Em meados de dezembro em postagem sobre as primeiras ladeiras de Salvador, tivemos ocasião de transcrever a opinião de Gabriel Soares, cronista da época - 1587 - sobre as duas primeiras ladeiras de Salvador, feitas do lado sul da cidade, lado este onde hoje está a Praça Castro Alves.
A descrição deixa claro que essas ladeiras são as da Conceição da Praia e a da Preguiça e não a Ladeira da Misericórdia, próxima que fica da hoje Praça Thomé de Souza. Desta última não sai outra ladeira senão a atual Ladeira da Praça. Consubstanciando essa dedução, é preciso ser citado que a Ladeira da Misericórdia não alcança diretamente a Cidade Baixa, dependente que é da Ladeira da Montanha que, na época, não existia. Bastante claro!
Traço e ícone vermelhos referem-se à Ladeira da Misericórdia. Ela se estende até a Ladeira da Montanha. Esta sinalizada com traço azul.
Faltou dizer ainda que as ladeiras de Salvador, como em qualquer outro lugar, formaram-se em razão da necessidade de acesso de um determinado lugar para outro, logo, uma questão absolutamente racional. No caso da Ladeira da Conceição, os padres que construíram a primeira igreja da Conceição da Praia, precisavam de um acesso que ligasse a Cidade Alta com a Baixa, onde se construiria uma igreja a mando do então governador, Thomé de Souza. A Ladeira da Conceição começava nas proximidades da Porta Sul da Cidade (Praça Castro Alves) e alcançava exatamente o local onde a igreja passou a ser construída.
A Ladeira da Preguiça também foi construída dentro de uma determinada finalidade funcional. Por ela eram transportadas as mercadorias procedentes de diversas partes da Baia de Todos os Santos (Cidade Baixa) para abastecer as pessoas que moravam na Cidade Alta.
Os saveiros aportavam na Enseada da Preguiça e os escravos conduziam no lombo as diversas mercadorias trazidas.
Diz-se que o nome “preguiça” surgiu desse serviço. Os moradores das casas em torno da ladeira, em tom de chacota, gritavam: “sobe preguiça”. Ou então, os próprios escravos comentavam entre si que "essa ladeira dá uma preguiça". Seria algo parecido com o que originou o nome de Ladeira da Lenha: “essa ladeira é uma lenha”, comentavam eles.
Com o passar do tempo, no local se construíram depósitos destinados a guardar essas mercadorias quando não pudessem subir à noite, por exemplo, ou uma intempérie que a tornasse escorregadia. Daí para a comercialização das mercadorias, foi um passo natural.
Enquanto isto, as ladeiras que eram verdadeiros caminhos, foram se alargando, por vezes se calçando com pedras “cabeça de nego” e outros materiais, e aí chegaram as carroças com tração animal e a vida foi melhorando, principalmente para os escravos.
Hoje, ao se retratar o local, sente-se essa tendência. A grande maioria das casas comerciais existentes no local é de material de construção. Os moradores da Cidade Alta desciam a ladeira à procura dessas casas, ou desciam o Elevador Lacerda, antes conhecido como Elevador da Conceição. Há referências de que também chamavam-no Elevador do Parafuso. Já falamos sobre isto.
Quando o volume das compras se tornava grande ou pesado, era por essa ladeira ou pela da Conceição que subiam as carroças de tração animal. Não existia outra ligação com a Cidade Alta nas proximidades, senão pelas mesmas. O resto era puro rochedo e mar.
Essa ladeira tinha outra importância: dela partia duas ligações para o extremo sul da cidade. Uma, a hoje Ladeira Visconde de Mauá, com saída no Largo Dois de Julho e a outra pelo Sodré, uma transversal da Rua do Cabeça.
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