Hoje em dia uma pessoa que esteja no Largo da Vitória e deseja alcançar o Porto da Barra, estando a pé ou usando um veículo, é só descer a Ladeira da Barra. Simples e rápido1 São apenas 860 metros. Mas, antigamente, não era assim tão fácil. Ao que tudo indica, o cara tinha que fazer uma grande volta. Entrar pela Rua da Graça; alcançar o Largo do mesmo nome; dobrar pela Av. Princesa Leopoldina e pegar a Av. Princesa Izabel. Após toda essa andança, chegar ao Porto e já que estamos falando de antigamente, em Vila Pereira ou Vila Velha, naturalmente. No caso são 1800 metros, ou seja, cerca de 110% a mais.
Em traço amarelo a Ladeira da Barra entre o Largo da Vitória e o Porto. Em traço vermelho o caminho pela Graça.
Mas o que nos leva a pensar assim? A convicção de que a Ladeira da Barra só ia até o princípio do elevado onde se encontra hoje a Igreja de Santo Antônio da Barra। Após isto, existia um paredão rochoso que isolava a Praia do Porto da hoje grande ladeira.
Vejam esta foto:
Esta foto é apresentada como sendo a Ladeira da Barra e realmente o é, contudo não nos deixemos enganar pelo seu trajeto. Inicialmente, vamos destacar os principais ângulos da mesma até que cheguemos às conclusões definitivas. A enseada à esquerda é a antiga Praia dos Índios na Vila Pereira, onde hoje está localizado o Iate Clube da Bahia. Na encosta do morro que dá para a enseada vê-se bem claramente o Cemitério dos Ingleses, já murado e na mesma direção uma residência, talvez a sede do próprio cemitério. À frente do muro e da residência, sobe a Ladeira da Barra que se curva ao alto em direção ao Largo da Vitória. Agora mudemos nosso foco de observação para o declive de onde foi tirada a foto. Essa é a Ladeira de Santo Antônio da Barra, ainda mais rústica do que a própria Ladeira da Barra. Ainda não havia sido construída a igreja que lhe dá uma grande peculiaridade. Vejamos a grande modificação introduzida por volta de 1900 através outra foto também preciosa:
Foi feito um corte no morro। Construiu-se uma balaustrada e foram colocados postes de iluminação. Aí, a ladeira tem seqüência até o Porto.
Vamos fazer algumas constatações dessas modificações através outros ângulos de observação. Primeiramente pelo mar, graças a uma magnífica tela do pintor Henrique Passos. Esse grande artista pintou a antiga Salvador de forma extraordinária. Suas telas são magníficas.
A tela mostra a enseada a partir do mar; as residências ao alto do morro, inclusive os cinco coqueiros que se vê no paredão rochoso a que nos referimos na foto original, bem como dois grandes casarões। No alto do morro a igreja. Ela ilustra muito bem parte do que estamos falando। No futuro, O Yacth Clube da Bahia aí se instalaria na baixada. A segunda constatação se fará através uma preciosa tela da Praia do Porto, aí pelo século XVII
Como se vê, não existia ainda o princípio da Ladeira da Barra. No local, a mesma mataria da primeira grande foto e da tela de Henrique Passos. A mata Atlântica, com árvores que se elevavam até quase a altura da igreja, muito provavelmente seria o Morro do Clemente que se estendia até aí. É uma dedução absolutamente lógica para quem conhece o local. Pelo visto, quando a Ladeira da Barra conseguiu seu escape pelo Porto, todo o conjunto de casas em frente à praia foi demolido para poder ser feito o atual prolongamento da avenida neste local. Achamos que a conclusão final e definitiva, o xeque-mate é o desenho que veremos adiante de autoria da senhora Maria Graham:
Reprodução do magnífico desenho।
Apresenta a Igreja ao alto। Ainda não existia o Forte de São Diogo e o destaque maior é o elevado que se estende em frente à Igreja. Não há sinal de ladeira. Sem dúvida que é um elemento urbano que sempre se destaca.
Esta constatação empresta à Caramuru e aos índios da tribo de sua mulher, uma importância mais do que significativa aos acontecimento daquela época. Tornando-se a Graça, onde habitava os tupinambás, passagem obrigatória para quem vinha do Porto da Barra – Vila Pereira – claro que os índios deviam se aproveitar dessas circunstâncias para impor determinadas condições no fornecimento, por exemplo, de água. O escambo devia ser sempre favorável a eles e não importava a nação. Nesse sentido, conta-se até uma história: A Ponta do Padrão onde é hoje o Farol da Barra, marco de posse dos portugueses da nova terra, não era considerado pelos franceses que a chamavam de Ponta do Diogo, em homenagem ao grande amigo dos gualeses. Os espanhóis também deviam usar outro nome- Extremidad del Alvarez, por exemplo. O fato é que, naquela época ninguém era de ninguém.
Farol da Barra – Ponta do Padrão
Não se sabe ao certo onde se encontra o marco colocado por Américo Vespucci no atual Forte de Santo Antônio – Farol da Barra. Tem-se a impressão que a fortaleza foi construída sobre ele. Já em Porto Seguro o marco de posse daquela terra está devidamente exposto em redoma de vidro na praça diante da Igreja de Nossa Senhora da Penha. Ele foi feito em mármore com a Cruz de Avis esculpida num dos lados, do outro as Armas de Portugal. Possui 2,5 m de altura. Acredita-se que o de Salvador tenha tido as mesmas características.
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