O Mercado
Modelo surgiu diante da necessidade de a cidade possuir um centro de abastecimento
que substituísse as antigas feiras livres mantidas por vendedores ambulantes em
diversas partes da cidade, principalmente na Cidade Baixa, bem como modificar a estrutura de abastecimento até então mantida por dois pequenos mercados
municipais – Santa Bárbara e São João.
Mercado Santa Bárbara
No embalo pela construção de um porto em
substituição aos cais e pontos de atracação das embarcações vindas do Recôncavo
e das Ilhas (Pedroso, Ramos, Gaspar, Santa Bárbara, São João, do Ouro, do
Bulcão e tantos outros) onde se misturava o embarque e desembarque de produtos
de importação e exportação com o comércio de abastecimento da cidade se construiu o primeiro Mercado Modelo. Media 2400 m2 (40x60 metros) e quase todo ele tinha uma
estrutura metálica, circundada de marquises e cobertura de zinco.
Surpreendentemente, o prédio não correspondeu
as expectativas e já em 1915 ele sofria diversas modificações no formato e no
tamanho (foram acrescentados 900m2 com a inclusão de 55 lojas voltadas para as
ruas em torno). O projeto foi do engenheiro italiano Filinto Santoro. Tinha 10
portões e uma aparência monumental para a época. Em certa ocasião foi pintado
de verde e passou a ser chamado de “Tartaruga Verde”, absolutamente
inapropriado pela dessemelhança com este animal.
Ao lado da Alfândega e em frente ao mercado do
lado do mar, foi construído um pequeno porto que funcionava como atracadouro do
mercado. Para auxiliar o desembarque dos produtos que vinham das Ilhas e do
Recôncavo, foi construída uma grande rampa ainda hoje existente.
O Mercado Modelo teve seu fim em 1969 com um
grande e lamentável incêndio. Só restaram suas paredes. Poderia ser
reconstruido, mas interesses outros como, por exemplo, a construção da Avenida
do Contorno, decretou sua extinção total. Anteriormente, o mesmo mercado teve um
incêndio em 1917 e em 1922, este último de grandes proporções o que obrigou os
comerciantes a procurar outros lugares para se instalarem provisoriamente.
O que restou do incêndio em 1969 - Poderia ser reconstruído
O mercado vendia de tudo: farinhas, carne de
sertão, miúdos de porco e aves, peixes e camarões, frutas, verduras. No seu
interior funcionava diversos açougues, bem como restaurantes, lojas de
confeções, bonbonieres, barbearias, casas de jogo, bares de diversos tipos o
que lhe conferia uma certa semelhança aos shoppings atuais. Isso originou um
singular ditado popular na época: "entra-se no Mercado Modelo nu para sair dele comido e vestido”.
Virou também um lugar boêmio frequentado por
diversos artistas, notadamente Jorge Amado, Sógines Costas, Walter da Silveira,
João Cordeiro, Dias Costa e muitos
outros.
Sobre o mercado escreveu Jorge Amado:
O Mercado Modelo é um mundo. Sua população não se confunde com nenhuma
outra, seus interesses são próprios [..] dominados inteiramente pelas crenças dos negros, sua religião, suas
histórias e lendas, suas lutas e suas festas. Aqui São Jorge chama-se Oxóssi e
Senhor do Bonfim Oxolufâ"
"atravessávamos os dias e as noites nos cafés de literatos, mas sobretudo nas feiras, nos mercados, nas festinhas juninas, nas pensões de raparigas, nos saveiros, nas moquecas na Rampa do Mercado, no sarapatel nas Sete Portas, nas casas-de-santo, nos pejis dos orixás [..]"
"Se não no Mercado Modelo, podereis comprar as figas que vos livrarão de todo o mal, [..] os fetiches dos candomblés, as ervas necessárias para os feitiços fortes, as redes magníficas, as cestas trancadas, os panos da costa, ou os búzios para a roupa de santo?"
"atravessávamos os dias e as noites nos cafés de literatos, mas sobretudo nas feiras, nos mercados, nas festinhas juninas, nas pensões de raparigas, nos saveiros, nas moquecas na Rampa do Mercado, no sarapatel nas Sete Portas, nas casas-de-santo, nos pejis dos orixás [..]"
"Se não no Mercado Modelo, podereis comprar as figas que vos livrarão de todo o mal, [..] os fetiches dos candomblés, as ervas necessárias para os feitiços fortes, as redes magníficas, as cestas trancadas, os panos da costa, ou os búzios para a roupa de santo?"
Foi através do prestígio de Jorge Amado que
Maria de São Pedro veio a se estqabelecer no mercado. Antes ela tinha um
pequeno restaurante na Ladeira da Água Brusca.
Maria de São Pedro
Outra grande figura que se notabilizou no antigo Mercado Modelo foi Camafeu de Oxóssi. Ápio Patrocínio da Conceição, foi capoeirista, músico, Obá de Xangô do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, freqüentemente retratado na obra de Jorge Amado.
Camafeu e Jorge Amado
"... na cidade de Salvador a cultura nasce e se afirma em estranhos
lugares, como por exemplo uma barraca de mercado. A barraca de Camafeu é ponto
de reunião, mesa de debates e conservatório de música. Vir à Bahia e não ver
Camafeu é perder o melhor da viagem. Ele é um Obá, um chefe, um mestre.
Visto da Praça Cairu - Bem atrás, a Igreja da Conceição da Praia. À esquerda, Rua da Conceição. No alto, prédios da Cidade Alta.
Mercado Modelo e Elevador Lacerda em fase de conclusão
É uma foto maravilhosa! No primeiro plano, mostra o Mercado Modelo em toda a sua extensão. A focagem foi feita da Rampa. Logo, trata-se da parte de trás do mercado. Atrás o Elevador Lacerda ainda em construção. Como essa parte do elevador foi inaugurada em 1931, consequentemente a foto é desta época. (1930/1931)
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