terça-feira, 10 de novembro de 2009

MARINAS DA RIBEIRA - POR SÉRGIO NETO

De remo e natação entendemos alguma coisa. Ao fazer as postagens sobre estes esportes em Itapagipe, as palavras brotaram fáceis porque havia conhecimento do assunto. Mas, quando chegou a hora de falar sobre marinas, iates e escunas da vida, não havia como concatenar as idéias.
 
Recorremos a um grande amigo, um Lobo do Mar, Sérgio Netto. A postagem de hoje é de sua autoria. Este blog sente-se honrado em publicá-la.

"Até a década de 60 do século passado, não existiam barcos de fibra laminada com resina no Brasil. A Enseada dos Tainheiros, na Ribeira, dada às condições geográficas favoráveis, de porto protegido com meso-maré de 2 a 3 metros de amplitude, herdeira de uma tradição lusitana de construção naval, concentrava os estaleiros artesanais que faziam barcos de madeira, principalmente saveiros, um tipo de embarcação característica da Bahia, em vias de tombamento como patrimônio cultural.


Iates e catamarães ancorados na Ribeira

Na década de 1960 a população mundial e a brasileira dobraram em relação a 1930, e o impacto ambiental criado com a explosão demográfica passou a preocupar a Sociedade. Programas de controle de natalidade passaram a ser instituídos, canoas que exigem um tronco inteiro para serem escavados e saveiros de madeira, passaram a ter dificuldade com a matéria prima para sua construção. A garotada da Cidade Baixa, que matava passarinho com badogue teve que mudar suas brincadeiras para preservar a fauna. Houve uma migração do campo e as áreas urbanas se agigantaram. A palafita dos Alagados chegou a abrigar 100 mil residentes.


Marina I


Marina II

Na década de 60 chegou à Ribeira um navegante uruguaio solitário, que vagava pelo mundo e achou que a Bahia de Todos os Santos era a área mais aprazível do planeta para se navegar de barco à vela. Arrumou um emprego na florescente indústria do petróleo, casou-se com uma bahiana, e começou a adaptar um saveiro: levantou as bordas, mudou a mastreação para escuna (dois mastros, o de ré maior que o de vante), instalou motor, e transformou o interior em um barco habitável, com camarotes, sanitário e cozinha. Na época haviam cerca de 200 saveiros na Bahia, e a moda pegou. Agora em 2009 ainda existem 19 saveiros tradicionais, com vela de içar, fazendo o mesmo roteiro que no Sec.XIX, mas as 'escunas' motorizadas foram incorporadas à industria do turismo.


Marina III

No final da década de 60 a Bahia começava a industrializar-se, e onde hoje é o Saveiro Clube passou a funcionar um grande depósito da Cervejaria Carlsberg, uma industria escandinava aqui recém instalada. O representante desta industria era o Cônsul da Dinamarca na Bahia, que encomendou uma escuna e transformou o depósito da cervejaria num clube náutico, ‘para agregar as pessoas que gostam do mar’ . Neste ínterim o uruguaio petroleiro importou o projeto de um veleiro de fibra de vidro e junto com um bahiano saveirista e um português construíram três veleiros. Para abrigar estes veleiros foi fundado o Angra dos Veleiros, hoje um clube voltado para catamarans, uma concepção mais moderna de veleiro, com dois cascos. O uruguaio morreu na década de 70, e para homenagear sua memória o Angra dos Veleiros promove anualmente uma regata chamada Regata Battle Brancaccio.

No início da década de 70 começou uma industria náutica no Brasil, e aqui na Bahia um espanhol montou um estaleiro no lado leste da Enseada dos Tainheiros para fabricar catamarans, os hoje tradicionais Aratu 30. O numero de barcos na Ribeira cresceu tanto que criou uma disputa do espaço com os clubes de remo, a qual foi resolvida com um acordo de uso da água, os competidores do remo teriam a raia liberada nos dias de competição. Ainda hoje é assim, mas desde o Saveiro Clube até a Igreja da Penha toda a Ribeira do Sec.XXI funciona como atracadouro de barcos de recreio".

Muito bom, Sérgio. Parabéns!





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