conhecido como “Corredor da Vitória”, foi arquivado em 26 de maio de 2004. Nada feito, portanto, contudo, toda esta celeuma provocou algum receio nos meios empresarias da contrução civil. Como resultado, algumas das antigas residências foram mantidas e se construiu ao fundo ou ao lado delas cada um dos edifícios. As residências “preservadas” passaram a funcionar como salão de recepção, sala de ginástica, mesmo uma sofistificada portaria. Um dos casos mais notórios é o prédio denominado Mansão dos Cardeias ou Morada dos Cardeais – é a mesma coisa. Fica ao lado do antigo prédio onde morava o arcebispo de Salvador. Chamava-se Casa do Arcebispado ou do Arcebispo. Vejam como ficou:

 

Mansão dos Cardeais

Chocante, não? Extraordinário, dirão outros. Belíssimo! Lembra bem o livro “Gulliver na Terra dos Pigmeus”. O mesmo vai acontecer no espaço onde existia a Mansão Wildberger, bem atrás da Igreja da Vitória.
Maquete do edificio que se construirá no Largo da Vitória. O prezado leitor poderá pegar uma lupa para tentar localizar a “igrejinha” não sei quantas vezes centenária. Fica ao fundo.

 
. Mansão Wildberger
Totalmente destruida. O arco da entrada principal resistiu aos tratores, como a dizer: “daqui não saio, daqui ninguém me tira” segundo famosa marchinha de Carnavais passados.

Igreja da Vitória


 

Vista aérea do local, ainda com a Mansão Windberger entre as árvores. A igreja é o prédio com amplo telhado.

2 comentários:

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