A cidade de Salvador foi fundada sobre uma falha geográfica medindo aproximados 75 metros.
Em razão desse fator geográfico, a cidade se formou em dois níveis, chamados Cidade Alta e Cidade Baixa. Em conseqüência, foram surgindo naturalmente os caminhos que, ao longo do tempo, transformar-se-iam em ladeiras, ligando os dois planos da cidade.
Em postagem bem anterior, dissemos que a primeira ladeira assim reconhecida foi a Ladeira da Jequitaia, hoje Ladeira da Água Brusca, ligando o Santo Antônio Além do Carmo (isto é, além da Porta do Carmo) à Praia da Jequitaia.
Ladeira da Água Brusca ou Ladeira da Jequitaia
Dissemos, na oportunidade que, para garantir este acesso, foram construídos dois fortes nas proximidades. Na parte de cima, o Forte do Barbalho e na parte de baixo, o Forte Santo Alberto.
Talvez pareça inusitada a construção de duas fortalezas com este objetivo. Não é! A Cidade Alta, onde começou Salvador, precisava de abastecimento de víveres, de carvão para aquecimento e de tantas outras coisas necessárias a sua sobrevivência. E tudo isto vinha da Cidade Baixa, do Porto da Lenha e outros locais de atracação de embarcações provenientes das diversas localidades da Baia de Todos os Santos. Para os lados da Vila Pereira, a coisa nunca andou muito bem. Até o donatário daquela área foi devorado pelos índios. Por essa razão e outras, a Porta Sul foi uma das últimas a ser aberta em direção a essa região.
A segunda ladeira assim reconhecida foi, sem dúvida alguma, a Ladeira da Conceição, com referências históricas desde 1587. Gabriel Soares, cronista da época escrevia:
“está no meio dessa cidade uma honesta praça em que se correm touros quando convém..., e dessa mesma banda da praça, dos cantos dela, descem dois caminhos em volta para a praia, uma da banda norte que é de serventia da fonte que se diz do Pereira e do desembarque da gente dos navios..."
Na forma de escrever de hoje seria algo mais ou menos assim: “ havia no meio dessa cidade uma praça onde se faziam corridas de touros ocasionalmente, e de um dos cantos dessa praça, desciam dois caminhos, um em direção à praia e outro em direção à Vila Pereira, onde existia uma fonte e se fazia desembarque de pessoas de navios”.
Confluência das duas ladeiras - à direita a Lad. da Conceição da Praia e à esquerda, a Ladeira da Preguiça.
Vista aérea do local acima
As dúvidas surgem, quando o atencioso cronista faz citação de uma “praça honesta”. Poderia ser a hoje Praça Thomé de Souza, como também poderia ser a hoje Praça Castro Alves. Por enquanto é imprecisa a definição, entretanto quando o cronista se refere que “nesta correm touros quando convém”, é lógico deduzir que não seria na praça principal, a Thomé de Souza que essas corridas seriam convenientes "quando convém". É mais ou menos crível que a praça principal fosse preservada. Os touros deveriam destruir tudo ou quase tudo.
À sua esquerda, em direção ao Carmo, muito menos, desde que era uma área onde a população fazia suas casas. Só nos resta a hoje Praça Castro Alves, onde se localizava a porta sul da cidade. A mais afastada, a menos habitada, consequentemente, a mais conveniente para corridas de touros, se é que haviam.
“...dos cantos dela descem dois caminhos em direção à praia e outro em direção à Vila Pereira”.
Não há registro de caminhos que descem da Praça Thomé de Souza. Poder-se-ia registrar a Ladeira da Praça, em direção à Baixa dos Sapateiros, Nazaré, etc. que não é o caso.
O mais viável e lógico é aventar que a tal “praça honesta” não é outra senão a atual Praça Castro Alves. Dela saem duas ladeiras. A da Conceição da Praia que vai dar no lugar onde os padres haveriam de erigir a Basílica da Conceição da Praia e a Ladeira da Preguiça que, bem ao meio, tem uma junção com a Ladeira de Santa Tereza, esta em direção à Vila Pereira.
Por outro lado, há um detalhe importante há considerar. A Ladeira da Misericordia só ia até ao meio do morro. Até hoje é assim. Vejamos uma foto da área:
Àquele tempo, ainda não existia a Ladeira da Montanha. Seus planos de construção começaram em 1873 e somente cinco anos após começaram os trabalhos de sua construção (1878).
De modo que, a hipótese de que a Ladeira da Misericórdia tivesse alguma ligação com a Cidade Baixa através da Ladeira da Montanha, cai por terra, montanha abaixo.
muto em teressante
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