sexta-feira, 23 de outubro de 2009

ALAGADOS

Há quase 70 anos a natureza sofreu um duro ataque pelos lados da Península de Itapagipe. Tomaram do mar uma faixa de mais de um milhão de metros quadrados. Mas, como assim?

Nomearam a península como aterro sanitário de Salvador. Na mesma época, Itapagipe era designada como Pólo Industrial de Salvador. Duas misérias juntas. Na primeira nomeação, todo o lixo produzido no resto da cidade, principalmente oriundo da Cidade Alta, era jogado às margens da Enseada dos Tainheiros que chegava onde é hoje o bairro do Uruguai. Na época, ainda não existiam os bairros Jardim Cruzeiro, Machado e Maçaranduba. Toda área fazia parte da Enseada dos Tainheiros,

Um milhão de metros quadrados

Avenida do Contorno dos Alagados
Decorrido todo esse tempo, analisemos o que sobrou dessa insânia. Como resultado do aterro, temos hoje três bairros sem nenhum ordenamento urbanístico, sem arborização, sem nada. São áreas degradadas. Horríveis. Infelizmente, essa é a realidade.

De relação ao Pólo Industrial e suas mais de 30 indústrias, não existe sequer uma, hoje em dia. Todas fecharam! Só fizeram atrair gente de todos os lados do recôncavo e das ilhas e desempregá-las anos depois.


Por outro lado, fizeram um trabalho de dispersão gravíssimo. Mandou embora os veranistas que movimentavam Itapagipe social e economicamente. Ninguém suportava mais o mau cheiro e os dejetos industriais jogados ao mar, tanto do lado da Enseada dos Tainheiros, quanto do lado da Avenida Beira Mar.

Não compreendemos como um prefeito teve a coragem de autorizar o aterro do Uruguai e da forma como foi feito, com lixo.


Outro dia, estivemos lendo uma tese sobre os Alagados em que seu autor afirma que, após a colocação do lixo, uma draga posicionada na ponta da Penha canalizou areia para ser colocada sobre este lixo. O cara misturou tudo. Primeiro é necessário separar o Aterro do Uruguai, (assim deve ser chamado) com os Alagados da Avenida Porto dos Mastros. Aquele foi realizado por volta de 1940 e este último em 1953. Treze anos separam os dois acontecimentos, embora este último tenha se “inspirado” no primeiro, isto é, teria sido uma conseqüência daquele.


Segundo, não houve nenhuma colocação de areia sobre o lixo jogado no Uruguai. Na área não tinha areia! Era lama de mangues! O que jogaram em cima foi sulfato de ferro, também conhecido com sulfato férrico. Contêm enxofre e oxigênio e é usado como coagulante para tratamento de resíduos industriais. No caso do Uruguai no tratamento do lixo. Um cheiro insuportável. Depois de feito o “misère”, colocaram uma camada de barro.

A canalização de areia da ponta da Penha foi feita exclusivamente para os Alagados do Porto dos Mastros.


Estranhamos muitíssimo a tendência urbanística de nossos antigos dirigentes. Quando pensavam algo de ruim, lembravam-se da Cidade Baixa. É uma tendência que vem desde os tempos de Thomé de Souza. Sabe-se, por exemplo, de um decreto daquela época, que “todo o lixo produzido na Cidade Alta, deveria ser jogado na Cidade Baixa”. Não é brincadeira não! O homem decretou assim!

A idéia se estendeu até o século passado. “Todo o lixo produzido na Cidade Alta deverá ser jogado na Enseada dos Tainheiros”. Foi o que aconteceu por volta do ano de 1940.


Ninguém enxergava Salvador para os lados leste e norte da cidade. Só enxergavam para o sudoeste. Parece que agora começam a pensar na Cidade Baixa. Recentemente, o atual Prefeito desapropriou todos os imóveis existentes na atual Avenida Luiz Tarquínio e parte da Rua Barão de Cotegipe. Vão construir uma avenida e rejuvenescer essa área. Parece ter sido uma medida certa! Se alguém duvidar, vá fazer um “Cooper” entre o Canta Galo e a Boa Viagem pela praia. Se chegar vivo em Monte Serrat é um campeão.


Este blog está baseado em um livro de nossa autoria sobre Itapagipe do Senhor do Bonfim, ainda a ser publicado. Há muitos impedimentos a vencer. Mas isto é outra história. Neste livro, já defendia a idéia da construção dessa avenida, bem como de outras tão importantes quanto.
Ligação Ponta do Humaitá - Porto da Lenha - Avenida Beira-Mar


Uma delas seria ligando a Ponta do Humaitá à Avenida Beira Mar, passando pela Pedra Furada, Estaleiro do Bonfim e Porto da Lenha. Como se sabe, entre essas localidades há diversas interrupções e é um lugar muito bonito. Possivelmente, será a continuação da que a Prefeitura está cogitando fazer na Av. Luiz Tarquínio.
 
A outra (a segunda foto desse post) publicada acima, é de suma importância. Faria o contorno da hoje Bacia do Uruguai até alcançar a Enseada do Cabrito em Plataforma. Ela evitaria a continuação do avanço das palafitas que ainda continuam tomando o mar em diversas partes da Enseada, principalmente na chamada Bacia do Uruguai e na de Joanes.

Falando em fazer e não fazer, defendemos uma tese de que os Alagados da Avenida do Porto dos Mastros aconteceram por uma falha no projeto de construção do cais que protege grande parte da península desde a Avenida dos Tainheiros até o Porto da Lenha e está lá até hoje.

Este cais deveria ter se estendido pela Avenida do Porto dos Mastros até proximidades do Largo do Papagaio. Omitiram esta avenida. Não consigo localizar as razões dessa omissão. Certa feita nos veio à cabeça o fato de não existir areia no antigo Porto dos Mastros, só lama, contudo, os Tainheiros também não têm areia e o cais o alcançou. A existência de areia no local onde foi construído o cais era importante para aterro das ruas que se formaram ou se alargaram. Em verde área onde foi construído cais (Tainheiros - Porto da Lenha). Em vermelho, a área do antigo Porto dos Mastros (não foi construído cais)

O antigo Porto dos Mastros não era asfaltado nem calçado. Era todo em barro. Do lado do mar, a rua se inclinava em direção ao mar e às plantações de mangue que a contornavam em toda a sua extensão dos Tainheiros até o Largo do Papagaio. Apesar disto, possuia belas residências com frente para esta avenida e fundo para Rua Visconde de Caravelas. Olhe o detalhe! A Visconde de Caravelas que é hoje a principal avenida da área, era fundo das casas do Porto dos Mastros. Contudo, o fato de não existir um espaço bem determinado da rua que um cais proporcionaria, foi um incentivo para a invasão naquela área. Porquê não invadiram os Tainheiros alí de junto? Havia um cais!Um ordenamento urbano!
Rua dos Alagados



Hoje os Alagados estão consolidados e é irreversível. Não existe mais veraneio em Itapagipe. É um bairro degradado. Ninguém constrói nada. Só reforma. Uma super-população torna os serviços deficientes. Tinha um cinema e este se acabou. Tinha um belo restaurante no Hidroporto dos Tainheiros e também se acabou. O que existe é muita barraca tanto nas suas ruas, quanto nas praias. As casas que tinham a sua frente o mar, como no Bugari e no Poço, hoje têm a vista empanada por essas barracas. Não se enxerga mais o mar, nem a praia. Viva os Alagados! Seu povo não tem culpa. A culpa é das omissões tidas e das decisões equivocadas de nossos dirigentes.






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