sábado, 12 de dezembro de 2009

PLANO INCLINADO GONÇALVES

A Cidade de Salvador possui uma topografia íngreme que marcou a história da sua ocupação territorial desde os tempos do Brasil Colônia. À princípio foram feitas as ladeiras. A primeira delas fazia a ligação entre Santo Antônio Além do Carmo e a Praia da Jequitaia, onde se localizou, por algum tempo, a Feira de Água de Meninos. Na época foram construídos os Fortes Santo Alberto e Barbalho, para garantir esse acesso.

Por ela subiam as mercadorias provindas do Porto da Lenha. Praticamente, não havia comunicação entre a Jequitaia e a área onde é hoje o Porto de Salvador.

Posteriormente, se fez a primeira ladeira nessa parte da cidade. A Ladeira da Conceição ligando a Porta Sul da Cidade à parte baixa, onde se construía a Igreja da Conceição da Praia. Não era, entretanto, o lugar ideal para o transporte de mercadorias para a Cidade Alta. Ficava um pouco distante do “centro”, localizado onde é hoje a Praça Municipal com extensão para a Rua da Misericórdia, Praça da Sé e Carmo, onde existia a porta norte com este nome.

Nesta área a cidade se estruturava com novos prédios, notadamente conventos e igrejas. No local, entretanto, não existia nenhuma ladeira. A Ladeira da Montanha foi construída muitos anos depois. Já se desenhava, entretanto, a Ladeira da Misericórdia, mas de pouco alcance. Não alcançava a parte baixa da cidade.

Mas era necessário levar materiais lá para cima. Foi ai que os padres jesuítas que começavam a construir o chamado Colégio dos Jesuítas, montaram um guindaste conhecido na época como “Guindaste dos Padres”. Decorria o Século XVII. Não era inclinado. Somente em 1889 foi transformado em plano inclinado.

Esses guindastes usavam alavancas com cabos. Depois foram eletrificados. Vejamos algumas descrições de cronistas da época:

Em 1610 um deles, chamado Pirare de Leval, descreveu esses guindastes como sendo “uma certa máquina destinada ao transporte de cargas com dois carrinhos sobre trilhos a trafegar simultaneamente”.

Poucos anos depois, outro de nome Francisco Coreal descreveu: “espécie de guindaste com uma boa talha onde havia polias e cordas subindo à medida que a outra descia”.

Isto funcionou até o ano de 1888. Neste ano, uma empresa inglesa sem experiência no setor de funiculares - sistema de transporte cuja tração é proporcionada por cabos, utilizados em locais onde há grandes diferenças de nível- recebia uma encomenda dos primeiros carros constando de uma plataforma plana destinada a transportar animais de carga. Era uma plataforma aberta. Mais tarde foi encomendada uma cabina fechada para transporte exclusivo de passageiros. Na época, chamava-se “chariot” (carro).

Nada funcionou! Dinheiro jogado fora. Teve até acidentes. Foi fechado durante muito tempo.

Ai se fez nova encomenda, desta feita a uma empresa alemã de nome Maschinenfabrik Esslingen, perto de Stuttgard. Foi fornecido um completo sistema funicular, incluindo trilhos, cremalheira, carros, propulsão a vapor e cabos. A construção das estações superior e inferior ficou a cargo da Prefeitura. O nome original da linha foi Dona Izabel, uma princesa real, mas como o Brasil a esse tempo já era uma República, o nome foi considerado impróprio e a linha recebeu o nome de um diretor da empresa, Engenheiro Manuel Francisco Gonçalves.

Esse fato gerou uma confusão de nomes que até hoje perdura. Inicialmente, a Prefeitura não fez a comunicação aos fabricantes e em determinado livro de autoria de um engenheiro alemão chamado Hefti, foi citado que o elevador chamava-se Izabel.

Isso ocasionou citações históricas que teriam existido dois elevadores inclinados: o Izabel e o Gonçalves, o que não coaduna com a verdade

Outra confusão refere-se ao próprio nome Gonçalves. Certa feita, alguém chamou o elevador de Gonçalves Dias. Ora! Gonçalves Dias foi um grande poeta maranhense, autor desses versos maravilhosos:

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida
Nossa vida mais amores"

Nada haver, entretanto com o elevador. Fica o registro, esperamos que definitivo.

Em 1931 mais uma reforma foi feita com novos carros do tipo plataforma da empresa Brill na Filadelfia/EUA, usando pólos de trole com linha elétrica. No mesmo tempo a inclinação da linha foi alterada para adaptar as plataformas nos estações aos novos carros, as escadarias das plataformas das estações foram cobertas e plataformas planas foram introduzidas. Novos trilhos do gabarito estandarte - 1435 mm - foram instalados, e a cremalheira foi removida.

Ao longo dos anos, passou por períodos de fechamento até que foi revitalizado em 1998.
 
  Plano Inclinado Gonçalves
Tem outro nome, mas o povo só chama de Rua do Plano


2 comentários:

  1. Estive recentemente em Salvador, setembro/2010 e fiquei entristecido por ver que o Plano Inclinado está tão abandonado e em deprimente estado de conservação. Aliás, posso assegurar inclusive que, até bem pouco tempo (2006) João Henrique sequer sabia aonde ficava tal sistema de ligação entre os dois níveis da cidade. Acredite, ele simplesmente ignorava aonde ficava o Plano Inclinado e talvez ainda não o tenha visitado, porisso tanto descaso com um dos únicos sistemas do gênero em funcionamento na Brasil.

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  2. É uma pena ver o plano desativado em 2011 ! Belo cartão postal da Cidade ! Parece até que a cidade não tem Secretário de turismo ou mesmo prefeito ! Triste !

    Baiano indignado !

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