segunda-feira, 9 de novembro de 2009

PESCARIAS DE ITAPAGIPE

Uma das atividades mais gostosas do veraneio de Itapagipe era a pesca de todos os tipos e formas. Todo veranista era um pescador amador. Nem que fosse um papa-fumo, ele teria que pescar. Não havia a intenção do lucro ou da poupança. Não concorriam com os profissionais. Esses tinham a colocação do seu produto garantida todos os dias e por um bom preço. Na época do veraneio – dezembro a fevereiro – a tabela de preços aumentava. Sinal que a produção estava equilibrada com o consumo ou às vezes aquela era inferior a este.
 
Pescava-se por divertimento. Por esporte, diríamos hoje. Era extraordinariamente cativante!

A de peixe, por exemplo, era precedida por uma complexa preparação. Meses antes, o veranista ia até Itapagipe e junto com um pescador fazia seu pesqueiro.

Tratava-se de juntar ferro velho, gravetos de mangue e tudo o mais que não prestasse num só conjunto que, amarrado à grandes pedras, eram afundados no canal entre Itapagipe e a Ilha de Itaparica e marcava-se o local.
 
Tomavam-se em terra duas referências, superpostas uma com a outra. Em seguida, em outra direção, procuravam-se duas novas referências, num ângulo aproximado de 45º, igualmente superpostas. Estava formado um ângulo imaginário, cujo vértice era o ponto onde era mergulhado o pesqueiro, isto é, a armação de gravetos e afins.
 
Três a quatro meses depois, ao tempo do veraneio, era só descer a linha de fundo e pescar lindos vermelhos, um dos melhores peixes para uma muqueca. Por sinal, os vermelhos pertencem à família dos Carassius auratus.
Marcação de pesqueiro
 
Os sirís eram pescados tanto no cais, quando a maré estava cheia ou em pleno mar, quando a maré estivesse vazia. No primeiro caso, naquele tempo, o nível do mar chegava há 3 metros de altura do cais. Com gererés sem cabo, apenas o aro feito de arame grosso e a rede, uma isca e um barbante, os mesmos eram arremessados a três ou quatro metros de distância do cais. Aguardava-se um pouco e puxava-se energicamente. Geralmente vinham de dois a três ao mesmo tempo.
 
Os papa-fumos tinham uma pesca fácil. Eram necessárias apenas uma colher, uma lata e uma boa maré vazia. Era só cavar na superfície da areia e lá estavam os pequenos moluscos na sua casa de conchas. Nunca acabam! A proliferação desses animais é impressionante. Você vê todos os dias milhares de marisqueiros ali pelos lados de Plataforma, seja de manhã, à tarde ou à noite, dependendo da hora da maré vazante, catando-os há dezenas de anos e eles estão sempre lá.

Marisqueiros
 
Os camarões eram pescados com rede de malha fina, arrastada por duas varas, uma em cada lateral. A parte superior da rede flutuava graças a uma série de bóias colocadas na corda superior que a sustentava na vertical; na parte inferior uma segunda corda toda chumbada a cada 10 centímetros por aí, o que fazia com que a rede se arrastasse pelo fundo do mar, carregando o que ali existisse, principalmente camarões.
 
Em cada uma das pontas, um pau resistente onde se amarravam as extremidades das cordas superior e inferior que sustentavam a rede. Esses paus eram posicionados numa inclinação de 70º aproximados com a parte inferior à frente onde se encontrava a extremidade da chumbada e a parte superior apoiada nos ombros. Arrastava-se esta rede por cerca de 100 metros e fazia-se o cerco.

Camarões

Siri
 
 
 
Baiacu - Desse ninguém gostava - Inclusive é venenoso
 
Por fim as nossas agulhas. Essa era uma pesca super interessante. Vinha uma pessoa na direção da canoa, sempre à remo. Uma segunda se posicionava em pé à frente segurando um fifó aceso e uma terceira pessoa, ao meio da canoa, portando um gereré de cabo comprido. Abafavam-se as agulhas que se aproximavam da canoa, atraídas que eram pela luminosidade do fifó.
 


Pescaria de agulhas

 

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