No embalo da postagem sobre o chamado aterro do Porto
realizado no principio do século passado, quando se destruiu meia cidade,
justamente onde pulsava grande parte do seu comércio, outra ação avassaladora
ocorreu na Cidade Alta com vistas a fazer uma avenida que se dizia iria mudar a
“face da terra”, ou seja, iria torná-la moderna e avançada, da mesma forma como
aconteceu no Rio de Janeiro e Paris.
Por que essas duas cidades? Por que nelas teria morado José Joaquim Seabra,
governador da Bahia àquela época e o mesmo presenciou os benefícios das
reformas nas mesmas.
Mas cada caso é um caso. O que serviu para um determinado
lugar, pode não servir para outro.
Ao lado desse duvidoso argumento, dizia-se que a cidade
ficaria mais arejada e se evitaria as constantes epidemias que a assolava em
razão do aglomerado de suas casas e ruas estreitas.
Por que duvidoso? Pela simples razão de que as epidemias que
assolaram Salvador foram provenientes da falta de saneamento básico no seu tecido
urbano.
Nesse sentido, o certo seria primeiro realizar o “básico” e
depois fazer o “festivo”, ou seja, o que chamaria atenção e monopolizaria os
comentários da imprensa.
Mas, desde aqueles tempos, os nossos governantes na sua
grande maioria, pecaram nessa ordem das coisas básicas e imprescindíveis de uma
cidade que se preze – Obras em baixo da terra não se vê e ainda incomoda muita
gente quando se realiza.
Daí se preferiu fazer uma avenida
que seria reta desde o centro da cidade até a Barra, passando por tudo e por
todos, não importasse quem ou o que. Foi
o caso da construção da Avenida 7 de setembro, data da independência do Brasil.
Com o devido respeito para com
essa data, dia em que D.Pedro I às margens do Ipiranga declarou a
independência do Brasil, em verdade, a real e efetiva independência de nossa
Pátria se deu aqui na Bahia em 2 de julho de 1823, desde que até então, os
portugueses estavam assentados em nosso território
Nesse sentido se faz necessário
enaltecer o projeto de lei (PLC 61/2208) da autoria da deputada Alice
Portugal já indicado pelo Plenário do
Senado que o 2 de julho passa a integrar o calendário do Brasil como data
histórica. Ou seja, o Senado considerou que a ação foi um precursor da
independência do Brasil ocorrida em 7 de setembro de 1822. Só falta o aval da
Presidência da República. Diz mais a
vibrante deputada: “o objetivo é o reconhecimento nacional da importância da
data histórica”.
Em conseqüência desse fato, o
nome mais consentâneo para a nossa quase retilínea avenida teria sido chamá-la
de 2 de Julho e acrescente-se que à época de sua construção, ainda se podia
ouvir os passos das tropas baianas pelo Corredor da Vitória, desde que mais
próximo do fato ocorrido.
Dissemos a pouco que a nossa
avenida seria quase retilínea não fosse a firmeza dos frades do Convento de São
Bento. J.J. Seabra queria derrubar o
monumental convento e passar em linha reta com sua avenida. Foi um “Deus nos
acuda” que chegou às portas do Vaticano e nos ouvidos da população. É
inconcebível essa idéia. Curve-se a avenida imediatamente! E J.J. Seabra teve
que construí-la curvando à direita da Ladeira de São Bento. Verdade que havia
um obstáculo na lateral: três grandes prédios existiam no local. Derrube-os,
ordenou Seabra.
-Mas, Excelência, ali mora gente.
São propriedades particulares. Teremos que indenizá-los.
- Indenização, coisa nenhuma.
Bote abaixo o mais rápido possível.
E assim foi feito em pouco tempo
e a avenida prosseguiu no seu caminho agora tortuoso.
Ladeira de São Bento - Inicio da 7 de setembro
Três prédios demolidos à direita para permitir a passagem da avenida
Após isto, logo adiante, os construtores encontraram outro
grande impedimento, bem no meio da rua. Em São Pedro se achava a Igreja do
mesmo nome, extraordinariamente bela e gigantesca. Vai ser a mesma coisa que nem aconteceu com
os frades de São Bento, pensou o governador. Vou ter que desviar de novo a
minha avenida. Mas, com mais parcimônia o governador prometeu fazer outra
igreja mais adiante no Largo da Piedade com planta aprovada pelos padres. E
assim foi feito.
A nova São Pedro na Piedade
Mas a via crucis do governador não pararia por ai. Um pouco
mais a frente topou mais uma vez com outra igreja – a das Mercês. Teve que ser
afastada em parte e reconstruída mais ao lado.
Como era as Mercês
Sendo demolida
E o que se refere às casas dos moradores, o que aconteceu?
Foram todas demolidas sem dó nem piedade e sem nenhuma indenização. Diz-se,
inclusive, que muitos moradores não tendo para onde ir, foram acolhidos por
outras famílias ou tiveram que viver em pensões. Um caos em nome de uma modernidade hoje considerada
duvidosa. Pode-se-ia manter a antiga cidade e desenvolver ainda mais a parte sul que surgia promissora.
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