Temos um
amigo (Augusto) que, toda vez que nos encontrávamos, (faz tempo que não o vejo), dizia que precisávamos contar a
história da natação da Bahia. Temia ele que tudo se perdesse! Nadamos juntos em Itapagipe. Foi aí que resolvemos criar um blog intitulado “A verdadeira história da natação da Bahia”. Foram
feitas duas dezenas de postagens e, satisfeitos, paramos de escrever o referido
blog. O assunto tinha se esgotado... Chegamos aos tempos atuais. Deixamos o resto para os outros.
O que
acontece? Fomos menino, adolescente e adulto entre dois séculos. Acompanhamos a
grande evolução que o mundo teve entre meados do século XX e principio do
século XXI em vários setores da atividade humana.
Como no presente
estamos tratando de Carnaval, acompanhamos de perto tudo que se lhe diz respeito
entre os dois séculos. Para sermos mais precisos, vivemos muito de seus momentos. Por
exemplo, acompanhamos de perto a transição do antigo carnaval
chamado de “clubes” para o carnaval denominado de “rua”; vimos sua transformação
material e imaterial, ou seja, acompanhamos a mudança de seus conceitos.
Cabe-nos contar aos leitores essa transformação. Aliás, na
postagem anterior já fizemos referências importantes sobre o comportamento do
folião no carnaval de antigamente. Bastante diferente dos dias de hoje.
Hoje, vamos
falar como foi possível esquecer as fantasias, as músicas, os adereços do carnaval
de antigamente, sua beleza infinita e substituí-los pelo que vemos e ouvimos
hoje em dia?
A maioria
dos autores culpa o surgimento do Trio Elétrico, que teve inicio na “fobica”
de Dodô e Osmar no Carnaval de 1950.
Fobica de Osmar
A respeito conta-nos o jornalista Gil Maciel (Publicado
no jornal Correio da Bahia em 22 de janeiro e 2000):
"A fobica trafegava lentamente. Dentro do carro, Dodô e Osmar tocavam frevos e marchinhas, com seus paus elétricos. Osmar estava preocupado em não atrapalhar o cortejo dos blocos na Rua Chile. Ele virou para Dodô e disse: "Rapaz, tô com medo que a gente seja preso por causa da confusão.
Os dois decidiram pedir ao motorista que parasse o carro e foi quando ouviram do condutor uma resposta emblemática: "Já estamos sem freio e sem embreagem há muito tempo. Quem está empurrando o carro é a multidão".
Era domingo de carnaval de 1950. O dia em que a Bahia conheceu oCarnaval viva do embrião do Trio Elétrico. "Peguei eles na Castro Alves, já com muita gente seguindo. Quando chegamos ao pé da ladeira que subia para a Rua Chile, a fobica quebrou", lembra Orlando Tapajós, que depois veio a ser o dono do Trio Tapajós e hoje é uma lenda viva do Carnaval"
Os dois decidiram pedir ao motorista que parasse o carro e foi quando ouviram do condutor uma resposta emblemática: "Já estamos sem freio e sem embreagem há muito tempo. Quem está empurrando o carro é a multidão".
Era domingo de carnaval de 1950. O dia em que a Bahia conheceu oCarnaval viva do embrião do Trio Elétrico. "Peguei eles na Castro Alves, já com muita gente seguindo. Quando chegamos ao pé da ladeira que subia para a Rua Chile, a fobica quebrou", lembra Orlando Tapajós, que depois veio a ser o dono do Trio Tapajós e hoje é uma lenda viva do Carnaval"
Daí pra
frente, nos carnavais seguintes, foram surgindo os Trios Elétricos em potentes caminhões e os
blocos foram aderindo na sua formação. O primeiro deles foi “Os Internacionais”.
Depois vieram “Os Corujas”, o “Eva”, etc. Hoje são mais de 100.
Aos poucos
ou quase imediatamente, os foliões trocaram os clubes pelo carnaval de rua.
Também trocaram as fantasias pelas mortalhas e abadás, nessa ordem.
Mortalhas e abadás - foram elas que encurtaram as mortalhas
"A estrutura do Carnaval dos trios é o espelhamento
de uma sociedade no seu paroxismo. É impossível manter a estabilidade de tal
festa, pela sua magnitude, sem estabelecer medidas repressivas que impeçam o
surgimento de conflitos de grandes proporções. Apesar disso, a violência
explícita, por vezes, era mostrada pela mídia; até que um dia, um acontecimento,
na Praça Castro Alves, chocou a opinião pública: uma turista branca e loura foi
atacada, saqueada e quase desnudada, diante de todos que acompanhavam o trio
elétrico, por um grupo de indivíduos num ato de selvageria que a mídia
transmitiu para todo o país. A partir desse dia estabeleceu-se a censura à
Imprensa: não se divulgava mais cenas de violência como brigas e arrastões,
embora eles continuassem existindo. Passou-se, então, a divulgar a falsa
estatística do “Carnaval sem violência”, com números manipulados. Para atrair
turistas, criou-se o mito da “Bahia: terra da felicidade”.
Por via das dúvidas, e por não acreditar nas
estatísticas, a “elite” resolveu proteger-se criando espaços limitados por
cordas e defendidos pela versão baiana dos “tonton macoutes” de Charles
Duvalier, ex-ditador do Haiti – os “cordeiros” (nem tão cordeiros assim). Sua
função é dar bordoadas em quem ousar ultrapassar os limites estabelecidos do
espaço privilegiado dos que podem pagar por um abadá. Nesse espaço, com uma
estrutura de apoio que inclui serviços médicos, sanitários, lanchonete e bar,
não são aplicadas as leis que valem para o cidadão comum: usa-se lança-perfume
até desmaiar, drogas rolam, mas tudo dentro da nova ordem estabelecida dentro
do bloco.
O folião marginalizado – o chamado “pipoca” – e o
que vai apenas “olhar” o Carnaval paga caro pela ousadia de atrapalhar o
desfile dos cortejos. Além da brutalidade dos “cordeiros”, da ação de marginais
furtando seus pertences, há a atitude covarde dos chamados “malhados”,
indivíduos que passam o ano inteiro treinando em academias com o objetivo único
de agredir os que não brincam sob a proteção do abadá.
No topo dessa pirâmide carnavalesca situa-se a
classe média alta, que, do alto dos seus luxuosos camarotes – verdadeiros
bunkers, super-protegidos, que chegam a possuir mais de mil metros quadrados de
área – acompanha o desenrolar desse drama, refestelando-se com saborosas
iguarias, sob efeito de bebidas alcoólicas. A mídia
encarrega-se, por meio de suas estrelas, de prestigiar, com retórica
convenientemente elaborada, essa que é apelidada de “a maior festa do planeta”
– em que para se brincar é preciso resistência de super-homem – louvando o
monumental, o grandioso, com destaques nos flashes da TV para representantes da
mais pura eugenia dos blocos de “gente bonita”, ou seja, jovens de pele clara e
de classe média e média alta."
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