Como é de todos sabido, a Igreja é contra a Lavagem do Bonfim. Diz
tratar-se de uma manifestação de outra religião: o Candomblé. Não seria,
portanto, uma festa da Igreja Católica.
Dentro dessa concepção, ficamos sem entender, primeiramente, o nome
oficial da Lavagem: Lavagem do Senhor do Bonfim. Segundo, o destino da mesma, ou
seja: a Igreja do Senhor do Bonfim. Terceiro: a lavagem dos degraus da própria
igreja, salientando-se que antigamente toda a igreja era lavada. Pelos anos,
foram diminuindo o espaço dessa lavagem.
Poder-se-á ainda citar outras afinidades com a igreja, como sejam, por
exemplo, a venda de fitas alusivas ao Bonfim e imagens e terços, igualmente
agregados. Um comércio que gera emprego, o que significa menos miséria.
E há que citar obrigatoriamente o encanto da música e letra do Hino ao
Senhor do Bonfim. Quando o povo começa a subida da ladeira do Bonfim, milhares
de vozes entoam a grande música num espetáculo deveras impressionante.
Em 2010, o Cônego Edson Meneses, responsável pela grande igreja,
comovido, abriu uma das janelas do templo e de posse de uma réplica da imagem
do grande Santo como que saudou o povo e ainda estendeu um veludo vermelho na
sacada da janela.
Cônego Edson Menezes
Vejam o que a
imprensa escreveu sobre a ação desse sacerdote:
“A ação do
padre Edson pode ser entendida mais como exemplo de alguém que entende o
princípio de respeitar quem pensa diferente. Isso porque ao abrir a igreja e
acolher uma manifestação católica no nome, mas com um forte parentesco com a
devoção a Oxalá, o orixá do candomblé que veste branco e é distribuidor de
dons, como a chuva, padre Edson dá um tapa de luva nos que acham que religião é
terreno de disputa. O sacerdote católico mostra que é possível conviver no
mesmo espaço entendimentos religiosos diferentes, sem proselitismos ou queda de
braço para arrastar fiéis. O padre deixa também margem para a interpretação de
que a Igreja Católica está disposta a não cometer, em determinadas situações,
os mesmos erros do passado.O simples ato de abrir uma janela e dar as boas
vindas ao cortejo é simbologia do que vem ocorrendo na prática entre as
religiões de matrizes africanas e o catolicismo. Os dois segmentos estão
praticando o diálogo, que é muito diferente da tentativa de um convencer o
outro da sua Verdade ou fazer uma mistura dos princípios da fé de cada um. A
questão ultrapassa a ideia de abrir a igreja para a visitação após a chegada do
cortejo, ação proibida pela Arquidiocese de São Salvador em 1890. A ação do
padre Edson pode ser entendida mais como exemplo de alguém que entende o
princípio de respeitar quem pensa diferente”.
“Respeitar quem pensa diferente”. Esta é a ordem
que deveria ser o lema de todos. Ai o mundo seria muito melhor.
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