Após o Largo da Graça, seguindo em frente, estamos na Av. Euclides da Cunha que se estende em descida até a chamada Baixada do Canela – Rua Padre Feijó। Da mesma forma como fizemos em outras oportunidades, lembramos que Euclides Rodrigues da Cunha nasceu no Rio de Janeiro em 20/11/1866 e morreu em 15/08/1909. Foi escritor, poeta, sociólogo, cronista, militar e engenheiro. Como escritor foi autor de Os Sertões que lhe valeu fama internacional. O livro trata da Guerra de Canudos em 1897 no sertão nordestino
Euclides da Cunha
Note-se, entretanto que o grande escritor não se limitou apenas a escrever as coisas de Os Sertões. Conseguimos pinçar de sua autoria um comentário sobre parte de Salvador. Não resistimos em destacá-lo: “O mar tranqüilo como um lago banha, à direita, o áspero promontório sobre o qual se alevanta o farol da Barra, cingindo-o de um sendal de espumas. Em frente avulta a cidade, derramando-se, compacta, sobre imensa colina, cujos pendores abruptos reveste, cobrindo a estreita cinta do litoral e desdobrando-se, imensa, do Forte da Gamboa a Itapagipe, no fundo da enseada" (Euclides da Cunha)”. Pois bem! foi nesta rua que se ergueu o Estádio Arthur Morais, popularmente conhecido como Estádio da Graça, onde eram disputados os campeonatos oficiais da F.B.D.T, ou seja, Federação Baiana de Desportos Terrestres, incluso aí o futebol. Hoje é Federação Baiana de Futebol, simplesmente!
Inicialmente, os jogos de futebol eram realizados no Rio Vermelho onde existia também um hipódromo. O local era particular e a então Liga pagava uma determinada importância para a realização de seus jogos. Também se faziam jogos no Campo da Pólvora.
Campo da Pólvora – Incrível!
Nesse ínterim, um grupo de abnegados, tendo a frente o eng. Arthur Morais, comprou um terreno na Graça com o objetivo de construir um estádio. Esse terreno pertencia à família Rêgo.Um desses Regos costumava veranear em Itapagipe e era um amante fervoroso do iatismo. Possuía um star. Certa tarde navegando no canal entre a península e a Ilha de Itaparica, naufragou e o iate emborcou com a vela para baixo e casco para cima. Nosso amigo segurou no casco e passou toda aquela tarde, a noite e parte da manhã seguinte, indo e vindo até a boca da Barra à mercê das correntezas. Só foi encontrado na tarde do dia seguinte são e salvo, seguro ao barco. Retornando aos então abnegados do futebol, em pouco tempo, conseguiram angariar recursos no comércio e indústria locais e em 15 de novembro de 1920 o Estádio da Graça era inaugurado com a presença do então governador José Joaquim Seabra. Quando Arthur Morais faleceu, em sua homenagem, o estádio passou a chamar-se Estádio Arthur Morais.Praticamente, todos os assentos eram de madeira na parte da geral, como as arquibancadas de um circo. Na parte mais nobre, fizeram uma arquibancada em dois andares, ainda em madeira e com cobertura de folhas de zinco. Algo bem mais sofisticado! Apesar do material, ao que se sabe, nunca ocorreu nenhum desabamento no velho Campo da Graça. A madeira deveria ser de lei!
O Estádio da Graça localizava-se no espaço entre as Ruas Catarina Paraguaçu e Humberto de Campos. Os edifícios em frente ao estádio, entre eles o Ed. Dourado e a então sede do Café Rio Branco, ambos ainda conservados, serviam de “arquibancada” particular de onde se assistia aos jogos tranquilamente. No segundo, precisava-se subir no telhado. Valia à pena! Um ou dois ingressos à menos!
Placa das ruas
Esquina da Rua Catarina Paraguaçu com a Av। Euclides da Cunha. Atrás fica a Humberto de Campos – Aqui começava o Estádio da Graça. Do lado da Rua Catharina Paraguassú, ficavam as bilheterias de “arquibancadas”. Na frente da Avenida Euclides da Cunha, ficavam as bilheterias da “geral”.
Arquibancada particular – Ed. do Café Rio Branco e o Ed. Dourado respectivamente
O Campo da Graça resistiu bravamente às investidas das construtoras até 1970 quando então seu espaço foi vendido e no local se construíram quatro grandes prédios. A venda foi lamentada, apesar de Salvador já possuir o Estádio da Fonte Nova desde 1950. Não havia como segurar! É compreensível, mas mesmo assim, inventaram muita história envolvendo a Federação, os proprietários do imóvel e companhia. Passou! A Graça, como era conhecido o estádio, foi palco de grandes campeonatos. Àquele tempo, não eram somente Bahia e Vitória que brilhavam. Também o Galicia, o Botafogo e o Ipiranga eram times de massa e faziam sucesso. Nele também se exibiu a Seleção Brasileira em 1934 contra o Bahia, derrotando-o por 8x1, gols de Leônidas(4), Átila(2) e Carvalho Leite(2) para a seleção brasileira. Não se sabe quem fez o gol do Bahia. O futebol daquele tempo e também de hoje é muito pitoresco chegando às raias do folclórico. Conta-se que determinada empresa instalou atrás de uma das balizas uma placa de publicidade em formato redondo do mesmo diâmetro de uma bola de futebol. O anuncio oferecia uma determinada importância em dinheiro ao jogador que acertasse essa placa num chute a gol. A placa ficou virgem durante muitos jogos, apesar de alguns tiros passarem “raspando”. Num determinado jogo, o “half direito" do Bahia, Guiu, aproveitando um cruzamento na área, cabeceou a “redonda”, perdeu o gol, mas acertou em cheio a placa publicitária. A bola ficou presa no buraco. Saiu comemorando!
Grande parte dessa postagem foi obtida do meu outro blog denominado Circuito Barra – De Vila Pereira à Vila Catharino- Publicação em 10/05/2010 – O autor
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